Por Zezinho de Caetés
Ontem tivemos mais um capítulo da
saga do Temer, o Ingênuo, para se livrar das acusações e da pancada que lhe deu
o seu grande amigo Joesley. Quem olha com mais profundidade a situação vê que
não é só o presidente que está acuado com a Operação Lava-Jato. Há uma
verdadeira Síndrome da Sangria (nome dado em homenagem a um dos que primeiro
tiveram a doença, o Romero Jucá), cujo sintoma principal é o medo de ser preso.
Dizem, que não há explicação
melhor para que o Temer não tenha logo pedido o boné e renunciado, porque sem o
cargo ele já estaria preso. E quando vemos, como eu vi, uma reunião no Senado,
como aquela de ontem, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), não tem mais
dúvida de que a Síndrome da Sangria (SS) se generalizou.
O Senador Lindberg, o “Lindinho”, a senadora Gleisi Hoffman, a
“amante” e tantos outros senadores
epitetados nas planilhas da Odebrecht, fizeram um show de horror, que só pode ser
explicado pela medo da prisão. Só não ouve “tapa”
por causa da turma do deixa-disso. Uma vergonha, diriam aqueles que não têm o
rabo preso.
No entanto, pensando bem, a
Operação Lava-Jato tem seus erros e neste caso dos irmãos Batista, pisou na
bola, pelo exagero das benesses proporcionadas pela delações premiada. Eu não
sou contra as delações premiadas como um meio de coibir os malfeitos,
principalmente, para crime do colarinho branco, que hoje é uma novidade no
Brasil. Não os crimes mas sua punição.
Pensem se seria possível o Maluf
ainda está solto se houvesse antes a delação premiada. Pois é, só ontem depois
de 30 anos dos crimes cometidos, o Edson Fachin, muito incentivado por ser o
relator da Operação Lava-Jato, o condenou, a uns 8 anos de cadeia, dizem, em
regime fechado.
Todavia, se o compararmos com o
caso dos irmãos Batista, o Maluf foi um injustiçado, pois se ele quisesse
delatar, teria muitos generais hoje mortos, presos. Ou seja, tem-se que
arranjar uma maneira, e ontem, o Janot, que geralmente procura na república,
disse que há muitas formas de compensar o vidão que hoje leva a dupla de
criminosos delatores em Nova York. Estamos esperando.
O problema do Brasil é que a SS
não pode esperar. E ontem vi a intervenção ridícula do Renan Calheiros na CAE,
mostrando sintomas evidentes desta doença, orientar o voto contra o andamento de um reforma essencial
para o Brasil sair do sufoco do desemprego. É uma doença terrível e que agora
não está só mais atacando os políticos, mas, os empresários também.
Para maiores detalhes da SS, da
forma como atacou em outro país, eu deixo vocês com a Míriam Leitão, num seu
texto de ontem, no O Globo, “Tensão na
República”, onde ela fala da situação na Itália, com a Operação Mãos
Limpas. E como pode se ver a SS lá foi tão forte que os políticos acabaram com
ela em pouco tempo.
O que aprendemos com a Itália,
além de vivermos outros tempos em termos de comunicação, é que o judiciário tem
uma grande relevância no combate à doença, e uma vacina ótima para isto já deve
estar em produção, que é adequar o uso da operação Lava Jato a cada situação,
mas, nunca exagerar na dose de impunidade, com as delações premiadas. Tudo
demais é veneno!
Penso que o juiz Sérgio Moro já
deve ter entendido isto e já esteja aplicando a vacina no caso do Lula, que
sofre de SS no grau extremo, basta ver o seu semblante e suas atitudes. O juiz simplesmente
está esperando a vacina fazer efeito para condená-lo. Espero que a vacina esteja
no ponto certo para fazer Justiça.
Agora fiquem com a Míriam para
uma melhor reflexão sobre nossas mazelas.
“Nas conversas gravadas, em
qualquer etapa da atual era de escândalos, o que se ouve confirma o temor dos
procuradores da Lava-Jato de uma união dos políticos para interromper a
operação. Ela hoje parece forte o suficiente para acuar o presidente da
República, mas ao mesmo tempo ficou mais vulnerável às críticas pelo acordo da
delação superpremiada com Joesley Batista.
