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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

VENDEDOR DE CONFEITOS




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Na década de 70, quando existiam os cinemas Moderno, Art. Palácio e Trianon, no Centro do Recife Zé Galego fazia ponto na frente destes cinemas com o seu tabuleiro pendurado no pescoço vendendo confeitos, chocolates, chicletes e cigarros em retalho na calçada no inicio das sessões, revezando e oferecendo aos seus produtos aos espectadores. Ia de um lado para outro, ora estava no Cine Moderno, outra hora no Trianon ou Art. Palácio. Nunca fora ao Cinema São Luís, pois tinha que atravessar a Ponte Duarte Coelho que para ele era desnecessário, e dizia – “quem quer muito fica sem nada” Era alto, sarara de olhos azuis e cabelo encrespado amarelado. Vivia feliz, demonstrava. O sol escaldante era a sua cruz. Sentava-se muitas das vezes na Praça Joaquim Nabuco aos seus pés se amparando do sol que lhe queimava a pele branca e rosada. O boné vermelho que usava não lhe era confortável, pois o calor fazia escorrer suor pelo rosto. Percorria a fila oferecendo os seus produtos de entretenimento dentro do cinema.  Esperava abrir a bilheteria. Era alegre e fanfarrão. Tirava pilheria com muitas pessoas, muitas não gostava do atrevimento e revidava. As meninas que faziam ponto na esquina do cinema era o seu xodó. Conhecia todas e seus amores. Pilheriava com todas elas e as vezes distribuía chicletes com elas. Galego me da um chiclete gritava. Respondia sorrindo, o que você me dá em troca? O que tenho que dar é mais caro do que chiclete. Mas se você me der dois chicletes nós vamos ali lhe dou o merecido, ria e saia rebolando enquanto o Galego comentava com o seu companheiro de profissão, essa aí é das boas, já fui com ela na pensão aqui na Rua Frei Caneca é um chuchu. Deixa tua mulher saber que tu vai ver uma coisa. Vai levar uma camada de pau e enquanto não sarar a ferida tu vai dormir no chão frio na sala chupado pelas muriçocas.  Sabe nada ela nunca veio aqui tem vergonha do que eu faço. Mais um dia a casa cai e ai tu vai saber com quantos paus faz uma gangorra. Gostava de se mostrar, mesmo nas condições que tinha afirmava com todas as letras que era um homem bem de vida e, ninguém duvidava. Com o seu trabalho cansativo sustentava os filhos matriculados no colégio do estado no Parque Treze de Maio, à tarde. Nos domingos a tarde vinham sempre assistir algum filme era o seu divertimento ou ir a praia em Olinda.  Três, dois meninos e uma menina Florisa. Sabia que mais cedo ou mais tarde o seu esforço era recompensado com a formatura dos seus filhos. Era o seu orgulho, nunca se misturou com gente de má qualidade, mesmo morando no morro em uma casinha pobre. Muitas das vezes para descansar ia tomar uma cerveja no Bar do Mijo, vizinho ao Cinema Moderno. Tirava o boné vermelho e enxugava com uma toalha que servia para amenizar a dor do cordão no pescoço e enxugava o rosto. Ali na mesa sentava-se e colocava o tabuleiro na cadeira e saboreava a sua geladinha. Pedia um tira gosto de galinha guisada e dizia - este é o meu almoço. Ouvia as musicas de Valdick Soriano, Agnaldo Timóteo e Nelson Gonçalves, Dalva de Oliveira, somente musica de roedeira. Para relembra os tempos passados quando a saudade batia do seu interior Limoeiro. Naquele tempo era um tempo bom. O pai trabalhava no campo. O sitio tinha de tudo, feijão, milho, mandioca e jerimum. Alguns pés de mangueiras e goiabeiras e um riacho que cortava todo o terreno onde se plantava verduras, o coentro, cebolinho, alface, tomate e pimentão, com alguns pés de quiabo. Tudo era de fartura. Quando o véio morreu cada um tinha que se virar, pois éramos seis irmãos quatro homens e duas mulheres todos já casadas e com a sua vida feita, somente eu me meti vir para a capital, sem estudo e muitos menos tempo para estudar, pois não tinha dinheiro para me alimentar fui morar no morro e lá ainda estou hoje, com a graça de Deus. Muitas das vezes se atrevia a jogar porrinha conosco. Perdia e ganhava e dizia - a vida é de ganhos e perdas, saia e ia para porta do cinema. Morava no Morro da Conceição e todos os dias ao descer a escadaria rezava aos pés da Santa sua protetora para lhe dar saúde e paz para exercer o seu trabalho humilde. Benzia-se e descia para apanhar a condução na Avenida Norte. O ônibus elétrico, que muitas das vezes ficava na rua por falta de energia elétrica. Diariamente fazia este pedido e agradecimento à noite quando retorna para sua humilde casa. Os pecados que eu faço peço perdão todos os dias, mas mesmo assim sou um homem pecador. Ia para casa descansar após uma jornada de oito horas sob o sol e a chuva nas portas dos cinemas, chegando a casa por volta das onze horas da noite.

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