“Os vencedores
levam tudo
Por Fernando
Gabeira
Mas que briga é
aquela que tem acolá? É o filho do homem com o seu general. Não pretendo
analisar uma luta interna no governo, cheia de insultos escatológicos.
Pergunto apenas
se vale a pena tantos militares no governo, com ataques permanentes contra eles
e uma certa ambivalência de Bolsonaro. Se a ideia é apanhar pelo Brasil, talvez
não seja a melhor aposta. O risco de desgaste das Forças Armadas é grande. E os
resultados até agora, desanimadores.
Os termos que
certos setores do bolsonarismo colocam são, na verdade, uma armadilha. Não
respondê-los significa um silêncio constrangedor para quem participa do mesmo
projeto de governo. Respondê-los é cair numa discussão de baixo nível, um filme
onde todos morrem no final.
A única
experiência que tive com Olavo de Carvalho foi um trecho de seu livro “O
imbecil coletivo”. Nele, Olavo diz que não tenho competência nem para ser
sargento do Exército de Uganda ou do Zimbábue, não me lembro.
Foi há muito
tempo. Minha reação foi esperar que o Exército de Uganda, ou o do Zimbábue,
protestasse. Como não disseram nada, também fiquei na minha.
Todo esse
vespeiro no governo Bolsonaro é também resultado da fragilidade da oposição.
Mas, observando as consequências, percebo que o Congresso vai preenchendo o
vazio de poder não para oferecer uma alternativa mais sensata à sociedade, mas
para garantir um retrocesso no aparato de controle da corrupção. Um dos pilares
da Lava-Jato é a integração das instituições. O Congresso quer impedir que a
Receita Federal e o Ministério Público compartilhem informações. Numa comissão
da Câmara, tiraram o Coaf das mãos de Moro, um outro desmanche dos pressupostos
da Operação Lava-Jato.
E não é só o
Parlamento. O STF sente-se mais tranquilo para blindar os deputados estaduais,
que só podem ser presos com autorização das Assembleias. Algo que sabemos muito
improvável.
Outro passo:
autorizar anistia para crimes de colarinho branco, validando o decreto de
Temer.
Bolsonaro se
apresentou com a bandeira anticorrupção. No entanto, no mundo real, há vários
indícios de retrocesso. Não houve competência nem para evitá-los, quanto mais
avançar numa agenda que interessou a milhões de eleitores.
Os tropeços de
Bolsonaro e dos seus ardentes defensores abrem um espaço de poder, até agora
percorrido pelo Congresso com seus objetivos claros.
Enquanto isso,
ele se diverte dando tiros de retórica. Ele prometeu que vai fazer de Angra dos
Reis uma Cancún brasileira. São ideias de quem está no mar e pisou pouco em
terra firme, nos morros e favelas de Angra.
Esta semana,
houve tiroteio, dias depois da passagem do governador Wilson Witzel. Ele foi a
Angra num helicóptero e disse: “Vou acabar com a bandidagem.” Deu uns tiros,
inclusive em tendas de oração, felizmente desertas, hospedou-se num hotel de
luxo e voltou para o Rio.
Outra fixação de
Bolsonaro é acabar com a Estação Ecológica de Tamoios, próxima ao lugar onde
foi multado por pesca. Estação ecológica é de acesso limitado aos cientistas
porque é uma permanente fonte de pesquisa.
No passado,
critiquei publicamente o senador Ney Suassuna, que comprou um barraco de um
posseiro dentro da Estação de Tamoios e nela queria construir sua mansão. Uma
década depois, a ideia do senador acaba se impondo sobre a minha. Cancún
implica construir muitas mansões e hotéis, e mandar para o espaço nossa riqueza
biológica concentrada ali naquela unidade de conservação.
A política de
meio ambiente de Bolsonaro parte da negação do aquecimento global, e em todas
as áreas ambientais tem dado sinais negativos. O consolo é que há mais gente
lutando para proteger seu território. No entanto, certos danos podem ser
irreversíveis. O licenciamento de agrotóxicos é o mais liberal da história, num
momento em que o mundo se preocupa não apenas com a saúde humana, mas também
com o desaparecimento das abelhas, dos insetos e das borboletas.
O processo vai
ser acentuado também no Brasil. E, sem abelhas, como é que vão polinizar nossas
plantas? Dando tiros de espingarda? Se apenas brigassem entre si, os
bolsonaristas provocariam menos danos que a briga permanente do governo contra
a natureza.
Governos
passados nos levaram a esperança e alguns bilhões de dólares. Bolsonaro ameaça
levar pedaços vivos do Brasil.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário