Por Zezinho de Caetés
Ontem abordei a soltura de Zé
Dirceu, com ênfase num texto do Deltan Dellagnol, procurador federal e maior
falante da Lava Jato, onde ele mostrava as incoerências das decisões do STF
quanto ao evento, citando vários casos com posições diferentes, pelas mesmas
pessoas.
Eu até disse que o Gilmar Mendes
teria votado a favor da soltura do meliante contumaz por “birra”. Não desdigo o que disse. Mas, hoje encontrei um texto com
Editorial do Estadão que aborda o assunto de outra maneira com este título: “A real ameaça à Lava Jato”, onde o mote
principal não é o STF e sim a própria operação.
O jornal acha que as constantes
intervenções dos procuradores na defesa do seu trabalho estão se tornando
demasiadas e está irritando pessoas com poder suficiente para entornar o caldo
que eles mesmos pretendem tomar, que é, a moralização da política brasileira.
Ora, para mim, há erros de ambos
os lados, e para isto pesa não só a “brincadeira
juvenil” que o Gilmar Mendes falou a respeito do comportamento do
procurador, mas também a “brincadeira
senil” de alguns membros do STF.
Assim continuando, com birras de
um lado e do outro quem perde é o Brasil. Portanto, o que deve prevalecer é a
seriedade de propósito que os dois lados, ou três, ou quantos sejam para que no
final, não se deixe bandido impune e se aproveitando, como fizera, da coisa
pública em benefício próprio.
O Brasil, para se manter com os
pés no chão, tem um rito a cumprir, depois do impeachment da Dilma, que tem
muito a ver com a Lava Jato, não sejamos inocentes. Pois o que se descobriu é
que, depois de 13 anos de PT, a coisa apodreceu de um jeito que não poderíamos ficar com a “incompetência” na presidência. Tudo foi
feito dentro da lei e da ordem, e se houve golpe foi o abortado pelo
impeachment (vide Maduro na Venezuela).
Então, chegou a um ponto em que,
para continuar,precisamos de menos vaidades bobas e mais celeridade e competência
de nossas instituições judiciais para tocar o Brasil. E isto é extensivo a
outras instituições que ainda funcionam, mesmo de forma capenga, como o
legislativo.
Pelo menos, até agora, o executivo,
com o Temer, parece estar no caminho certo, que é fazer as reformas
necessárias, usando este período conturbado. Vamos ver se continua.
No entanto, quando vemos o
espetáculo que vimos ontem na Comissão Especial de Reforma da Previdência, cada
dia mais me convenço que vai ser duro sair desta. Meu estoque de otimismo está
acabando e parece que é uma mercadoria em falta no mercado. Fiquem com o
Estadão, que eu vou procurar otimismo no meu fornecedor principal, e acompanhar
a 40ª fase da Operação Lava Jato.
“Assim que a 2.ª Turma do Supremo
Tribunal Federal (STF), por 3 votos a 2, concedeu habeas corpus em favor do
ex-ministro José Dirceu, condenado em primeira instância no âmbito da Lava Jato
e preso preventivamente, os procuradores da operação anunciaram, mais uma vez,
que todo o esforço da luta contra a corrupção estava sob risco.
É compreensível que os
integrantes da Lava Jato procurem defender seu trabalho daquilo que enxergam
como ameaça, mas a operação não é tão frágil quanto fazem parecer os
procuradores. “Entendo que de modo algum a Operação Lava Jato está
comprometida”, comentou o ministro Celso de Mello, um dos votos contrários à
concessão do habeas corpus. Para o decano da Corte, o que se espera da Lava
Jato é que aprofunde as investigações, “uma vez respeitadas as garantias que a
Constituição e as leis da República estabelecem”.
O importante a salientar no caso
de Dirceu e de dois outros condenados em primeira instância que foram soltos
pelo Supremo – o pecuarista José Carlos Bumlai e o ex-tesoureiro do PP João
Cláudio Genu – é que, conforme entendimento do STF, há excesso nas prisões
preventivas na Lava Jato, que funcionariam como execução antecipada de pena.
No caso de Dirceu, o Ministério
Público Federal considerou que se está diante de um condenado com “notória
periculosidade”, demonstrada pela “habitualidade criminosa”, que continuou
mesmo depois da condenação no mensalão. O Supremo, porém, fez prevalecer a
presunção da inocência até a apreciação de apelação de sentença condenatória.
Ademais, ao suporem que Dirceu
pode cometer novos crimes ou comprometer as investigações se ficar solto, os
procuradores confessam que, desde agosto de 2015, quando o petista foi preso,
não foram capazes de avançar em seu trabalho, que teria continuado vulnerável à
intervenção de Dirceu. Tanto é assim que a Lava Jato entrou com nova denúncia
contra José Dirceu no mesmo dia em que o Supremo analisava o pedido de habeas
corpus – uma “brincadeira juvenil”, como classificou o ministro Gilmar Mendes.
A inquietação dos procuradores da
Lava Jato com a soltura de Dirceu resultaria da percepção de que essa decisão
seria um indicativo de que outros presos importantes poderiam ser libertados.
Se existe, tal preocupação revela que, ao contrário do que sempre sustentaram,
os procuradores apostam nas prisões para obter dos condenados as informações
que buscam, por meio de delação premiada. Os membros da força-tarefa dariam a
entender, portanto, que, se não conseguirem manter atrás das grades os figurões
do petrolão, não induzirão os potenciais delatores a dizerem o que sabem e, por
isso, será interrompido o fluxo de informações que abastece a operação.
Ora, como ficou claro até aqui,
os delatores só decidiram falar quando ficou evidente que passariam muito tempo
na prisão se não colaborassem. Ou seja, não era a prisão preventiva que os
amedrontava, e sim a possibilidade de ficar muitos anos – talvez a vida inteira
– na cadeia. Portanto, sob esse aspecto, pouco importa se Dirceu e outros
personagens estão presos, e sim a qualidade da investigação em si. Quanto mais
indícios forem reunidos, maior será a colaboração dos que têm algo a contar.
A Lava Jato, porém, há muito
tempo parece ter deixado de ser uma investigação policial. A operação parece
prisioneira da presunção de que tem um papel a desempenhar no futuro da
política e da Justiça no Brasil, razão pela qual qualquer ponderação que ponha
em dúvida seus métodos e suas certezas será vista como manobra contra seu
prosseguimento. O discurso messiânico de alguns de seus principais integrantes
sugere que, para eles, todas as instituições do País estão apodrecidas, com
exceção do Ministério Público. Em sua ânsia de sanear o País, a Lava Jato
comete erros – e um deles deu um gostinho de vitória a José Dirceu, um dos
personagens mais nefastos da história brasileira.
A Lava Jato corre riscos, sim,
mas não os que são denunciados por seus integrantes. A maior ameaça está no
comportamento imperioso de alguns procuradores e na absurda demora do Supremo
para julgar os casos que lhe competem. É isso – e não a revogação da prisão de
alguns réus, de acordo com o que manda a lei – que contribui para desacreditar
a Justiça.”
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