Por Zezinho de Caetés
Ando um pouco sumido aqui deste espaço. Tenho outros
afazeres, mas, não consigo me desligar da nossa situação de crises política,
econômica, social e moral, que nos maltrata, não necessariamente nesta ordem.
Num país serio, já teria saído o impeachment da Dilma, o
Lula estaria preso e o Levy, o traído, já estaria fazendo um pós-doutorado em
Chicago, de onde não deveria ter saído, pelo menos naquilo que eles o
ensinaram.
No entanto, havia uma Cunha no meio do caminho, no meio do
caminho tinha uma Cunha, para parafrasear o poeta, que hoje morreria de
desgosto com o mar de lama que ameaça, literalmente, cobrir sua cidade em Minas
Gerais. E hoje, já é possível dizer que, também num país sério, o Eduardo Cunha
jamais seria nem presidente da câmara de
vereadores, lá em Caetés. Tenho certeza que a reserva moral de lá, não
deixaria.
E aí estamos nós, chamados de povo, esperando que uma operação
policial, a Lava Jato, resolva nossos problemas. Mas, como todos sabem, o
ditado que diz, que “a justiça divina,
tarda mais não falta”, aplica-se só à justiça divina, mesmo. A nossa
justiça tarda tanto, que no final das contas, não se faz justiça. Estão aí os
políticos atuantes esperando que seus 1001 processos prescrevam, para saírem
ilesos de condenação, e isto, é cada dia mais comum.
Vejam o meu conterrâneo, o Lula, tentando sobreviver até
2018 para tentar se safar da justiça. Só nos resta agora um tipo de pressão. A
pressão das ruas, e por isso, no dia 15 de novembro, não fique em casa. Vamos
pressionar a justiça para que ela ande em ritmo de Sérgio Moro, o nosso novo
herói. Só podemos perguntar, lembrando de um título de filme antigo: “Quo vadis, Brasil?” (Para aonde vamos,
Brasil?).
E para ser mais detalhista, eu paro de escrever e dou a
palavra ao imortal Merval Pereira, que em seu texto “Os caminhos da crise” (10/11/2015 – Blog do Merval), que
transcrevemos a seguir, mostra a enroscada em que estamos metido.
“A melhor solução para Lula é o impeachment de Dilma, segundo o
ex-ministro de FHC, Lula e Dilma Nelson Jobim, que se transformou na figura
mais importante a atuar nos bastidores dos três poderes de que já participou:
foi o relator da Constituinte, foi ministro de Estado, e presidiu o Supremo
Tribunal Federal.
A melhor solução para Dilma é Eduardo Cunha permanecer na presidência
da Câmara, na avaliação de importantes assessores do Palácio do Planalto.
Enquanto Cunha tiver o poder de aceitar o processo de impeachment, terá força
para continuar a chantagear governo e oposição, sem sair do lugar.
Até que o tirem de lá, tarefa que depende basicamente dos deputados,
mas que tudo indica não será cumprida devido ao receio, diria mesmo pânico, de
que Cunha revele os muitos segredos que sabe de vários deputados e senadores.
Este é o resumo da situação a que chegamos, em que de chantagem em
chantagem os poderes da República vão ficando paralisados, cada um tentando
sobreviver aos ataques previsíveis apenas para sobreviver, sem maiores projetos
para o futuro.
Para a presidente Dilma, o mais importante é não cair, seguir adiante
até que seu mandato termine e ela possa ir para casa com o troféu de pior
presidente da República da história, mas sem o constrangimento de ter sido
derrubada.
Já Eduardo Cunha luta para não ser preso. Assim como acha que o Palácio
do Planalto tem capacidade de manipular a Polícia Federal e o Ministério
Público para persegui-lo, acha também que o Procurador-Geral da República não
terá coragem de processá-lo enquanto presidir a Câmara, pois o Planalto o
protegerá. Ledo e ivo engano, como diria o Cony.
Tudo indica que Cunha vai ter que explicar para os ministros do STF
essa história da carne moída num processo que, de acordo com as provas que já
foram anunciadas, possivelmente o levará para a cadeia.
Desse ponto de vista, é mais fácil derrubar Cunha do que Dilma, pois no
Brasil criou-se a fantasia de que só roubo em benefício próprio justifica um
impeachment. Com essa tese jurídica, permite-se que diversas leis sejam
violadas pelo presidente da República do momento, dando a ele o poder de estar
acima das leis se não for um reles ladrão.
Roubar pela causa, ou utilizar o dinheiro público para criar as
condições para a eleição de seu candidato, como fez Lula em 2010, fazendo o
país crescer a 7,5% no ano, mas escangalhando as contas públicas, isso pode. Ou
facilitar a reeleição com abuso do poder econômico, hábito da política
brasileira que a Lei de Responsabilidade Fiscal pretendeu evitar, isso também
pode, sem que se veja nesses atos o que eles realmente são, crimes contra o
patrimônio público puníveis com impeachment.
Enquanto a política brasileira segue nessa pasmaceira, pioram as
previsões para a economia também em 2016 e a crise tripla – política, econômica
e moral – não parece ter uma saída plausível, pois os acordos políticos já não
obedecem a parâmetros civilizados.
Os players desse jogo truncado ganham com a paralisia das ações, e não
há regras morais que as limitem. Vale tudo para alcançar o objetivo imediato,
que é o de sobreviver no cargo.
Esse, como se vê, não pode ser o caminho virtuoso de um país em busca
de seu destino. Não temos hoje na vida pública figuras que inspirem confiança,
e por isso não é surpreendente que pesquisas de diversas procedência informem a
rejeição maciça aos políticos e aos partidos.
Forma-se nessa marcha a condição
para uma disputa presidencial em 2018 mais fragmentada do que a de 1989, a
primeira eleição direta para presidente da República depois dos anos
ditatoriais e a transição para a democracia iniciada com a eleição indireta de
Tancredo Neves.
A não ser que saiam das operações Lava-Jato, Zelotes e similares
definições de culpa que mudem o panorama atual e encurtem o caminho.”
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