Por Zé Carlos
Sou eu sempre que anuncio novas enquetes aqui no blog e sirvo de relator da proclamação de seus resultados. Se pesquisarem o passado desta AGD, verão muitos textos sobre anonimato e enquetes, e muitos de minha autoria.
Eu já disse e repito aqui que não faço uso da instituição do anonimato além de usar o pseudônimo não registrado de Zé Carlos, mas, defendo, talvez não até a morte o direito de outrem fazê-los. Mas este texto não trata diretamente deste tema, e sim de enquetes e suas possibilidades de burla, e os assuntos estão bem relacionados. Pois o “burlão”, quase sempre é um anônimo, tal qual os eleitores das eleições reais, pelo segredo do voto. Este tema foi tratado principalmente aqui, embora apareça outras vezes. (por exemplo, aqui).
Hoje, mais uma vez, e diante de um resultado parcial de nossa enquete presente, que para alguns amigos está ocorrendo o que chamei um dia de distorção mercadológica no uso dos “votadores de enquetes”, eu volto ao tema do que realmente significam as enquetes para mim.
Relendo a mim mesmo, o que não gosto muito de fazer, embora seja necessário na atividade da escrita para não ficarmos nos repetindo, por nossas falhas neuronais, eu encontrei algo que introduzirei abaixo, fingindo que estou escrevendo tudo hoje, pois a situação não mudou e nem mudou muito minha opinião. Além disto sigo a opinião de um professor meu que dizia não ser o autoplágio um pecado mortal.
Diante dos comentários de que as enquetes podem (e são muitas vezes) serem burladas ou desvirtuadas em seu resultado, vamos entrar no mundo da imaginação e tentar sair dele com uma ação no mundo real.
Vamos começar imaginando uma situação extrema, na qual, os computadores não tivessem limite de votos. Isto é, um indivíduo, caso quisesse, pudesse sentar 24 horas por dia na frente de um computador e votar à vontade, quantas vezes quisesse. Ou exagerando mais ainda, ele pudesse introduzir um programa em sua máquina que votasse por ele. E, ainda mais, neste reino da fantasia das enquetes, ele fosse o único a ter acesso a este tipo de procedimento. Assim sendo, dificilmente seu candidato teria menos votos numa enquete. Sendo ele um ateu, até Deus perderia feio.
É óbvio que enquetes onde pudesse isto existir estariam fadadas ao descrédito e ao fracasso. E as consequências seriam trágicas para nós blogueiros, que costumamos alavancar nossa audiência com elas, dando-lhes o máxima de rigor informativo possível. Esta situação é tratada como um monopólio e exploração da informação e do conhecimento. Isto não e impossível de ocorrer nem nas enquetes e nem na vida. O problema aqui é que este monopólio é usado de forma que se diz assimétrica, pois todos os eleitores de uma enquete deveriam tem a mesma capacidade de voto.
Vamos ao outro extremo da imaginação e pensar que a informação sobre votar multiplamente fosse disseminada por toda a população votante. Todos teriam os mesmos meios para votar e liberdade para votar em quem quisesse e quantas vezes quisesse. Aí Deus teria uma chance, se o Diabo fosse seu opositor na enquete. Se os partidários de cada um tivessem os mesmos meios e votasse cada um o máximo possível, voltaríamos ao velho mundo ideal de um computador um voto, e quem tivesse mais partidários venceria a enquete, se todos ficassem com a bunda colada no assento na frente do computador pelo mesmo tempo.
No meio termo, ou em cima do muro, como é sempre mais realista, temos as situações híbridas onde alguns detêm mais informação e conhecimento do que o outro, e o comportamento dos votantes é imprevisível. Não se pode afirmar que, porque eu hoje acredito que se pode votar mais vezes, que eu irei fazê-lo. E lá vem outra vez um aspecto que envolve todas nossas ações em sociedade e que deve ser prezado para não voltarmos à barbárie: o aspecto ético dos nossos atos.
Numa linguagem tortuosa e simples como deve ser a linguagem blogueira, o que queremos dizer é que “a mão que afaga é a mesma que apedreja”, ou que, os instrumentos que temos servem para o bem ou para o mal, e, quando se trata do conhecimento, é um dogma moderno que ele seja disseminado para todos, e que se deixem os aspectos éticos e morais envolvidos decidirem como eles serão utilizados. Sem saber como construir uma bomba atômica talvez não fosse possível saber como poderíamos curar o câncer. Antes que comece uma seção filosófica onde não chegaria nem a um silogismo válido, baixemos a bola e voltemos às enquetes.
Hoje mais do que ontem eu tenho a certeza de que as enquetes, como são formuladas por quase todos nós que usamos o Blogger e sua metodologia, nos mostram muito pouca coisa a não ser tendências muito vagas do que algumas pessoas escolhem, sem nenhum rigor de representatividade. E não quero dizer aqui que elas não são importantes, mesmo que haja possibilidade de burlá-las, como nos mostram os entendidos no assunto. A informação tem o seu valor para o bem ou para o mal. Nossa obrigação é estarmos do lado do bem, sempre votando em Deus nas enquetes (só sobre esta afirmação muitos tratados já foram escritos).
O que não pode ser feito é analisar seus resultados com se tivessem um rigor que não existe, a não ser que explicitemos nossa crença em assim agirmos. Ora, se fazemos uma enquete perguntando em quem você votaria e colocamos dois candidatos, por exemplo, Deus e o Diabo, já deveremos saber que pode haver burla, e que supondo Deus mais ético, ele perderia a enquete, nem que fosse na Terra do Sol do Glauber Rocha. Mas, não podemos também dizer de antemão que os correligionários do Diabo fossem sempre anti-éticos, pois até no inferno se precisa de alguma norma moral, que não sabemos qual, para que mais de um diabinho sobreviva.
Em suma, o que é importante é que estejamos cientes das limitações das enquetes e que o conhecimento para burlá-las seja obtido por todos, inclusive e principalmente, pelos blogueiros, embora não devamos nunca incentivar a burla. E não me venham com a velha estória de que revelar os métodos incentiva a burla, pois “o risco que corre o pau corre o machado”, e todos detêm o conhecimento para o bem ou para o mal.
Em suma, quando se olha para um resultado de uma enquete devemos, como em qualquer outra atividade da vida política e social, termos sempre um olhar crítico do que estamos vendo. O Nelson Rodrigues dizia que a unanimidade é burra, e eu diria que a burrice é gradativa e também existe na “desunanimidade” total.
O que se deve perseguir é a verdade dos fatos, que nas enquetes seria a maior representatividade possível. No entanto, esta é tão cara, que nem Jesus, em uma resposta a Pilatos, se aventurou a uma definição precisa dela. Então fiquemos com nossas enquetes, e que todos levem as batatas, e as descasquem e consumam, com espírito crítico.
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