Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Quando criança em Bom Conselho, dois dias da semana
éramos submetidos a catar as lêndeas nos cabelos. À tarde às três horas éramos chamados
pela minha mãe e tia Carlinda e deitar na poltrona marrom na sala de visita com
a cabeça no seu colo sobre uma pequena toalha branca e passar o pente fino nos
cabelos. Doía, pois penteado era com força para cair às lêndeas ou piolhos que
porventura existe na cabeça. Era um tormento. Choramingava, mas nada amolecia o
coração delas. Cala a boca, menino já está terminando, dizia minha mãe. Olha
uma lêndea aqui quando caia na toalha, espremia na unha e começava tudo de
novo, Quieto já estou terminando e nunca terminava. Meia hora parecia um
século. Tomávamos banho. Lava a cabeça com juá, mas esta penitencia acontecia
independente deste asseio. Nunca se esqueciam, toda semana duas vezes acontecia
esta penitencia. Às vezes por não querer
este sacrifício escondíamos embaixo da cama, no quarto escuro e ali ficávamos
um tempo até que esquecesse. Quieta dizia para Dodora. Nem um pio, sussurrava.
Um grito ecoava no corredor da casa, era Tia Carlinda que chegava. Nedi cadê
Zetinho? E Auxiliadora? Eles estavam neste instante ai na sala, respondia. Cadê eles? Não sei! Estes meninos é um perigo,
dizia a minha mãe. Vá lá ao terreiro talvez ele esteja lá brincando com pião e
ela com suas bonecas embaixo do pé de eucalipto. Tia Carlinda ia, mas não
encontrava. Nedi tu tem que botar estes meninos em castigo, senão daqui uns
dias eles vai fazer o que quiser. É bom cortar o mal pela raiz, pois depois nem
um machado corta, e sentava-se na cadeira emburrada. Levantava-se ia ate a
cozinha e ali ficava a reclamar da travessura que fazíamos. Quando eles
aparecerem vão ver uma coisa! Tu vai ver! Vou dar uns puxão de orelhas e dois bolos
em cada mão para eles obedecerem, verá! Escutávamos este aperreio embaixo da
cama caladinho. Nem um suspiro alto podia fazer e tossir nem pensar. Quando
acalmava saímos devagarinho ia até o terreiro de Dona Luiza brincar de chimbre.
Ou pião. Ela ia para a casa de Margarida brincar de casinha com as bonecas e
calungas uns brancos e outros pretinhos, comprados na loja de Gabriel, no
quadro. A algazarra era grande. Ouvíamos
a queixa da rendeira por causa do barulho que lhe atrapalhava fazer “bicos”, “bordados”
na sua almofada bem grande, branca cercada por bilros com o seu tilintar nas
mãos ágeis de rendeira. De vez em quando havia briga entre os meninos por causa
de uma jogada. Alguns palavrões aprendidos no meio dos mais sabidos eram
gritados. Lá pelas cinco horas da tarde aparecia em casa, desconfiado. Menino
onde tu se meteu? A tarde toda te procurando para olhar os teus cabelos, se tem
lêndeas ou piolhos e tu desaparece? E sua irmã onde está? Entrava desconfiado
esperando pelo castigo. Venha cá! Abra a
mão! Vai levar dois bolos com a palmatoria pretinha, para obedecer a sua mãe e
a sua tia. Ai! Ai1 Ai! Gritava. Agora vá para o quarto somente saia quando eu
mandar. Saia chorando para o quarto. Este passado era feito por várias famílias
que moravam na belíssima Rua do Caborje, rua da minha infância querida, lá
pelas quatro horas da tarde as senhoras colocavam cadeiras ou espreguiçadeira
na calçada e as meninas e meninos também e eram obrigados a colocar a cabeça no
colo para catar piolho ou lendas. As meninas com os seus cabelos longos eram
amaciado com pentes finos e aberto com as mãos à procura de bichinhos
indesejados que envergonhava as crianças e principalmente as mães responsáveis.
O maior cuidado era para escola para que a professora não visse alguns destes
bichinhos. Assim foi a nossa educação de criança eram obedecer aos mais velhos,
principalmente os tios que tinha que dar a benção. Ai daqueles que não
procedesse desta forma, seriam castigados, e o pior castigo era você não ir à
matinê no Cinema Rex ver o seriado que deixava todas as crianças na expectativa
se ver se o “mocinho” se salvou dos “bandidos” ou não.
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