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quarta-feira, 14 de março de 2012

Porque me ufano do meu país




Por Zezinho de Caetés

Semana passada eu li, no Blog do Augusto Nunes, um texto atribuído a Mauro Pereira o qual guardei comigo, cheio de boas intenções. Diante do que se passa no Brasil, a ironia virou, e com razão, o primeiro método de conduta intelectual, para que nos mantenhamos vivos. E logo, ironicamente, mesmo não estando nem perto do Natal, mas, já pensando que neste país hoje todo dia é dia de Natal, eu decidi fazer uma brincadeira de pastoril com o texto citado.

Embora, no presente caso, não haverá disputas entre os dois cordões, e sim uma cooperação amigável e produtiva. Eu serei o cordão encarnado e o Mauro Pessoa o cordão azul. E podem votar em quem quiser pois o cordão que ganhar passará a mensagem que eu quero. Espero que seja empate. Eu dou ao cordão azul, como hóspede o direito de começar suas cantigas.

Depois de assistir aos principais telejornais, todos patrocinados por alguma estatal e veiculando nos intervalos de generosas propagandas de algum dos 40 ministérios, agradeci aos céus por não ter nascido europeu: de acordo com os informativos televisivos, trata-se do continente mais subdesenvolvido do planeta. Reportagens extensas e minuciosas me permitiram conhecer mais a fundo o atraso cultural, a instabilidade política e a miséria social que vêm flagelando alemães, ingleses, franceses, dinamarqueses, holandeses ao longo de suas histórias. Mais uma vez minha presidente me encheu de orgulho ao dar uma descompostura naqueles governantes medíocres, incompetentes e corruptos, e ensinar-lhes o que fazer com seus dólares.

E eu vi a presidenta fingindo que falava com a Ângela Merkel, tentando passar a imagem de que as duas tem o mesmo nível intelectual e a mesma bagagem de conhecimentos. Na certa a Dilma dizia: “The book is on the table!” e a premier alemã dizia que estava vendo o “book”, mas, o tsunami monetário o levou. E riam às bandeiras despregadas, como se estivessem entendendo. Naquele meio, a diplomacia e a educação da Merkel deixavam nossa presidente à vontade para dizer as bobagens que quisesse sem se importar com algum repórter inoportuno que tentasse decifrar de verdade o que elas estavam realmente conversando. Da parte de Dilma eu sei que de Economia não era, pois a última vez que ela viu a matéria foi num curso que fez com o Mercadante em São Paulo. E vocês já leram a respeito da tese que ele produziu?

Tive a oportunidade, também, de avaliar como sou privilegiado por residir num país que pratica uma das políticas de distribuição de renda mais avançadas do mundo. Responsável direta pela erradicação da pobreza, foi concebida sob a ótica revolucionária do capitalismo de resultado, principalmente o eleitoral. Descobri que vivo em uma nação cuja população está condenada a ser rica: a pobreza caminha celeremente para ganhar status de contravenção penal. Um único senão fica por conta de meia dúzia de miseráveis que agora deu para querer andar de avião, transformando os saguões dos moderníssimos aeroportos nacionais num inferno.

Hoje se chegou ao ponto, no Brasil, de ser ofensiva a pergunta: “Você já andou de avião?” Pois num país onde só existe a classe média isto não é pergunta que se faça. Todos já voaram sem asas, com se tivessem tomado RedBull. A pergunta que cabe no momento é se a família comeu 3 vezes por dia, que foi um promessa do Lula desde de 2002, e ainda hoje, temos milhões que não o fazem, mas, não se preocupam com isto, pois tem todos uma TV, um geladeira vazia e um carro para ir para o aeroporto, com o Bolsa Carro que foi dada para não se enfrentar a crise de 1988. Aproveitamos o tsunami monetário consumindo produtos chinêses para o PT ganhar a eleição. Queira Deus que a onda do tsunami não volte e nos deixe com os pés no chão.