Na gravação de Sérgio Machado com
o senador Romero Jucá se falou em estancar a sangria. Na conversa entre Joesley
e o presidente, o empresário falou, diante de um Temer aquiescente, em controlar
juízes e comprar procuradores. Na conversa do senador afastado Aécio Neves com
Joesley, ou nas declarações públicas dos ex-presidentes Lula e Dilma, a
operação é xingada e tratada como inimiga. Aliás, ela é a inimiga que une os
adversários da política.
As falhas da operação vão abrindo
flancos para o fortalecimento do movimento anti-Lava-Jato. Quando Sérgio
Machado livrou-se, e aos seus filhos, de processos, já houve um enorme
desconforto. Agora há revolta. Um dos poucos momentos em que Temer consegue
atrair concordância é quando aponta o absurdo de o empresário grampeador estar
vivendo em Nova York depois de ter passado anos enriquecendo com medidas
governamentais e empréstimos públicos que o beneficiaram e que foram
conseguidos através da corrupção. Não é sustentável um volume tão grande de
benefícios e isso enfraquece até o ministro Edson Fachin, que homologou a
delação nesses termos.
A economista Maria Cristina
Pinotti disse em conversa recente que na Itália a “Mãos Limpas” fracassou
exatamente quando parou de ter o apoio da opinião pública e foi sendo erodida
pelas denúncias e críticas feitas contra os líderes da operação. O resultado de
todo o enorme esforço de combate à corrupção na Itália foi lamentável. Quando
Berlusconi assumiu, ele nomeou para ministro da Infraestrutura o maior
empresário italiano da construção, uma espécie de Marcelo Odebrecht.
— A Itália tem muitas semelhanças
com o Brasil, mas muitas diferenças. Nas diferenças reside meu otimismo — disse
ela.
Cristina Pinotti também alerta
que o mundo mudou bastante nos últimos 25 anos, entre a operação na Itália e a
que está ocorrendo no Brasil.
— É interessante notar as
diferenças que esses 25 anos produziram. Hoje a gente tem muito mais ajuda do
sistema financeiro internacional no combate à corrupção e lavagem de dinheiro.
Em função da luta contra o tráfico de drogas, o contraterrorismo, criou-se um
aparato que dá muito suporte para as investigações anticorrupção — diz.
No Brasil, os procuradores da
Lava-Jato estudam o que se passou na Itália e sabem que é preciso manter a
opinião pública a favor da investigação para evitar que os políticos
investigados se unam e aprovem leis que os favoreçam. Foi assim que aconteceu
lá.
Os críticos da Lava-Jato, seja
entre os políticos, seja no meio jurídico, costumam apontar os riscos dos
excessos dos policiais e procuradores. Eles respondem que excessiva é a
corrupção que está sendo revelada a cada movimento da investigação. Os crimes
são tão persistentes que no mês passado, após três anos da Lava-Jato, ainda se
entregava malas de dinheiro a políticos. Os críticos da operação argumentam
que, neste caso de Temer, há um erro inicial, e que se fosse no tempo do
Castelo de Areia a delação seria anulada pela maneira como foi feita a gravação
do presidente, sem ordem judicial. Aliás, os advogados derrubaram várias
operações anteriores apontando as falhas processuais. A Lava-Jato aprendeu com
isso e tomou mais cuidado que as outras.
Os ministros do STF têm opiniões
bem divergentes sobre o que está acontecendo e há um grupo de ministros que
discorda do rumo dos últimos eventos. Esse embate entre as tendências do
Supremo vai ficar mais nítido neste acirramento da crise.
Contra a Lava-Jato será usada a
excessiva condescendência com os irmãos Batista. Esse é o argumento mais
convincente que os críticos da operação têm. É o ponto fraco. O acordo não foi
feito em Curitiba, mas na Procuradoria-Geral da República. A pressão contra a
Lava-Jato vai se intensificar, na mesma medida em que a operação aumenta a pressão
contra seus alvos. A tensão está no ar.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário