Por Lucinha Peixoto (*)
Eu disse que estava escrevendo sobre o Natal e estava mesmo.
Fui interrompida pelo Sr. Ccsta e pelo Xico Pitomba, que não respeitam nem o
natal dos outros, já que eles mesmos não o tem. Agora vou tentar fazê-lo sem
muita certeza de quando o poderei publicar.
Quando escolho um tema para escrever, primeiro vejo minha
experiência pessoal e de preferência me reporto ao meu querido Bom Conselho
onde passei bons natais em minha vida. Desde tenra infância, quando o principal
parque de diversão era na Praça Lívio Machado e constava apenas dos barcos e
dos “trivolins” como chamávamos aos
carrosséis, tão pobrezinhos, coitadinhos.
Mas, a principal diversão não era esta de parque, que também
tinha a “onda”, que era uma espécie
de círculo com cadeiras que girava em torno de um mastro e fazia-nos subir e
descer, mas sim as rodadas na Pedro II, e as brincadeiras com as colegas na
própria praça.
Não me lembro de Papai Noel por lá nesta época. E só agora
lendo o texto da Tereza Halliday, que li no Diário de Pernambuco, e que transcrevo abaixo, onde ela questiona
sobre o que tem o natal a ver com Jesus. O Papai Noel segundo ela foi uma
invenção da Coca-Cola. Morrendo e aprendendo, como já dizia o mosquito da
dengue que não quis fugir do fumacê. E ainda falam dos americanos. Nós, para
quem hoje é Deus no céu e Papai Noel na terra, falamos deles com desprezo,
quando inventamos esta onda de que “o que
é bom para os Estados Unidos não é bom para o Brasil” , quando dizíamos o
contrário antes e hoje apenas sabemos os imitar.
Os nossos heróis são o Macunaíma e o Saci-Pererê, e falamos
do Super Homem porque ele é americano. É o nosso velho complexo de vira-lata.
Nos sentimos bem em falar mal do que é correto porque não podemos sê-lo, e
quando já estávamos conseguindo, vem o governo Lula e finge que somos um país
grande e que já podemos competir com o mundo. Esquecemos nossos problemas,
todos resolvidos pela ascensão ao mercado de consumo de 28 milhões de pessoas,
que antes não sabiam que Papai Noel existia e agora sabem. Se a crise
continuar, eles irão odiar o Lula Noel, pois querem o Papai Noel e não o terão
no próximo natal.
Vejo que estou muito pessimista, e não era para menos. Esta
semana não pude ser o que normalmente sou, uma otimista. Comecei dizendo que o
Brasil não é sustentável com o que aí está, me defendi dos meus perseguidores e
venho escrever sobre o Natal. O que vocês queriam? Que eu começasse cantando
“Gingobel”? O melhor que faço para não continuar tornando pessimistas aqueles
que me lêem, é deixar vocês lerem alguém que transmita mais otimismo do que eu.
Fiquem com a Tereza Halliday e tenham um Feliz Natal, se puderem. Enquanto isto
eu fico aqui tentando um “sinalzinho” da rede para publicar isto.
“O dicionário registra
duas acepções para o verbete “natal”: adjetivo derivado de nascimento, como na
expressão “acompanhamento pré-natal”, envolvendo as gestantes; e substantivo
masculino designando a festa religiosa dos cristãos, para celebrar o nascimento
de Jesus, seu mestre, Deus encarnado e Salvador. Falta dicionarizar um terceiro
significado do termo: Natal - evento de consumo e encontros sociais manifestado
por copiosas compras de objetos, comidas, bebidas e reuniões de
confraternização; beneficia-se do sincretismo com a celebração religiosa do
mesmo nome.
Esse Natal nada tem a
ver com Jesus, o do Sermão da Montanha. Deveria ser chamado Natal Social ou
Natal Consumal. É festa laica, profana, tingida de sentimentos de solidariedade
sazonal e desejos de ganhar presentes, inculcados desde cedo nas crianças. Sua
ocorrência produz marcantes efeitos comerciais e psicossociais. Seus promotores
e participantes (quase todos nós) vestem a camisa da comemoração do aniversário
de Jesus e apropriam-se de símbolos ligados às tradições festivas dos cristãos:
o presépio, as canções para enternecer, a árvore de Natal, os Três Reis Magos,
o personagem de marketing Papai Noel, criado pela Coca-Cola em meados dos
século XX - caricatura do lendário bispo Nicolau (anos 270 - 343) de Myra,
Turquia, que teria sido um presenteador secreto de dinheiro aos necessitados.
No Natal Social,
muitos sofrem quando não podem comprar roupa nova, pintar a casa, estar
acompanhados, corresponder ao modelo de felicidade natalina proposto por
marqueteiros e mídia. Também é o tempo de ser pressionado a ajudar os de renda
mais baixa a descolar “as festas”, em caixinhas com fendas para o donativo,
envelopes de entregadores de jornais e listas de funcionários de condomínio.
Argumentos induzindo à solidariedade ou ao sentimento de culpa são usados por pessoas
físicas e jurídicas nesta época. Mas os paupérrimos também precisam de comida
nos dias que não são “de Natal”.
O Natal festa do aniversário de Jesus, que se
convencionou celebrar a 25 de dezembro, oferece grande oportunidade aos que
aceitam a sua mensagem de Paz, Simplicidade e Perdão: refletir sobre a imensa
responsabilidade de ser cristão, caso queira sê-lo de verdade. O Natal Social,
evento de consumo e de contatos, plenifica-se nas estatísticas do aumento de
vendas e endividamento. É azáfama, excesso de agitação, escassez de paz. Busca
encher o vazio com muita luz, cor e som. No sincretismo das duas festas homônimas,
há que estar consciente das diferenças fundamentais entre elas. E, já que são
duas, desejemos com benevolência: Felizes Natais!”
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(*) Em tempos de não muita produção para o blog sempre me
valho dos amigos para que nossos leitores tenha sempre uma boa leitura diária.
Desta vez minha vítima é a amiga Lucinha Peixoto, de quem reproduzo um texto
que saiu originalmente no seu Blog em 23 de dezembro de 2011 (aqui).
Lucinha é sempre uma leitura agradável, e com ela já desejo um Feliz Natal para
todos. (Zé Carlos).
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