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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O "complexo de boi-de-carro" e a diplomacia de formiga




Por Zezinho de Caetés

O texto que hoje comento e apresento a você, abaixo, é ainda da semana passada (26/07/2014 – Blog do Noblat), no qual o jornalista Ruy Fabiano, de forma não muito diplomática, mas, justa, desanca a política externa do PT. O texto chama-se “Militância diplomática” e resume tudo o que ficou de nossas tradições diplomáticas, e que nos lembra sempre o Barão do Rio Branco.

Como sabemos, a Diplomacia entre as nações fica muito perto da diplomacia usada entre as pessoas para que consigamos nossos intentos, sem violência. Não podemos dizer que a Diplomacia é uma atividade para anjos ou para santos, embora alguns destes tenham tentado entrar no ramo. Nos dois aspectos ela é usada para defender nossos interesses, e neste ponto, não há ninguém mais diplomático do que nosso conterrâneo Lula.

Deste a época de líder sindical que ele se revela um autêntico embaixador para cooptar as pessoas para sua causa. Lembram-se que ele já era o Barba,  informante do governo militar, segundo o Romeu Tuma Jr.? Quem diria que um dia, o Sarney, o Collor, o Jader Barbalho, o Renan, e outros menos famosos inimigos de Lula no passado, pudessem estar hoje no mesmo palanque do meu conterrâneo, como se nada tivesse acontecido? O Lula sempre foi um Itamarati ambulante (sem querer ofender o antigo Itamarati). Mas, incentivado pela sua ignorância em relação ao que se passa no mundo, fora do PT e do sindicalismo, a política externa a que submeteu o país, entregue ao Marcos Aurélio Garcia, que ainda hoje deve, ao levantar, rezar na frente de um retrato do Hugo Chávez, a uma diplomacia não visando os interesses brasileiros, mas sim visando causar mal aos Estados Unidos e à Europa.

Ainda continuamos com o “complexo de boi-de-carro” de que vivemos na pior porque somos fortes mas o carreiro não nos deixa mostrar nossa força. Então abaixo o carreiro, mesmo que saibamos que o carreiro pode nos ser útil e até no futuro possamos trocar de lugar. Para sairmos da pior devemos nos unir a tudo que há de ruim para eliminar o carreiro, mesmo que dependamos dele para a comida. Boi magro, sim, mas com orgulho. Isto é diplomacia pessoal, como a do PT é diplomacia partidária.

E esta é a questão relevante mostrada no texto do Fabiano. Diplomacia e militância partidária faz desta arte útil entre as nações apenas um exercício de ideologia, no caso do Brasil, o bolivarianismo que deixou a Venezuela já no chão, e que o Marco Aurélio Garcia tenta empregar todo o tempo no Brasil.

No caso específico da guerra entre palestinos e israelenses, a pequenez deste tipo de diplomacia chega ao delírio. É muito menor do que qualquer “anão”, é uma diplomacia de formiga. Mas, quem é aliado das Farcs, como ser contra ao Hamas? E este é o PT. Afinal de contas, em nome do bolivarianismo deixamos o índio boliviano tomar as instalações da Petrobrás no país, e não dissemos nada. A reação de Lula ao fato foi muito “proporcional” à sua noção de diplomacia entre países, isto é, nenhuma. E vou mais longe, se algum dia as Farc começarem a mandar foguetes todos os dias, atingindo nosso povo, e o PT ainda estiver no poder, certamente, não se fará nada, porque eles estão lutando pela ideologia da coca.

A militância petista, se continua no poder, não se enganem, levará a todos a usar uma estrela vermelha na lapela, do mesmo tipo que o Lula usava, e que agora renega depois que ela é associada, com justiça, à corrupção.

Bem, para um fim de semana, chega de fazer diplomacia militante para que não reincidamos no erro e tiremos de vez a Dilma do poder. Aliás, esta só é diplomática nos estádios de futebol quando a torcida a orienta para onde ir. Esperamos que ela vá, e não volte. Fiquem com o Ruy Fabiano.

