Por Zezinho de Caetés
Faz algum tempo que não transcrevo aqui o imortal Merval
Pereira. Hoje volta a fazê-lo, copiando e colando um texto seu, lá embaixo, que
saiu no seu blog (03.02.2015 – “O começo
do fim”). Foi a análise melhor que eu vi da eleição de domingo no
Congresso, que mostrou a Dilma com “quantos
paus se faz uma cangalha”, e que quem deve usá-la daqui para frente.
O Merval, escritor bondoso e educado, diz que a eleição foi
mais uma etapa da desconstrução da hegemonia petista, eu, um escrevinhador não
tão bondoso e não tão educado, já diria que foi a pá de cal em quaisquer
resquícios de petismo que poderiam ainda existir. E isto não é de hoje. Começou
em 2002, com a eleição do Lula, ou um pouco antes com a tal “Carta aos Brasileiros”, onde ele se
declarou “tucano” e parece que só eu,
ele e o Palocci, entenderam.
Ontem citei aqui o FHC, cujo governo antecedeu ao primeiro
de Lula e que até apoiou o “sapo barbudo”,
ainda pelos pruridos esquerdistas que ainda emanavam da Social Democracia. Ele
não deixou de estar presente durante os últimos 12 anos. Se o Lula fez alguma
coisa ou tentou fazer foi apenas copiar ou surrupiar as ideias que o governo
tucano deixou. O mesmo gosto pelo intervencionismo estatal, foi a ideia que
mais prejudicou o Brasil nos últimos tempos. O mito de que o Estado pode, de
forma completa, ciceronear a vida dos cidadãos, é o que faz emperrar o Brasil,
eu diria nos últimos 25 anos, para não começarmos a citar os acontecimentos nas
caravelas que trouxer para cá o Pedro Álvares Cabral. Desde os planos de
desenvolvimento, agências regionais de planificação, o “tudo pelo social”, o “não
tudo pelo social” do Collor (que tentou implantar o “tudo por mim mesmo”, e caiu do cavalo), a ideia das Bolsas, a ideia
do Fome Zero (de saudosa memória), os Planos de Aceleração do Crescimento (que
estão mais para “Planos de Aceleração da
Corrupção”), o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos, o Mais
Especialidades, etc. etc.
Em todo este período tivemos duas coisas que realmente
funcionaram a partir do Estado, a abertura relativa da economia no governo
Collor e o Plano Real no governo FHC. Eu colocaria neste bolo a Lei de
Responsabilidade Fiscal. O resto foram penduricalhos para angariar votos e se manter,
a custa da ignorância e pobreza do povo brasileiro, no poder.
E hoje, o que temos? Um país governado pela gerenta Porcina,
aquela que foi sem nunca ter sido, como dizem, e que, nesta última eleição
dominical, além de cair do cavalo, pegou uma tosse danada e caminha para o
brejo. E manda uma mensagem ao Congresso que nos dar vontade de rir, se não
tivéssemos medo da tragédia a que tudo isto poderá nos levar. Triste fim do
Policarpo Quaresma. E, para a minha tristeza, li hoje o relatório do Ives Gandra
Martins sobre o impeachment, que outro dia comentarei. Hoje eu cito aqui
somente os seguintes trechos:
“A característica
maior do parlamentarismo é ser o governo da ―responsabilidade a prazo incerto, pois, uma vez escolhido pelo
Parlamento - que é a Casa de toda a nação, onde estão representados situação e
oposição - um irresponsável para chefe de governo, através de votos de
desconfiança, ele pode ser derrubado, sem traumas políticos para a nação.
...........
No presidencialismo,
não. É o sistema da ―irresponsabilidade
a prazo certo, pois, eleito um irresponsável, ou se o mantém até o final no
poder ou deve-se recorrer ao traumático processo do ―impeachment.”
E é nessa linha que o grande jurista conclui que,
juridicamente, o impeachment, está pronto. Ontem começaram, para mim, as
condições políticas. Vamos a ele?
Se ilustrem, e meditem mais com o texto do Merval abaixo, e
eu repito a perua Marta Suplicy, parafraseando-a: “Se o impeachment é inevitável então relaxemos e gozemos”.
