“Votar melhor
POR MERVAL PEREIRA
Assim como não houve golpe no
impedimento da então presidente Dilma e sua substituição pelo vice-presidente Michel
Temer, também não haverá “o golpe no golpe” se o presidente da Câmara Rodrigo
Maia acabar assumindo a presidência da República com o afastamento de Temer,
enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) o julga por corrupção passiva, a
pedido do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot.
Pode ser complicado, mas tudo
está previsto na Constituição, e se os políticos que assumem os principais
postos da hierarquia política brasileira não estão à altura de exercer a
presidência da República, a culpa não é da Constituição, mas de todos nós que os
colocamos lá.
Dilma Rousseff não chegou à presidência do
nada, foi cultivada pelo então presidente Lula como uma grande gestora, que
provou nunca ter sido, e galgou postos dentro da administração petista num
processo controlado por Lula para ser sua sucessora.
Antes, os candidatos naturais
deixaram o governo sob acusação de corrupção que mais adiante se comprovaram
verdadeiras. José Dirceu e Antonio Palocci ainda estão às voltas com a Justiça,
um em prisão domiciliar já condenado, o outro em regime fechado negociando uma
delação premiada, por atos cometidos no decurso dos governos petistas.
Dilma presidente foi uma ação
controlada de Lula para manter na presidência alguém que ele pensava controlar,
e não por ser uma grande administradora. Sua gestão à frente da presidência foi
um desastre de amplas proporções, cujas conseqüências estamos vivendo até hoje,
e nesse desastre pode-se incluir sem nenhum erro a escolha, duas vezes, de
Michel Temer para vice-presidente.
Dilma foi impedida por ter cometido irregularidades
fiscais graves, proibidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, e foi essa
irresponsabilidade que colocou o país na pior crise econômica de sua história.
Sabe-se agora, devido às investigações da Operação Lava Jato, que a
participação de Dilma nos atos de corrupção que ocorreram em seu governo não
foram apenas conseqüências de sua omissão ou desatenção. Foram, sim, herança
política de seu padrinho Lula, segundo o Ministério Público o grande chefe da
organização criminosa que dominou o governo central de 2003 até 2015.
Dilma sabia de todo o dinheiro
corrupto que irrigava as atividades políticas ilegais do PT e as aceitava,
ainda não havendo sido demonstrado que tenha se aproveitado pessoalmente dessa
corrupção, a não ser em ações laterais de pouca importância, como usar dinheiro
desviado da Petrobras para pagar despesas pessoais através de seus
marqueteiros, fatos denunciados pelos próprios em delações premiadas.
Mas autorizou rapasses de
dinheiro para campanhas eleitorais e usou contas no exterior de empresários
corruptos como o Joesley Batista da JBS. Soa patética a tentativa de dizer que
uma presidente honesta foi deposta por um bando de ladrões chefiados pelo vice
Michel Temer.
No máximo, estamos diante de uma
disputa de gangues que, instaladas no governo federal, se apropriavam do estado
brasileiro para suas falcatruas. Michel Temer, portanto, não surgiu do espaço,
foi cuidadosamente escolhido para dar o suporte do PMDB ao governo Dilma, e o
lugar do partido na divisão do butim foi negociado para a formação da chapa,
que deveria ter sido cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelas
exaustivas revelações de provas de abuso de poder econômico da eleição
presidencial de 2014, não importando se o PSDB também financiou sua campanha
com dinheiro da corrupção, inclusive comprando apoio de siglas, como fez também
o PT, segundo várias delações premiadas.
A culpa de o grupo de Michel
Temer do PMDB estar em condições de assumir o governo com a deposição de Dilma
é, pois, do PT e só dele. Seguindo a Constituição, Temer subiu ao poder e lá
esteve protegido pela legislação brasileira de todos os malfeitos que cometeu
na sua longa vida pública, agora sendo revelados pelas delações premiadas do
próprio Joesley Batista, de Eduardo Cunha e do doleiro Lucio Funaro, entre
outros.
Nada disso, porém, impediria que continuasse à
frente do Palácio do Planalto, pois são fatos anteriores à sua gestão na
presidência da República e só podem, pela interpretação da Constituição do
atual Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, ser investigados após o
término do mandato.
Se não tivesse recaído em
práticas criminosas naquela madrugada nos porões do Palácio do Jaburu, Michel
Temer não estaria agora às voltas com um processo no Supremo Tribunal Federal
que pode tirá-lo do governo. Se isso acontecer, como tudo leva a crer, a
Constituição manda que o presidente da Câmara assuma a presidência por seis
meses, enquanto o presidente é julgado.
Caso seja absolvido, Temer volta
à presidência. Se o STF não chegar a uma conclusão nesses seis meses, Temer
também retorna ao poder, mas o processo continua sua tramitação, o que reforça
a idéia de um governo enfraquecido.
O deputado Rodrigo Maia, que
muitos consideram sem condições de assumir a presidência da República, também está
sendo acusado de recebimento de dinheiro de Caixa 2, mas foi colocado na linha
sucessória por seus pares, eleitos por nós.
Assumindo o posto, estará protegido pela mesma legislação nos próximos
seis meses, ou talvez até 2018, caso seja confirmado na presidência da
República em eleição indireta.
É o que temos pelo momento.
Cumprir a Constituição é o melhor caminho.
Pode ser que em 2018 nós, os cidadãos brasileiros, depois de tudo o que
estamos passando, votemos melhor.
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