“Lula lá,
falando como prisioneiro
Por Roberto
Macedo
A entrevista do
ex-presidente Lula, na prisão onde se encontra, atrai interesse porque ele
permanece como uma importante figura política do País, capaz de influenciar
eleições, o comportamento do PT e as multidões que ainda o têm como ídolo.
Esperava que na prisão refletisse também sobre os seus erros, mas depois de ler
a entrevista, conforme publicada pela Folha de S.Paulo, a sensação que ficou
foi a de que ele não mudou nada.
Lula insiste na
sua inocência no processo que o levou à cadeia, relacionado a um apartamento no
Guarujá, e noutro em que já foi condenado em primeira instância, relativo a um
sítio em Atibaia, ambos no Estado de são Paulo. Lula diz que não lhe pertencem
esses imóveis, que receberam melhorias custeadas por empreiteiros a serviço do
governo.
Sobre o sítio:
“... se eu cometi o erro de ir num sítio em que alguém pediu e a Odebrecht
reformou, vamos discutir a questão ética”. E noutro trecho: “Eu desafio os
empresários a dizerem quem é que me deu cinco centavos”. Não sou advogado, mas
entendo que a questão de benefícios indevidos independe da propriedade do local
a que se destinaram, e também de um pedido. O artigo 317 do Código Penal, que
se aplica a funções públicas, tipifica o crime de “solicitar ou (grifo meu)
receber, para si ou para outrem (idem), direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem”. Acho que as melhorias tinham Lula como
objetivo.
Ele foi
condenado pelo juiz Sergio Moro e a pena de 9 anos e 6 meses de prisão foi
ampliada pelo TRF-4 para 12 anos e 1 mês. Mais recentemente, no STJ, caiu para
8 anos e 10 meses, bem próxima da condenação inicial, que, assim, se sustentou.
Não dá para acreditar que os juízes dessas três instâncias tenham integrado um
complô para condenar Lula sem provas, como alegam ele e muitos que o apoiam.
Aceitar a
condenação e pedir perdão exigiria grande dose de autocrítica, mas ele não
demonstra interesse em fazê-la nem nesse nem noutros assuntos. Perguntado
quanto a isso, saiu-se pela tangente. E quando foi afirmativo causou espanto,
em lugar de convencer. Disse ele: “Quando falam em autocrítica, (...) tive um
erro grave. Eu poderia ter feito a regulamentação dos meios de comunicação”.
Como de hábito, em trechos da entrevista criticou a imprensa, apontando nela um
viés contra ele. Imagine-se que regulamentação viria. E sobre a corrupção:
“Combater a corrupção é uma marca do PT”(!).
Interessei-me
também pela forma como abordou questões econômicas. Orgulha-se do que fez no
governo, mas não é preciso ser filósofo para saber que um governante é ele e as
circunstâncias. Elas lhe foram muito favoráveis, em particular no seu primeiro
mandato. Destaque-se o impulso que veio das exportações, em particular as
destinadas à China, que trouxeram grande avanço ao agronegócio e à mineração no
Brasil, e tiveram um grande papel no acúmulo de reservas de moeda estrangeira
pelo País, afastando crises cambiais que tantos danos nos trouxeram no passado.
Nossa vizinha Argentina está de novo afundando numa dessas crises. Só faltava
uma crise cambial para complicar ainda mais o péssimo estado da economia
brasileira.
Aliás,
deveríamos homenagear o Partido Comunista Chinês, até com um monumento em
Brasília, pois foi o partido político que mais fez pelo Brasil neste século,
numa avaliação que alcança todos os nossos.
Lula não
aproveitou o seu período de bonança econômica e fiscal para também dar força ao
investimento público. Sempre falou mais do consumo que do investimento, e não
me lembro de tê-lo ouvido falar de poupança. É esta, se bem investida, a base
da prosperidade pessoal, familiar, empresarial e nacional.
Na entrevista só
encontrei uma referência a Dilma Rousseff, escolhida por Lula como sua
sucessora: “Acontece que o impeachment da Dilma, o golpe, não fecharia com o
Lula em liberdade”. É muita pretensão afirmar isso. Dilma foi sua criatura
maior, mas do lado negativo. Estimo que o prejuízo que causou ao Brasil, medido
pelas perdas do PIB relativamente ao produto potencial brasileiro, já esteja
totalizando algo perto de R$ 1 trilhão.
Na reforma
previdenciária, Lula fica apenas num discurso simplista, no seu estilo de
comício: “Um país que não gera emprego, não gera salário, não gera consumo, não
gera renda, quer pegar do aposentado e do velhinho R$ 1 trilhão?”. De fato, o
País está frágil no emprego, mas continua gerando salários, consumo e renda,
ainda que em baixa velocidade. Velhinho? Muita gente se aposenta na faixa dos
50 anos. Quanto aos aposentados, ele deveria distinguir os atuais dos futuros.
E apontar proposta de solução realmente eficaz para o imenso déficit
previdenciário. Este é uma das razões dos problemas que aponta ao usar mal o
verbo gerar, pois de fato gera enorme desconfiança quanto ao futuro da dívida
pública. E prejudica as decisões de investir e consumir de empresários e
consumidores.
Há algo,
entretanto, em que estamos de acordo: “O que não pode é esse país estar
governado por esse bando de maluco”. De fato, no atual governo há quem se
comporte como maluco. E mesmo os demais são prejudicados por uma estranha
mistura de olavistas, bolsonaristas, filhotes do papai, parlamentares
inexperientes, falastrões, etc.
Mesmo se Lula ou
outros petistas imaginam reassumir a Presidência da República, é preciso
lembrar que hoje as circunstâncias são diferentes, tanto externa como
internamente, e são muito piores do que as que Lula enfrentou ao chegar ao
Poder. Ele & Cia. fariam melhor se voltassem a cabeça para repensar o
Brasil e propor um programa de governo capaz de retirá-lo do buraco em que eles
próprios o colocaram. Quanto a isso, a entrevista nada acrescenta, pois fica
somente no velho discurso lulopetista.”
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