“Avança a reforma
do Estado
POR MERVAL
PEREIRA
A
relevância da Câmara, como parte de um dos poderes da República, foi o destaque
da sessão de ontem, quando a reforma da Previdência foi aprovada em primeiro
turno por uma votação surpreendente pelo número de votos bem acima do
necessário.
Ao final,
o presidente Rodrigo Maia já puxou para a Câmara duas novas reformas: a
tributária e a reorganização do serviço público, mantendo o protagonismo na
reforma do Estado brasileiro
Há muito
tempo não se viam deputados federais tendo o entendimento de que participavam
de um momento histórico, sem receio de assumir suas posições.
O
presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, foi feliz ao definir as relações
equilibradas entre o Legislativo e o Executivo como necessárias para uma
democracia forte, chamando a atenção de que investidores, além das questões
fiscais controladas, que indicam futuro mais seguro para seus investimentos,
também olham para a qualidade da democracia praticada no país.
Raramente
se viu no plenário da Câmara uma concordância tamanha. Todos eram favoráveis a
uma reforma da Previdência. Um avanço diante da posição de anos atrás, quando
muitos insistiam em que não havia déficit no sistema.
O que a
oposição alegou é que esta reforma não era a correta para o país. Houve também
outra aproximação de posições, no sentido de admitir, com maior ou menor
ênfase, que a reforma impõe um sacrifício à população.
O dissenso
ficou por conta da visão política de cada um, a oposição batendo na tecla de
que os menos favorecidos serão atingidos. Os favoráveis à reforma, e não apenas
os deputados governistas, defendendo a tese de que ela ataca os privilégios do atual sistema
previdenciário.
Outra
unanimidade ontem na Câmara foi a bandeira nacional. Trazida ao plenário pelos
favoráveis à reforma, foi também abraçada pela oposição, cada grupo ideológico
transformando-a em um símbolo de sua luta.
Nossa
bandeira jamais será vermelha, gritaram líderes de partidos do centro-direita e
liberais. A bandeira nacional não pode ser usada contra os mais pobres,
devolveram os líderes da oposição.
A deputada
Jandira Fegalli, do PC do B, chegou a dizer que era líder da minoria dentro da
Câmara, mas que a oposição representava a maioria do povo brasileiro. Não foi
isso o que as urnas mostraram nas últimas eleições, mesmo que o governo não
tenha conseguido montar uma base parlamentar.
A maioria
do plenário formou-se em torno não do governo, que não tem base majoritária,
mas a favor de uma visão liberal da economia. A tendência conservadora da
maioria dos eleitos para a Câmara parecia favorecer a criação de uma base
parlamentar sólida, mas a negociação política foi conduzida de maneira
desastrada pelo novo governo.
A
definição de um relacionamento não promíscuo com o Congresso foi um ponto
positivo do governo Bolsonaro. Até mesmo a liberação das emendas parlamentares
e de bancadas às vésperas da votação é do jogo democrático, pois os
parlamentares vivem do que podem beneficiar suas bases eleitorais.
O que não é admissível é compra de votos por
baixo do pano, através da corrupção, como vinha acontecendo desde o mensalão,
chegando ao petrolão.
Mas
Bolsonaro não entendeu que a falta de promiscuidade não significa, por si só,
um tratamento republicano. O novo Palácio do Planalto não conseguiu manter um
relacionamento profícuo com o Congresso, e gerou uma disputa de poder que foi
prejudicial à democracia brasileira.
A reforma
só saiu porque a Câmara foi convencida da sua necessidade, mesmo que
potencialmente impopular, e decidiu encarar o desafio. À medida que as
discussões foram se desenrolando, a opinião pública foi também evoluindo no
entendimento dessa necessidade.
A tal
ponto que ontem muitos deputados de diversos partidos fizeram questão de
aparecer em conjunto na tribuna do plenário. Um ambiente hostil à reforma da
Previdência transformou-se em favorável ao longo do debate, e pesquisas de
opinião mostram que a maioria já a apóia.
Sem dúvida
o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, foi o grande artífice da união
em torno do substitutivo aprovado na Comissão Especial. E pelo ambiente
tranqüilo em que transcorreu a votação, já que tem uma relação muito boa com os
partidos de oposição – chegou a brincar dizendo que o DEM poderia apoiar o
deputado Marcelo Freixo para a prefeitura do Rio – e conseguiu manter o
plenário em desarmonia controlada.”
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