O desenvolvimento espetacular do sistema educacional garantiu a mais de 20% dos adolescentes a alternativa inovadora de concluir o ensino fundamental sem sequer ter frequentado salas de aula, além de criar um método particular no ensino médio que estimula o potencial intelectual do aluno obrigando-o a percorrer os limites da compreensão para sair ileso das provas do ENEM. Sou um cidadão despreocupado e protegido e os investimentos pesados na segurança pública, confesso, até me fazem sentir saudade dos tempos em que religiosamente me prostrava em frente à televisão para assistir aos brasís urgentes.

O Ministro da Educação que nos proporcionou este avanço na setor, o Fernando Haddad, mais conhecido como Mr. ENEM, agora, o Lula espera ver prefeito no Estado mais rico de nossa federação,  em sua capital, São Paulo. Partindo de 3% de popularidade, todos os paulistas esperam ansiosos para serem incluídos no olho do furacão educacional pelo qual já passam todos os nordestinos. Aqui entre nós o nível de educação chegou a tal patamar que agora não se fiscaliza mais se as crianças filhas do Bolsa Família, estão indo para escola. Para que? Os pais já tiveram uma educação de tanta qualidade que tudo já vem no DNA. É a tecnologia petista para a educação. É o Brasil dando lições ao mundo.

Coisas do passado. A excelência no serviço de saúde oferecido pelo governo federal atingiu um estágio de excelência tão avançado que nossas autoridades são as primeiras a dar o exemplo. Quando necessitam de atendimento médico não hesitam em usar o Sistema Sírio-Libanês de Saúde. Estamos próximos da perfeição! Porém, inquestionavelmente é no plano político e na seara administrativa que percebo o maior de todos os avanços.

Este, a saúde, é outro tópico que só nos faz orgulhar da terra em que nascemos. Vejam que o meu conterrâneo Lula, que saiu puxando a “Baleia” lá de Caetés, chegou até a aconselhar ao presidente americano que adotasse o SUS. O fato dele não ter querido ir para o Sistema Único, foi uma mera opção de amor que nutrem todos os políticos pelo Sistema Sírio-Libanês. Mesmo assim ele, quando veio a Pernambuco e teve um “piripaque”, por excesso de fumo, só não ficou na primeira UPA que encontrou porque estava desmaiado e o governado o levou para o Hospital Português, o sósia pernambucano do paulista Sírio-Libanês. O lema de todo brasileiro que tem ambição política é: “Nasça em qualquer lugar, mas, morra no Sírio-Libanês!”.   

O Congresso Nacional é uma beleza! Constituído por homens públicos de integridade moral acima de qualquer suspeita, meus deputados e senadores são notáveis. Sobressaem-se pelo respeito devotado aos cidadãos quando nomeiam para suas Comissões os melhores quadros da Casa. A de Justiça, por exemplo, é comandada por um réu em processo de corrupção, e a da Educação tem como destaque um parlamentar que não se acovardou ante a dificuldade extrema imposta por uma oposição invejosa, utilizando menos que hora e meia para desenhar o seu nome diante de um juiz eleitoral. Há momentos em que o ufanismo se exacerba e não consigo me conter, reiterando minha gratidão por ter nascido no meu país!

Realmente, agora o cordão azul “botou prá quebrar”, quando fala da lisura dos nossas deputados e senadores. Até um que eu admiro pelas suas ideias liberais, chegou a telefonar em menos de um ano, 398 vezes para um meliante preso por corrupção ativa e passiva. Vocês imaginam aqueles que não são tão liberais assim e que acham que o Estado deve ser o provedor da felicidade eterna. Recentemente, porque a presidenta queria nomear um charlatão para uma comissão importante, pois iria cuidar do grande projeto da Dilma que era a implantação do Trem Bala, os senadores se rebelaram e não aprovaram seu nome para a tal comissão. Mas, não se iludam nem se preocupem, pois, não haverá nada como poderia haver em “paizecos” do ex-primeiro mundo, como, por exemplo, cair um governo e entrar um melhor. Aqui, o pirulito da Dilma já está pronto e tudo vai ser como antes, em paz e em harmonia como deve ser com uma tal de base aliada.

