Por Carlos Sena (*)
Com a idade amadurecida, existir se torna mais ameno. Nada de comparações com os jovens, pois prefiro compreender a vida pela beleza que toda idade tem. A maturidade feliz é muito boa de ser curtida. Creio que um coroa feliz ou uma mulher madura igualmente feliz, podem sentir isto sem dificuldade. Quando a gente passa dos quarenta anos começa a desabrochar em nós certa tranquilidade acerca de coisas, pessoas e acontecimentos que em outros momentos da vida nos causaram frisson. Certa ansiedade como se a gente quisesse dominar o mundo ou ser onipresente dentro dele.
O tempo passa e a gente vê o óbvio, ou seja, que o tempo passa. Essa certeza nos deixa, de certa forma, mais de pé no chão com a vida – diferente dos tempos em que a gente se imaginava senhor do tempo e da vida. Não ser senhor do tempo nem da vida é acima de tudo ser o próprio tempo e a própria vida em sua trajetória factual. Dito diferente, maduros, nós homens e mulheres conseguimos viver sem o incomodo do futuro. O futuro passa a ser uma janela que a gente abre quando quiser para dela ver o horizonte do sonho e dele fazer poesia. Fechada a janela, a vida se retoma em si preta e branca, aguardando que usemos as cores desejadas se assim for o nosso desejo.
A maturidade, quando se alcança enquanto processo, acontece sem atrapalhos. Se toda idade tem seu encanto, todo encanto traz novos encontros que fazem da vida uma permanente aventura: encontros de amor, de afeto, de lugares. Encantos de se sentir feliz por nada, pelo simples fato de estar vivo. Encanto pelos reencontros do passado: festas, sonhos, pessoas, que um dia nos foram singulares, mas que hoje nos chegam plurais para a nossa tergiversação. A maturidade nos dá a impressão de que já vimos tudo e vivemos tudo. Engano. Vive-se tudo e vê-se tudo quando nada mais restar de sobrenatural para colocar nos acontecimentos. Os olhos da vida tem que ser naturais, exíguos de paixões, ou com elas, mas no alcance das mãos. A Maturidade nos permite às escolhas, às seletividades. Arrumar alguém pra casar não se torna fácil. Jamais pela falta de capacidade de amar, mas porque o nível de exigência aumenta e a seletividade vem como consequência, inclusive de nossa comodidade. Haverá sempre uma tendência para que relações com gente bem mais nova se estabeleça, mas boa parte das pessoas maduras não se interessa porque não querem dividir seus espaços com mais ninguém, principalmente com gente jovem. Particularmente acho isto um detalhe sem muita importância, posto que a vida se vive em cada dia por dia – no futuro estaremos todos mortos.
Certo que há momentos de crise existencial. Em toda idade existe, pois afinal Deus não nos deu a capacidade de existir acima do bem e do mal. Se assim fosse, certamente o mundo não existiria. O importante é que todos alcançarão maturidade se não se despedirem da vida precocemente. Cada fase do existir se me parece com a lógica da escola e da faculdade. Se, maduros, não nos sentirmos que fomos aprovados no vestibular da vida, êpa, êpa, êpa... Certamente teremos uma vida eivada a remédios, mau humor, cara feia, hipocondria e alhures.
Prefiro acreditar na plenitude que a maturidade concede. Nas suas principais concessões, o amor está em primeiro lugar. Não o amor de homem com mulher, mas também se for o caso. Falo do amor genérico em que nosso olhar não se perca nas esquinas do egoísmos e nos becos da desagregação interior.
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(*) Publicado no Recanto de Letras em 18/03/2012
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