“Diplomacia, como se sabe, não é exatamente campo adequado para exercícios de militância.

O Itamaraty, desde os tempos do Barão do Rio Branco, cultivou o que veio a se chamar de pragmatismo responsável, o que o tornou considerado nos fóruns internacionais.

Sendo o Brasil um país ainda periférico, sem grandeza bélica, sempre evitou entrar em briga de cachorro grande.

Seu ingresso na Segunda Guerra Mundial foi precedido de amplas negociações com os Estados Unidos, que resultaram na Siderúrgica de Volta Redonda, na Eletrobras e no consequente up grade em sua infraestrutura industrial.

Mesmo assim, só o fez, já na etapa final do conflito, depois de ter navios em sua costa bombardeados pelos nazistas. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Mas esse era o Itamaraty pré-PT, cujas linhas-mestras sobreviveram aos mais variados governos, incluindo os da ditadura militar.

O PT introduziu na diplomacia brasileira o vírus da militância. O país deixou de lado seus interesses - comerciais, políticos, estratégicos -, perdendo mesmo a noção de sua desimportância relativa, e passou a orientar sua conduta pelo viés ideológico.

A adesão ao bolivarismo chavista – de cuja gênese o PT participou, via Foro de São Paulo – o distanciou de parceiros tradicionais, como Estados Unidos e União Europeia.

Em compensação, o país passou a apoiar – e financiar – ditaduras, como as de Cuba e do Sudão, que contabiliza assassinatos numa ordem de grandeza que supera a soma de diversas Faixas de Gaza. Seus aliados preferenciais, na geopolítica global, são países como Coréia do Norte e Irã.

Alia-se a forças criminosas como as Farc, que mantêm campos de concentração na selva e vivem do que apuram com sequestros e venda de drogas. O chanceler de fato, Marco Aurélio Garcia, recusou-se a admiti-las como grupo terrorista, optando pela expressão oblíqua de “forças insurgentes”.

É compreensível, já que suas lideranças sentavam-se lado a lado do PT no Foro de São Paulo. Grande parte dos assassinatos que ocorrem anualmente no Brasil – mais de 50 mil, a maioria pobres e jovens – decorre dessa aliança sinistra, que igualmente supera em muito os até aqui sacrificados da Faixa de Gaza.

Eis, porém, que, não satisfeito em protagonizar uma diplomacia pelo avesso no continente, o Itamaraty decide incursionar pelo Oriente Médio. Lula já havia aparecido por lá, quando presidente, sustentando que sua experiência de sindicalista, habituado a negociar, seria suficiente para clarear um conflito que há décadas desafia as maiores diplomacias do planeta.

Expôs-se (e nos expôs) ao ridículo, sobretudo porque, além de não negociar coisa alguma, optou claramente por uma das partes – no caso, os palestinos. Eis que agora o ridículo se repete. E, de certa forma, com maior gravidade, pois a militância diplomática se dá em pleno conflito.

Diplomacia não comporta amadorismo. O Brasil não integra o grupo de países com expressão geopolítica, que exercem influência na região e nos fóruns internacionais. O primeiro dever da diplomacia é o desconfiômetro, isto é, perceber o seu tamanho. Foi mais ou menos isso que, para nosso constrangimento, nos disse o porta-voz do governo israelense, ao nos qualificar de “anões”.

O conflito de Gaza tem complexidade bem maior que uma negociação sindical. Não começou hoje e nem se sabe quando, como e se terminará. Apelar ao cessar-fogo – gesto-clichê que as grandes potências fazem enquanto buscam uma saída - implica não julgar as partes em conflito.


O Itamaraty valeu-se do jargão, para, em seguida, condenar apenas uma das partes, exatamente a que não teve a iniciativa do presente embate. Militância e diplomacia são práticas que se repelem e, quando se insiste em misturá-las resulta no que se viu: vexame.”

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