Por Zezinho de Caetés
Ontem tentei ver a quinta
temporada do House of Cards, na Netflix. Vi que não tinha concluído a quarta
temporada e comecei a vê-la a partir daí. Realmente, é uma série que eu já
gostava, e agora, com a situação do Brasil, onde, o personagem principal da
série é encarnado por tantos dos nossos políticos, a série deve estar melhor
ainda.
Encontrei um texto do Pedro
Doria, no O Globo de ontem, e o transcrevo abaixo. Título: “BRUTAL LUTA
POLÍTICA DE FRANK UNDERWOOD MOSTRA QUE NO BRASIL O CENÁRIO É AINDA MAIS
DESOLADOR”. Tenho então que ter tempo para relembrar os personagens e começar a
ver a série.
Hoje estou sem muito tempo para
escrever comentários longos pois terei que em breve enfrentar a chuva no
Recife. Aliás, Pernambuco não anda bem das pernas mesmo, pois falta chuva ou
tem o excesso dela. Lá em minha região já se deve estar rezando para parar de
chover, com a mesma fé que ontem se rezava para chover.
E depois que vi ontem a reunião
da Comissão de Assuntos Econômicos, que está tentando salvar o governo do nosso
Frank Underwood de plantão, só me resta dar um espaço na cabeça para a ficção.
Então, fiquem com o Pedro Doria,
que eu vou remar contra a maré pelas ruas de Recife, procurando um laboratório
para entregar o material para exame. Gostaria de jogá-lo em alguns políticos mas, me
contenho, ainda.
“Há um momento num dos primeiros
episódios da quinta temporada de “House of cards”, que chega hoje à Netflix, no
qual o presidente americano Frank Underwood explica à sua mulher, Claire, por
que ele deve ser reconduzido à Casa Branca. “O povo não sabe o que é melhor
para ele”, diz. No rosto e na voz do ator Kevin Spacey há tanto desdém quanto
arrogância e convicção. “O povo é como o filho que não tivemos. Precisamos
guiá-lo.” O casal está perante um óleo de George Washington, o ícone mítico que
primeiro comandou o Executivo americano. E ambos, tanto Frank quanto Claire,
têm pelos ideais daqueles fundadores da República americana o mais completo
desprezo.
São instantes assim que fazem de
“House of cards” uma série especial. Políticos, quaisquer políticos, são o
grande mistério das democracias. Por trás de cada sorriso e aperto de mão, de
cada discurso carregado com as doses certas de emoção e razão, eles nos deixam
sempre com a dúvida: no que realmente acreditam? Sobre o que conversam quando
as portas estão fechadas? Serão realmente honestos? Dizem de fato o que pensam?
“House of cards” é uma distopia, uma fantasia extremada que nos leva ao pior de
todos os cenários. Nele, a luta política é brutal, e o jogo se dá entre gente
que não tem qualquer caráter, de um lado, e aqueles cuja personalidade é fraca
demais para combatê-los, do outro. No mundo de “House of cards”, torcer por
qualquer um dos partidos é um exercício extremo de ingenuidade. Ninguém está do
lado do eleitor.
A série chegou à televisão em
2013, ano zero da crise política brasileira. Em junho daquele ano, milhões de
brasileiros tomaram as ruas para se queixar de que o Estado lhes servia mal. Em
julho, a Polícia Federal descobriu que o doleiro Alberto Youssef tinha uma
relação de trocas de presentes com o diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Dali nasceria a Lava-Jato. Mais de uma vez, e não sem razões várias,
comparou-se a série com a política brasileira. Frank Underwood, sugere a piada fácil,
é um amador perante os nossos políticos. Dependendo de quem faz a comparação,
Underwood é Lula, ou Eduardo Cunha, ou Michel Temer, tantos outros.
A piada fácil esconde uma questão
séria. Porque temos indícios suficientes que permitem uma comparação real entre
a ficção americana e a realidade brasileira. São as gravações: a conversa
ligeira entre Lula e Dilma, os diálogos de Sérgio Machado com Renan Calheiros,
José Sarney e o impagável Romero Jucá. Além, é claro, das trocas de Joesley
Batista com Aécio Neves e Michel Temer. Esses fragmentos fizeram mais para
revelar algo sobre como esses políticos verdadeiramente são do que qualquer
outro episódio na História brasileira.
O impacto de “House of cards” se
dá, em grande parte, por conta do recurso narrativo que deu a William
Shakespeare seu brilho. Todas as personagens têm um quê de extremadas. É como
se ninguém tivesse superego para lhes disfarçar as vontades do inconsciente. As
pequenas vilezas do cotidiano ganham dimensão. Todas as tramoias são explicitadas,
nada fica subentendido. Tudo o que cada um pensa, sente e faz é mostrado com
clareza, e por isso mesmo o resultado é demasiadamente humano. Assim, na toada
shakespeariana, sempre que necessário o protagonista rompe a quarta parede,
encara o espectador no olho e explica o que está ocorrendo no jogo de
intenções.
NO BRASIL, MEDO E CUMPLICIDADE
Na realidade brasileira, nada é
direto e muito fica subentendido. Nenhum dos políticos gravados se porta como
um Frank Underwood que, dedo em riste, dá ordens e deixa claro o que espera de
todos. Pelo contrário: todos se veem como cúmplices que compreendem o jogo que
disputam. São parceiros. Essa cumplicidade se mostra na recomendação de Temer —
“tem que manter isso, viu?” —, ou no pacto sonhado por Jucá — “o Michel forma
um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege
todo mundo, este país volta à calma”. A cumplicidade se dá, até, no tom
corriqueiro como Dilma combina com Lula sua nomeação para um ministério acaso
corra risco de ser preso: “tô mandando o Bessias junto com o papel, só usa em
caso de necessidade”.
Por trás das portas, na vida como
ela é, nenhum dos políticos brasileiros se porta com a autoridade dos
Underwood. Ninguém é capaz de fitar o interlocutor com austeridade e dar uma
ordem inequívoca como Frank, assim como nenhum tem o porte ereto e elegante que
ressalta o olhar frio de Claire. Não inspiram autoridade. São, pelo contrário,
inseguros. Têm plena consciência do castelo de cartas que habitam. Enxergando
sua fragilidade. Têm medo.
Mas há uma distinção maior. Esses
vilões, Frank e Claire, têm também muita clareza de seu objetivo. Querem poder.
Na Brasília revelada pela Lava-Jato, tanto faz quem está no poder, desde que o
sistema se mantenha em equilíbrio. Assim, mesmo no governo petista, um senador
tucano terá seu espaço. O objetivo final da engrenagem não é levar um ou outro
ao poder, e sim manter o fluxo de dinheiro para todos.
O Brasil não é “House of Cards”,
e isso, na verdade, é ainda mais desolador. Aos fãs da série resta um único
consolo: a quinta temporada é espetacular.”
Ele sempre vai ser meu favorito, ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador. O mesmo aconteceu com esta produção, eu amo os kevin spacey filmes Virei Um Gato para mim é um dos grandes filmes de Hollywood.
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