“A corrupção e suas ligações com
a economia e a política
Por Affonso Celso Pastore
Um dos pontos que mais me
encantou quando comecei a estudar economia foi como tratar a divergência entre
retornos sociais e retornos privados. Nem sempre a alocação de recursos que
maximiza os lucros dos empresários é a que maximiza o bem-estar da sociedade.
Um exemplo clássico é o dos investimentos em saneamento básico, cujos retornos
sociais incluem a queda da taxa de mortalidade e a redução dos gastos em saúde
pública que, no entanto, não se refletem nos retornos privados de quem investir
para fornecer tal serviço. Se a solução deste problema fosse deixada totalmente
a cargo do setor privado, ou estaríamos sub investindo, ou as tarifas cobradas
seriam proibitivas, prejudicando a sociedade.
Para superar tanto esta quanto
outras “falhas de mercado”, o governo pode: prover diretamente os serviços; ou,
de forma transparente, dar subsídios aos investidores compensando a diferença
entre os retornos privados e sociais. As duas levam ao aumento do bem-estar da
sociedade e contribuem para o crescimento econômico.
Em todas as economias há espaço
para o setor privado e para o governo, e em muitos casos atividades que
poderiam ser eminentemente privadas são executadas pelo Estado, ou são
influenciadas por ele. Para não prover diretamente um dado serviço, o governo
pode concedê-lo a um agente privado, como ocorre com uma estrada de rodagem ou
uma linha de transmissão, e, respaldado por uma agência reguladora, garantir a
qualidade do serviço e evitar a exploração monopolística do preço ou da tarifa.
Nossa experiência neste campo tem
evoluído favoravelmente, mas ao mesmo tempo assistimos atônitos ao afastamento
de empresas estatais brasileiras em relação ao paradigma da eficiência
econômica, favorecendo o crescimento da corrupção sistêmica.
O “modelo” seguido é o de um
governo cujo principal objetivo é obter somas milionárias de recursos
explorando uma relação promíscua com empresários favorecidos em
pseudoconcorrências com cartas marcadas. Do ponto de vista econômico,
incorre-se em uma seleção adversa, premiando os empresários que melhor atendem
aos interesses dos partidos políticos que exercem o poder, e não os que obtêm
lucros maiores através da redução de custos e do aumento de produtividade.
Alimentados pelo propinoduto, a preocupação central dos políticos passa a ser
manter a aliança com os seus financiadores, deixando de priorizar o interesse
do seu eleitor.
Nas eleições, vencem aqueles que
têm mais recursos para campanhas caras e vazias, que não discutem programas e
propostas, ocorrendo mais uma vez a seleção adversa dos eleitos. Uma seleção
adversa alimenta a outra, fechando-se um círculo vicioso.
Este “modelo” tem sido posto em
execução de várias formas, mas sempre com custos elevados. Quando uma
empreiteira se associa aos partidos que, em nome deste “acordo operacional”,
indicam os diretores de uma empresa estatal com a “missão” de prover os partidos
com recursos gerados por contratos com a empreiteira, não é somente a empresa
estatal que se prejudica, e sim o país como um todo. Foi isto que ocorreu no
escândalo da Petrobrás. Quando um empresário obtém de um banco estatal, que
recebe vultosas transferências do governo por fora do orçamento, recursos
baratos que o transformam em um “campeão nacional”, retribuindo a “gentileza”
do governo com milhões de dólares usados para irrigar o caixa do partido, não
está contribuindo para o crescimento econômico, mas para que um governo
corrupto se perpetue no poder. Este é o “modelo” da JBS.
O PT usou e abusou deste esquema,
e o apoio dado a Temer quando assumiu o governo veio de seu compromisso com uma
agenda de reformas e com o combate à corrupção. Ao envolver-se diretamente na
corrupção, contudo, vem perdendo o poder para executar a agenda de reformas e
assiste ao crescimento de sua rejeição. Curioso é que, em nome da estabilidade
do País, o TSE tenha decidido não impugnar a chapa vitoriosa na última eleição,
ignorando tanto a forma como os recursos foram obtidos quanto os resultados
deste engenhoso “modelo de política” para a economia brasileira.
