Por José Antonio
Taveira Belo / Zetinho
Esta semana
recordei o Seu Benigno, homem que vendia pirulito pelas ruas de Bom Conselho,
toda tarde passando pela minha querida Rua do Caborje, onde corria até a minha
mãe pedindo alguns trocados para comprar o pirulito enrolado em papel de
embrulho em varias corres, rosa, azul e cinza. Com a sua gaita estridente
apitava anunciando a sua passagem por volta das quatro horas da tarde, trazendo
nos furos os pirulitos na tabuleta escorada no ombro como se fosse uma
bandeira, gritando “olhe o pirulito, docinho que só mel” com o chapéu de palha circulando
por uma fita azul no queixo. As alpercatas de solado de pneu e a calça dobrada
mostrando os tornozelos grossos. A camisa aberta até o peito mostrando um
rosário de continhas azuis e brancas e a cruz brilhante. Sorria mostrando a dentadura falha, quando as
crianças corriam para casa e ele estava à espera, muitas vezes sem que os
compradores mirins adquirissem alguns daqueles pirulitos. Não se incomodava
quando não vendia, vendo amanhã é outro dia, resmungava. Andava por todo Bom
Conselho parando na Praça Pedro II, onde descansava da andança, sentado em um
dos bancos vendendo alguns pirulitos aos passeantes da tarde. Moças e rapazes
gostavam do adocicado. Recolhia-se já ao anoitecer pela Rua da Cadeia com o
tabuleiro cheio de buraquinhos vazios. Era o seu sustento. No sábado vendia
tudo na feira, percorrendo o “quadro” nas calçadas das lojas. Os meninos vindos
dos sítios compravam todos os pirulitos lá se ia contente com o tabuleiro
vazio, assoviando Mulher Rendeira, com a mão no bolso e o tabuleiro carregado
na mão como se fosse uma vassoura, depois de tomar algum trago no bar de João
Presideu. Às vezes ficava na escada da
Matriz, sentado observando os passeantes na praça e ouvindo algumas musicas
saindo do alto falante. Olhava para cima e via as palmeiras imperais na Praça
Pedro II adornadas pelos canteiros de flores vivas e coloridas. Esta recordação
do meu tempo de criança se faz devido o senhor, seu Alípio já de idade, passar
na minha Rua em Jardim Atlântico com estes gostosos pirulitos. Disse-me ele, já
vendia estes docezinhos na Paraíba, quando morava lá pela cidade de Santa
Izabel. Veio ao Recife e trabalhou como pedreiro, vendedor ambulante e se
aposentou com uma micharia que não dava nem para pagar o barraco em uma favela
em Maranguape. Resolveu vender o que vendia já há tempo em sua cidade. Não
queria voltar, mesmo contra a vontade de sua mulher Dona Florinda, pois lá
seria a mesma coisa, e aqui já vendia dois tabuleiros com cem pirulitos, um
pela manhã e outro à tarde. Tinha grande freguesia na praia aos domingos com as
crianças e também com a beleza do mar coisa que somente veio ter contato quando
aqui chegou. Vendia também no calçadão, da praia. Muitos compravam e saiam a chupar
este delicioso passa tempo caminhando devagar e bebericando agua gelada para
aplacar a sede do sol e do doce. Não
pagava mais transporte, pois tinha acima de sessenta e cinco anos de idade, já
era uma economia. Não gostava de ficar em casa, pois desde criança já
trabalhava na roça com o Pai Zezinho de sol a sol. Tempo
para estudar quase não tinha, pois seu pai era mais pobre do que eu, disse. Já
tinha um filho formado em economia, mas não fazia nenhuma economia gastava
muito nas farras de final de semana. A outra casada com comerciário de uma das
lojas do Recife, vinha todo final de semana para sua casa. E assim a vida ia
levando até que Deus os levasse para morada eterna, acreditava. Não resisti
comprei dez pirulitos a cinquenta centavos cada um e coloquei na geladeira para
distribuir com os meus netos. Agradeceu deu um apito estridente e saiu em
direção a outras ruas do bairro. Fiquei pensando, mesmo com tecnologia
existente nos dias de hoje, ainda existe pessoas simples que nos levam ao
passado de criança.
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