Por Carlos Sena (*)
Diante do politicamente correto tão em moda, parece que todo mundo adora dizer que não tem preconceito. Quando tiver oportunidade faça o seguinte teste rápido:
1 - quando um amigo seu lhe apresentar a esposa desse jeito “Fulano esta é minha mulher”, pergunte a mulher: “esse é seu homem”? Você verá como ela fica sem saber o que responder e ele sem entender o motivo daquele desrespeito. Aconteceu comigo, mas eu adorei ter presenciado essa cena falso-moralista no melhor estilo dos novos ricos que assolam este país. Grosso modo fica claro que homem pode ter mulher, mas mulher casada que tiver homem é puta, pois mulher que tem homem é rapariga, messalina, rameira e alhures.
2 - Outro teste rápido que você pode não fazer, mas presenciar: veja se você tem algum amigo que sempre aparece com o primo a tiracolo. Observe se quando ele atende ao telefone não se refere a alguém como “figura”. Observe ainda se ele não costuma dizer que vai sair com um pessoal. Ele também costuma se ausentar para distante quando determinada ligação de celular acontece. O resultado do teste é o seguinte e com pouca chance de erro: seu amigo é “do babado” ou como se diz no popular “vive no armário”...
3 - Mais um teste rápido: você tem um amigo ou de alguém teve noticia que não se cansa de contar vantagem acerca das mulheres. Quando passa uma logo ele diz que é gostosa, que faria tudo com ela na cama. Se alguém disser que ela é sapatão, logo ele defende dizendo que sapatão é mulher mal cantada e com ele ela, certamente, mudaria de “opção”. Quando sai com uma garota e os amigos ficam sabendo, no dia seguinte já está ligando dizendo o que fez e o que fez para poder fazer alguma coisa no motel. É o típico homem cheio de pabulagem, ma que a rigor tudo caminha para ser um cara frio, de pau pequeno e cheio de medo que alguém duvide da sua masculinidade. Esse teste é meio genérico, tipo dois em um: serve para o que dissemos, mas também para uma esconder uma bichona enrustida, “no armário”...
Esses três testes rápidos (poderia citar mais) servem para a gente fazer o link com os preconceitos que pululam no nosso cotidiano tão cheio de “POLITICAMENTE CORRETO”. Esses aspectos denotam um pouco do preconceito às avessas, ou seja: a) uma bicha que tem preconceito de ser bicha; b) um homem que tem preconceito com suas limitações sexuais além de viver em dúvida acerca delas; c) outros que, igualmente não aceitam suas dificuldades afetivo-sociais canalizadas para a pabulagem como se a autoestima melhorasse diante de suas oralidades. Afora os preconceitos das sexualidades, outros igualmente se delineiam com altos poderes de destruição dos indivíduos por dentro. Todos carreados pelo fato de alguém ser negro, ser gay, ser mulher, ser velho, ser judeu, ser índio, ser deficiente físico, etc.
Outros testes rápidos do nosso cotidiano:
a) Quando uma mulher diz que não gosta de ser examinada por uma ginecologista (mulher) não estaria aí, implícito, um preconceito?
b) Quando um homem diz que não faz o "toque" num exame de próstata não será porque os médicos dessa especialidade são, no geral, homens? (Sou da área de saúde e confesso que não conheço uma médica especialista em proctologia).
c) A grande maioria dos negros prefere se relacionar afetivamente com brancos. E aí?
Coisas de uma sociedade que se rejubila de ser moderna, de pertencer a geração que faz parte da era do conhecimento... Me engana que eu gosto. Tudo contra o preconceito. Invente seu teste rápido.
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(*) Publicado no Recanto de Letras em 15/03/2012. A imagem não faz parte do artigo original do Carlos Sena.
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