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AGD Comenta:
Quando estudava Economia, e o fiz
um dia, o grande debate existente era se uma economia centralmente planificada
seria possível operar com algum grau razoável de eficiência. Era o tempo onde
ainda existiam a União Soviética e países circunvizinhos que geraram pensadores
sobre a matéria.
O planejamento governamental
tornou-se quase um imperativo, mesmo nas economias capitalistas e que queriam
possuir um mínimo de Bem Estar Social, como se chamaram as políticas voltadas
para um planejamento do governo e consequentemente, tentando responder a
pergunta: O que um Estado pode fazer do ponto de vista da Economia para que ela
não tenha os defeitos que se encontravam em economias capitalistas, como
desemprego, desigualdade de renda, práticas monopolistas, externalidades
negativas e outros.
A ideia de um país socialista
quase que conquistava todo o mundo invadindo o mundo político a cata de
revoluções em direção à esta ideia, e isto atingiu até a América Latina, e chegando
ao Brasil.
Desde aquela época, na política,
se confundia um Estado de Bem Estar Social, ou com um socialismo disfarçado ou
com um capitalismo anêmico. E não era uma coisa nem outra, mas, apenas países
influenciados por ideias de um grande economista, o John Keynes, que depois da
grande tragédia do capitalismo em 1930, procurava também, mostrar caminhos para
que aquilo não se repetisse.
E ela apontava, principalmente, o
Estado como um indutor do desenvolvimento, para o qual, dizia ele, o
capitalismo não seria suficientemente adequado. E suas ideias ganharam força na
direção de evitar o mal maior, que se achava, era o socialismo, e evitar os
males dos países capitalistas puros com suas mazelas sociais.
O grande problema é que se
exagerou na dose de ter o Estado como solucionador de todos os problemas e
passamos dos limites com uma intervenção estatal que ficou conhecida, de uma
forma simplista como um capitalismo de Estado, no qual se pretendia manter as
bondades dos sistemas capitalistas associados com as promessas dos socialistas
através da política econômica.
O grande fiasco dos sistemas
socialistas, deste a queda de Berlim, as ideias chamadas liberais, e que
mostravam as vantagens de sistemas descentralizados e dos mercados, levou ao
ponto contrário da reação, na tentativa de fazer o Estado se retirar quase
inteiramente da economia dos países. E isto se conseguiu na Europa, e mesmo nos
partidos socialistas onde se começou a ver que o capitalismo não era o vilão
pintado pelo grandes revolucionários do início do século XX.
Seria preciso mais espaço para
mostrar o que aconteceu no Brasil durante todo este tempo, mas, o articulista
acima transcrito foi feliz ao apresentar a solução que se procurou dar aqui
para este problema, de forma muito influenciada pela revolução cubana e pelo
Forum de São Paulo, que nunca desistiram da ideia de um partido único para ser
a “solução da lavoura”.
E o PT, foi o ungido para levar
estas ideias à frente, com a queda dos Social-Democratas no início do século
XXI. E aconteceu o que se sabe. Criou-se um “capitalismo de compadrio” que só
era eficiente para alguns apaniguados, em nome da “classe trabalhadora”. E
estamos, nesta fase pós-PT, colhendo os maus frutos desta péssima semeadura.
Dizer que o nosso capitalismo é
de compadrio é até um elogio. O que temos mesmo é um “capitalismo de bandidos”, onde a classe política e empresarial, com as honrosas exceções,
esperam na fila para ir para o xilindró, sendo todos reféns de uma operação
policial.
Hoje já começamos a semana sem
saber qual o ex-presidente que será o preso da vez, e em dúvida se haverá
cadeia suficiente para todos. Mas, pelo menos, uma indústria, dizem está
progredindo, aquela das “tornozeleiras
eletrônicas”, mostrando que o
“capitalismo de bandidos” é o que impera no momento.
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