“Botafogo na folha-seca
José Roberto de Toledo
O noticiário tem pintado Rodrigo
Maia como um Didi da política, o craque que joga parado. Sem se mexer, o
presidente da Câmara estaria armando para suceder a Temer – e não só quando
este vai ao exterior. Tirando o Botafogo, que um fez tricampeão e o outro imortalizou
como apelido odebrechtiano, Didi e Maia têm pouco em comum. Elegância
principesca só se aplica a um deles, por certo.
Nem por isso deve-se imaginar que
“Botafogo” seja incapaz de um lance em profundidade. Filho de prefeito, primo
de senador e genro de felino ministro-governador, Maia acabou de fazer 47 anos
e já cumpre o quinto mandato consecutivo como deputado federal. Se não há mais
bobo no futebol, imagine no Congresso. Ninguém galga duas vezes a presidência
da Câmara por acaso.
Como o antecessor de Maia no
cargo provou, tampouco alguém permanece presidente da República por muito tempo
sem a colaboração do presidente da Câmara. Quando o titular do Planalto está
impopular e acuado, aí então é que o segundo da linha sucessória vira um árbitro
de pelada. Pode marcar tantos impedimentos e pênaltis contra o potencial
sucedido que inviabiliza seu governo. É só apitar na hora certa.
Imaginava-se que Maia iria
praticar a lealdade que prega em relação a Temer por causa de Moreira Franco. O
chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República é padrasto da atual
mulher de Maia. Ou seja, o presidente da Câmara é genro do “genro do genro”.
Explica-se: antes de ser apelidado de “Gato Angorá” por Brizola, Moreira Franco
era conhecido por ser casado com a filha de Amaral Peixoto, que era genro de
Getúlio Vargas.
Nessa família, todos os
casamentos levam à Presidência da República, mais cedo ou mais tarde.
Mas e a apregoada lealdade? Temer
é vítima do próprio sucesso. Ao conseguir tirar aliados como o maleiro Rodrigo
Rocha Loures da cadeia e evitar que seu algoz, Rodrigo Janot, emplacasse o
sucessor na Procuradoria-Geral da República, o presidente fez com que os
investigadores apressassem o passo e mudassem de tática. Voltaram os canos
fumegantes ao entorno temerário.
A prisão de Geddel Vieira Lima
não foi apenas a detenção de mais um ex-ministro, como já havia sido a de
Henrique Eduardo Alves. Junto com Temer, Renan, Padilha e Barbalho, Geddel é
sócio-fundador da Turma do Pudim – o grupo que substituiu o Clube do Poire no
controle do PMDB após a morte de Ulysses Guimarães. Ele foi vice-líder de Temer
e seu principal cabo eleitoral na eleição para presidente da Câmara, mais de
duas décadas atrás.
Se Rocha Loures sabe muito sobre
Temer desde 2011, o falante Geddel sabe quase tudo sobre o presidente desde
1995, ao menos. No roque da cadeia, Temer ganhou um peão, mas perdeu um cavalo.
As torres devem ter ficado ainda
mais preocupadas. Eliseu Padilha e Moreira Franco garantem distância da margem
oposta do Lago Sul de Brasília (para onde Geddel foi levado algemado), por sua
inocência, é certo, mas também pelos gabinetes que ocupam no quarto andar do
Palácio do Planalto. Calculavam que se manteriam seguros enquanto o presidente
estivesse por lá. Hoje, caberia a eles perguntar: qual presidente?
Um que, ao se proteger, não os
exponha ainda mais a risco. Temer ou Maia? De novo, Rodrigo Maia não é Didi,
mas joga parado. Por sorte, parado é o estado que mais lhe convém. Temer tem
pressa. Não quer repetir o erro de Dilma e esperar a oposição alcançar 372
votos para mandá-lo do Jaburu à praça Conde de Barcelos, ou pior. Quanto menos
Maia se move, mais lentamente corre a denúncia contra Temer na Câmara, mais
pressão se acumula contra o presidente. Não é uma folha-seca, mas pode dar em
gol.”
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AGD Comenta:
Achei boa a metáfora
futebolística empregada pelo articulista que transcrevi, acima. E hoje, o Botafogo,
digo, o Rodrigo Maia seria o presidente,
se não o tivesse acompanhado, mesmo jogando parado. O Temer foi a um encontro
no qual ninguém o espera. O do G-20.
Lá, entre os outros 19 ninguém
nem quer tirar fotos com ele, quanto mais conversar. No entanto, reconhece-se
que se o Temer não se mexer vão pensar que ele já está morto, e ele, mesmo sem
“amiguinhos”, precisa continuar viajando.
Seguindo a linguagem
futebolística, o presidente viajante parece ter ido ao vestiário por absoluta
necessidade de fazer o “número 2”. Corre o risco de quando voltar o seu
substituto, o Eunício, cujo nome futebolístico é “Índio”, ter feito dois ou mais gols e o técnico não querer mais tirá-lo.
Seria ótimo que isto acontecesse,
porque, pelo que vejo, com o Temer jogando, o outro time está querendo entrar nele
“de sola”, e corre o risco do time perder. E o time é o Brasil. Talvez, esteja
na hora de chamar o Tite.
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