“O que será o
amanhã?
Por Zeina Latif
Vamos assumir
que o Brasil dar certo significa ao menos crescer em linha com o mundo, pouco
acima de 3%. Seria um belo resultado, em termos per capita, acima de 2%, dado
que a população cresce menos de 1%. Bem maior que a média observada desde o
Plano Real, que foi pouco mais de 1%.
Como discutido
adiante, esse parece um cenário improvável para os próximos anos. O crescimento
será provavelmente mais modesto. Mas quanto? E este tanto será suficiente para
promover um ambiente estável? O motivo dessa indagação é que o baixo
crescimento tende a deixar o país fica mais vulnerável a acidentes de percurso,
que também se tornam mais difíceis de serem superados. O cenário “meio do
caminho” também guarda muitas incertezas.
Traçar cenários
no Brasil é tarefa complexa. O cuidado técnico é essencial, mas não é tudo. A
instabilidade da economia e a escassez de séries históricas longas são entrave.
No passado recente, o intervencionismo estatal e a manipulação dos números
fiscais do governo Dilma comprometeram a eficiência dos modelos de projeção.
Nos últimos
anos, o quadro político ganhou protagonismo na construção de cenários
econômicos. Isso porque, para voltar a crescer, o Brasil necessita urgentemente
de reformas estruturais que dependem de aprovação no Congresso. Não fosse o
quadro econômico tão frágil, não faria tanta diferença ter ou não um governo
reformista, aqui entendido pela agenda proposta e a capacidade de execução.
As dificuldades
não param por aí. É também importante analisar a reação da sociedade. O
descontentamento com a economia e com os serviços públicos pode ser gatilho
para protestos e greves, com implicações na política e na economia. Analistas
econômicos cada vez mais precisam dialogar com os profissionais das demais
ciências humanas.
A depender de
como terminaremos este ano, poderão ser tempos difíceis a partir de 2020. Não
por incertezas sobre o comportamento das variáveis econômicas em 2019 – há
poucas dúvidas de que será um ano de baixo crescimento e inflação bem
comportada –, mas pelas sementes que serão plantadas, ou seja, pela agenda
econômica a ser entregue e outras a serem encaminhadas para o País voltar a
crescer.
Uma reforma da
Previdência desidratada não irá gerar o devido alívio aos cofres públicos nas
três esferas. Os serviços públicos, que tanto impactam o sentimento dos
eleitores, irão piorar. O risco fiscal, que impacta o sentimento de
investidores, continuará elevado, com risco de violação da Lei de
Responsabilidade Fiscal e da regra de ouro (impõe limites ao endividamento do
governo federal) e de inviabilização da regra do teto (estabelece limites ao
crescimento dos gastos públicos), regra esta que foi essencial para trazer a
taxa de juros do Banco Central para níveis inéditos. Qual será o tamanho desta
fatura?
Como será o
encaminhamento das demais reformas, já que a da Previdência, mesmo que não
desidratada, não irá trazer crescimento de verdade? Os sinais não são bons,
como o pouco alcance das medidas para melhorar o ambiente de negócios, o
desconhecimento dos diagnósticos sobre o problema da educação e as trapalhadas
na discussão sobre a reforma tributária, que insiste na tributação de
transações econômicas, na contramão do recomendado.
Teremos,
provavelmente, anos de crescimento modesto adiante. Será um cenário apenas
desafiador ou de fato mais instável? Se por um lado, a classe política tem
maior compreensão sobre a necessidade de reformas, por outro, o quadro
econômico é muito frágil e a sociedade está mais exigente e vocal. Há muitas
incertezas no radar e isso atrapalha os tomadores de decisão.
Muitas
manifestações do governo revelam compreensão superficial dos problemas. Podem
agradar os eleitores fiéis, mas não serão suficientes para manter as ruas
calmas e empresários e investidores confiantes.”
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