Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Uma pequena cidade “Sem Nome” com mais ou menos de vinte mil
habitantes, cercada por grandes colinas verdejantes e o rio Pena Funda correndo
calmamente com suas aguas límpidas atravessando a cidade. O clima frio e um sol
brando são atrativos dos visitantes para descansar nas pequenas hospedeiras. Uma
cachoeira é ponto de encontro dos pequenos citadinos. Joaquizinho era um homem
já com os seus quarenta anos de vida tribulada na cidade, gostava de jogar
bilhar no bar do seu Raimundo e tomar algumas cachaças na mercearia de Dona
Flor. Gostava de vê-la todos os dias, sentia uma paixão mais não era
correspondida por ela. Isso o maltratava. Mas o que fazer? Admira-la e
conversar todos os dias por volta do meio dia, ali sabia de todos os fuxicos
que acontecia tanto nos meio dos abastados moradores como dos pobres. Saia com
um relatório completo e contava ao Chiquinho seu companheiro de “não fazer
nada”. Dizia-se um galã, mulher não resistia o seu encanto de um moreno alto,
olhos castanhos e barba bem aparada e cabelos lisos, somente uma resistia a
este encanto – Dona Flor. A noite lá pela meia noite saia com um bando de
homens a fazer serenata pelas ruas mal iluminadas com o toque do violão e
cavaquinho tocados por Juquinha e Mariola acordando os donos de casa que muitos
ficavam raivosos. Sabia cantar, não era
um cantor mais gabava da voz na alta madrugada. Conversando, no meio da Praça
Pão Duro com alguns amigos desejava saber das mulheres que traia seus maridos.
Pelo que ele ouvia no baixo clero, na mercearia e no bar muitas beatas de porta
de igreja botava ponta nos maridos, sem que ninguém notasse. Ninguém queria
arriscar um palpite. Mas ele desejava saber era o que importava. Mas quem
poderia dar-lhe esta informação? Pensou e partilhou este seu pensamento com
Chiquinho em uma tarde friorenta tomando conhaque na mercearia de Dona Flor.
Conversa vai e conversa vem, alguém lhe sugeriu uma pessoa que sabia da vida de
todos os moradores – padre, este sim sabia de tudo, pois elas e eles se
confessavam, mas como saber se a confissão o padre não poderia revelar. Mas
para tudo tem um jeito e Raimundinho pensou, pensou e disse – vou me confessar
e vou mentir para o padre e tenho certeza que ele vai divulgar o nome das
mulheres, pois eu não vou contar o nome dela. E assim se programou. Um dia
encontrando o Padre na praça indo visitar os idosos em um abrigo no final da Rua
do Papagaio, - disse Padre quero me confessar! O padre olhou e disse hoje não
confesso ninguém, pois estou indo visitar uns doentes. E seu pecado já os
conhece muito bem, já estão perdoados. Mais padre este pecado que tenho para
lhe confessar é muito grave, muito grave e se eu morrer vai direto para as
quintas do inferno e isto o senhor não vai querer, vai? O padre olhou
desconfiado e disse amanhã você vai à igreja pelas quatro e meia e antes de
começar a missa você me diz que pecado extravagante é este. Sim. Raimundinho
saiu satisfeito rindo atoa. Amanhã eu sei de tudo, disse
a Chiquinho, que falou se o padre desconfiar vai te excomungar e ai sim vai
direto falar com Lúcifer, rei do inferno e com certeza ele não vai ficar
contigo. Risos. No dia seguinte foi até a igreja. Chegou por volta das três e
meia da tarde. Entrou na fila da confissão onde já tinha seis mulheres na sua
frente. Olhara-o com desconfiança e desdém. Sabiam elas o predicado do
Raimundinho na cidade, pois corria de boca em boca as estripulias dele.
Aguardou pacientemente. Já estava para desistir, quando a última saiu e ele
ajoelhou-se, sereno e calmo. O coração batia descompassadamente, pois ia fazer
uma confissão de mentirinha, o que já era um pecado mortal. Diga o seus pecados
Raimundinho. Olhe seu padre é um pecado mortal, tenho até medo de dizer-lhe.
Diga meu filho, qual o pecado cometido por você que eu não sei? Olhe seu padre,
eu ontem dormi com uma mulher casada! O que? O que? Eu não disse que o pecado
era cabeludo. E quem é a mulher? Não digo não senhor! Diga você esta no confessionário!
Digo não! Ah já sei mais ou menos foi com Dona Florinda, àquela espevitadeira?
Foi não! Então deve ter sido com a cabelereira Doroteia, foi? Foi não! Diga o
nome da mulher! Digo não! A já sei você quer esconder Marinete, todos dizem que
não tem pudor. Não padre eu não digo. A mulher do seu Manoel da Venda, a
Dorinha, foi? Não! Olhe seu padre não vou dizer. Passe logo a penitencia. Vou lhe dar como penitencia rezar quarenta
padres nosso e cem ave Maria. Ajoelhou-se fingindo rezar. Saiu devagarinho,
contente atravessando a praça indo ao encontro de Chiquinho, dizendo “eis a
lista”.
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