O Executivo é o meu maior orgulho. Só presidentes como os meus seriam tão competentes para produzirem, sozinhos, quase duas dezenas de ministros corruptos em pouco mais de nove anos. E escaparem ilesos! O desempenho dos ministros é assombroso e o índice de aprovação apurado junto a fornecedores e ONGs companheiras sempre os premia com notas altíssimas. Uns ganham as de 50; outros, as de 100. É virtude demais. Posso estar errado, mas sou capaz de apostar que no relacionamento internacional o governo do meu país é reconhecidamente o único entre todas as nações que só funciona quando leva um pé no traseiro.

E agora vai ficar melhor ainda, pois o PDT do nosso querido e lembrado Carlos Lupi  Dilma Eu Te Amo, conseguiu emplacar o Brizola Neto em seu lugar no Ministério do Trabalho. Dizem as más línguas que a única coisa de positivo que ele fez até agora na vida nacional foi administrar um blog. E, se isto é verdade, já ultrapassa minhas expectativas, pois eu pensava que ele era apenas um neto do Brizola.

Sou duplamente abençoado, pois, além de ter nascido no meu país, habito o continente mais desenvolvido entre todos a América. Desconsiderando-se o Norte, que míngua à própria sorte, sou bafejado pela fortuna por viver na outra ponta continental e compartilhar de uma vizinhança da mais alta qualidade. Mais ao centro, percebe-se uma explosão de democracia, e é concedido aos oposicionistas o direito de morrerem de fome, sem nenhuma interferência governamental. Ao Sul, estende-se uma malha invisível que dá guarida a democratas legendários e inquestionáveis. Kirchner, a Evita de Nestor; Morales, A Grife do Índio; Lupo, O Pai de Todos; Chavez, O Tio Sam de Boina e Correa, O Peito de Aço. É democracia demais. E futuro de menos.

Este comportamento democrático de nossos dirigentes latino-americanos, tão introjetados em quase todos nossos presidentes desde priscas eras, pode ser resumido nas palavras do Mario Vargas Llosa: “Acredita que somos pobres porque eles são ricos e vice-versa, que a história é um bem-sucedida conspiração dos maus contra os bons, onde aqueles sempre ganham e nós sempre perdemos (em todos os casos, está entre as pobres vítimas e os bons perdedores), não se constrange em navegar no espaço cibernético, sentir-se on line (em perceber a contradição) abominar o consumismo. Quando fala de cultura, ergue a seguinte bandeira: “O que sei, aprendi na vida, não em livros; por isso, minha cultura não é livresca, mas vital”. Quem é ele? É o idiota latino-americano.”

Como desgraça pouca é bobagem, de tempos em tempos todos se juntam à Dona da Pensão em algum ponto dessa América destroçada para se autoproclamarem heróis nacionais, dissertarem sobre as delícias do socialismo capitalizado e ofender os americanos do norte. Entre um descuido e outro, até comentam a miséria extrema que devasta a América. A América que eles devastaram. Éter na mente, latino-americano!

E quando pensávamos que isto amainaria no século XXI, surgem cada vez mais idiotas, gerados pela milésima crise do sistema capitalista, e dizem, agora venceremos os imperialista yankes que se debatem para sair de sua crise, recebendo milhões de brasileiro ex-pobres para fazerem compras em Miami e se divertirem na Disneylândia. E não ouviram uma economista inglesa (Joan Robinson) quando ela alertava: “Só há uma coisa pior do que ser explorado pelo imperialismo; é não ser por ele explorado”.

Quando termina o último dos quatro telejornais vai-se junto a sensação de êxtase que deles emana e fica apenas a certeza de que esse é o meu país. Mas, decorrente dessa convicção, sei, também, que esse jamais será o meu governo!

E nem o meu.

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