Por Carlos Sena. (*)
Hotel Monteirão. Bucólico, no
centro de uma cidade "grande" por nome ARCOVERDE. Boa noite,
cumprimentei o porteiro - um senhor com aparência cansada, passos lentos e voz
trôpega. Deveria estar beirando os 80 anos (perguntei-me e não me respondi).
Mal ele me ouviu, mas me deu boa noite. Tem vaga? Ele se virou e pegou um
caderno. - Qual seu nome? Falei meu nome. Ele anotou e pegou uma chave com uma
tabuleta e nela a numeração 104. Pode subir, disse o senhor. Mas, quanto é a
diária? - Com ar ou sem ar? - Com ar.
Disse-me ( voz cansada e cara de sono) que era R$ 60,00 com ar e sem ar
R$ 45,00. Com permissão, isso me lembrou de um puteiro em Manaus: um colega de
trabalho estava lá comigo e, movido pelo seu instinto de macho (ou machucado)
paquerou uma quenguinha que estava por perto se oferecendo. Como não era minha
praia, fui pro meu hotel e ele foi com a rameirinha para uma pensão de quinta.
Na portaria da pensão escura estava um senhorzão cochilando sobre um birô não menos
velho e escorado por dois tijolos. Levantou os olhos em direção aos
"pombinhos" e foi logo perguntando: "com som ou sem som"?.
Meu amigo ficou sem saber responder, mas foi perspicaz e perguntou quanto
custava "com som e sem som". Com som é dez, sem som é cinco real,
respondeu. Pelo sim, pelo não, e pelo preço que não era caro em nenhuma
modalidade pediu "com som". O "senhorzão" abaixou a cabeça
e cavoucou debaixo do birô e arrastou de lá um radio AM. Entregou nas mãos do
meu amigo e recomendou: o pagamento é adiantado e quando vortá traga o radio e
a chave do quarto... Boas gaitadas demos juntos ao ouvir essa história
histérica e histriônica de um puteiro na zona franca. E como era franca essa
zona, literalmente franca. Depois fiquei me lembrando de um livro lindo de
Garcia Marques MEMÓRIAS DE MINHAS PUTAS TRISTES. A historia se repetiria no
mesmo naipe de putaria? Sei não. Melhor voltar para o hotel Cruzeiro que é simplinho, mas decente. Peguei a chave e subi um lance de escada. Mas
o senhorzão se lembrou de me avisar antes de eu subir completamente: no final
do corredor, após o jardim. Subi e, surpresa: um belíssimo jardim se
descortinava no centro do hotel, no formato de pracinha de interior. Lindo. Por
que não dizer belo? Adentrei ao quarto. Simplório e com uma decoração de gosto
duvidoso, como se diz na moda brega toda. Mas, pra passar uma noite estava bom
demais, pois era limpo, roupa cheirosa e chuveiro quente. Antes que o sono me
pegasse pelo pé, matutei com meus botões e com meus zíperes e com meus
colchetes: custava nada o porteiro ter me dito "o quarto com jardim é R$
60 e o sem jardim R$ 45"? Puta que pariu, nunca pensei ver um jardim tão
lindo perdendo feio para um ar condicionado... Fazer o quê? Melhor mimi nessa
cama cheirosinha.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 22/07/2014
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