“Mais uma etapa da desconstrução da hegemonia petista foi cumprida na
noite de domingo com o alijamento do partido das principais funções da Câmara,
como presidências de comissões ou postos na nova direção da Mesa, que será
presidida, contra a vontade do Palácio do Planalto, pelo peemedebista Eduardo
Cunha, que transformou a maioria megalômana que o governo teria teoricamente na
Câmara em minoria de 136 votos, menos de 1/3 do plenário.
O governo, em uma só eleição, perdeu o controle que sempre tentou
manter sobre o Legislativo e já não é possível garantir que CPIs perigosas para
ele, como a da Petrobras, deixarão de funcionar, ou terão sua constituição
controlada pelo governo. Mesmo por que já não se sabe mais quem é governo e
quem é oposição na Câmara, e tudo terá que ser negociado ponto a ponto, com
ministros responsáveis pela articulação política tendo saído desgastados desse
embate para a presidência da Câmara.
O ministro em teoria responsável maior pelas relações institucionais, o
petista Pepe Vargas, que já não tinha o apoio do próprio PT, mostrou que não se
sai bem também com os demais aliados. Ainda provocou Cunha ao dizer que o
presidente da Câmara "pode muito, mas não pode tudo", o que é uma
verdade, mas o muito que ele pode é mais do que Pepe parece perceber.
Não se saiu melhor o Chefe do Gabinete Civil Aloísio Mercadante em sua
primeira prova de fogo como o mais importante ministro do segundo governo
Dilma, e potencial candidato à sua sucessão. O PT mal começa o governo já
parece sem capacidade para comandar uma base aliada que desde a eleição
presidencial dava sinais de que não caminharia unida nesse segundo mandato,
conseguido às custas de desgastes institucionais que cobrarão seu custo ao
longo dele.
A presidente Dilma, por sua vez, ampliou a distância que a separa do
ex-presidente Lula, que tentou um acordo com o PMDB temendo a derrota, que
afinal veio no primeiro turno, maior do que previam os articuladores
governistas. O que separa Lula de Dilma não são princípios e valores, mas o
pragmatismo, que o ex-presidente tem de sobra e a atual, não.
A disputa com o PMDB, que volta a ocupar as presidências da Câmara e do
Senado, leva o Palácio do Planalto a uma situação de confronto que não serve
aos seus interesses imediatos e, ao contrário, serve aos do PMDB, que se
prepara para apresentar candidatura própria em 2018 ou, no limite, pode ter a
presidência da República no seu colo caso as trapaças da sorte encaminhem o
processo de desgaste petista para um desfecho político provocado pelo
julgamento do petrolão.
A presidente Dilma tem horror a Eduardo Cunha, dizem, por sua
característica marcadamente fisiológica, e teria razão se fosse esse o motivo.
Mas, na presidência da República, e dirigindo um governo montado na base do
fisiologismo, Dilma não tem mais o direito de alegar questões éticas para tomar
decisões políticas.
Desde quando era a chefe do Gabinete Civil de Lula, pelo menos, ela
sabe como o jogo do poder é jogado e já teve a experiência dolorosa no seu
primeiro governo de ter que chamar de volta ao ministério partidos que haviam
sido expulsos por questões éticas. Ganhou as duas eleições a bordo de uma
aliança política construída à base de mensalões e petrolões, e já não tem mais
condições de convencer ninguém de que é contra esses métodos.
Eduardo Cunha de um lado, potencialmente de oposição, e Renan Calheiros
de outro, potencialmente de situação, podem trocar de lado com a maior
tranquilidade, e representam a maneira de fazer política do PMDB. No embate
entre correntes dissidentes nas duas eleições, o DEM assumiu sua vontade de
derrotar o PT e foi com Cunha já no primeiro turno.
O PSDB iria com ele no segundo turno, mas seguiu a máxima expressa pelo
senador José Serra de que para derrotar o PT não vale qualquer coisa. Arlindo
Chinaglia achou que era apoio à sua candidatura, mas na realidade Serra estava
acompanhando a orientação do presidente do partido, o senador Aécio Neves, que
levou os tucanos a apoiar Julio Delgado para dificultar a volta do PSB ao seio
governista.
PSDB e PSB fizeram a coisa certa, apresentaram alternativas às
candidaturas favoritas, e ajudaram a derrotar o governo, que agora tem uma base
de apoio imprevisível para anos políticos imprevisíveis.”
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