Por Zezinho de Caetés
No momento em que escrevo, estou ansiosamente esperando uma
pesquisa do Ibope. Eu, de longe, observo o comportamento do mercado financeiro.
Pela sua subida ontem, a Dilma deve ter ido para um local mais fundo do brejo.
Dizem que também sobrou para o Aécio e ele agora além de estar na rabeira no
primeiro turno, ficou ainda mais longe de Marina. O grande problema da política
neste país, e nem sei mesmo se é um problema ou uma solução, é a sua
imprevisibilidade.
Ora, como tudo está uma bagunça danada, por que não
transcrever um texto do dia 23 (Blog do Noblat), em que o jornalista Ruy
Fabiano analisa a política, pelo menos, com um título interessante: “A política da antipolítica”. Nele, ele
procura analisar o que é a política de Marina Silva, que diz que quer adotar a “nova política” ou o que ele chama de
antipolítica.
Isto, para mim, que já quase fui petista um dia, e graças a
Deus, me livrei deste mal, amém, não é novidade. Vocês se lembram que o PT era
um grande defensor da nova política, onde existe moral e participação popular,
e blá, blá, blá... Lula, perdeu 3 vezes as eleições presidenciais com este
discurso, até lançar a Carta aos Brasileiros, que podemos resumir o conteúdo
como: Pronto, a partir de agora vamos praticar a “velha política” e vamos que vamos. E venceu as eleições. O que
aconteceu desde então?
Com o PT no poder a política se tornou tão velha e tão
esclerosada que o Lula disse que Sarney era um homem incomum e deveria ter
tratamento VIP, como hoje ele quer este tratamento para ele mesmo, considerando
a si próprio o grande deus salvador da nação brasileira, desde antes de Pedro
Álvares Cabral, ou, mesmo antes, pois ele deve ter aconselhado aos índios qual
a primeira parte do bispo Sardinha que eles deveriam comer.
Até o dia 13, influenciado pela Marina, o Eduardo Campos
adotou o discurso da “quase nova política”,
até os últimos instantes de vida. Com a tragédia sobrou a Marina para manter o
discurso. Só que ela passou muito tempo com o Lula e como pessoa protegida pela
providência divina não poderia esquecer seus ensinamentos. E agora está
lançando, aos poucos, sua Carta aos Brasileiros. E é disto que o texto do Ruy
Fabiano trata.
Mas, mesmo segundo ele, ela ainda tem muito o que explicar
ao povo, pois de Cartas ele já está cheio. Não adianta mandar dizer que tem uma
banqueira na sua equipe, e também um ambientalista para fazer o contraponto. É
necessário que ela venha a público e convença o eleitorado de que é assim. Ou
seja, se ela convencer o povo de que desistiu da nova política, ela poderá ter
sucesso na empreitada de se eleger e propor uma reforma política na qual esteja
embutida melhorias da democracia no Brasil. Se não conseguir, não me venha com
chorumelas. Infelizmente, o povo ainda adora a velha política.
E hoje, parece que nossa política vai ser definida pelo
andar dos aviões. E no caso da Marina ela tem que apelar para providência
divina outra vez, para que ela, que a defendeu de entrar no avião de Campos,
sopre no seu ouvido de quem era aquela máquina diabólica. Se não conseguir, os
aviões com que o Aécio pousava no Aeroporto de Claúdio vão tomar a sua frente. E
ai tem que se perguntar: Será o AeroDilma seguro?
Agora fiquem com o Ruy Fabiano que eu vou ficar olhando para
o céu olhando os aviões de carreira.
“Num país de política degradada, falar mal dos políticos dá ibope e
prestígio, embora não necessariamente rumo. Esse é o filão, até aqui, explorado
por Marina Silva, candidata do PSB (melhor dizendo, da Rede) à Presidência da
República.
Delicadeza nem sempre é sinônimo de ponderação, e Marina não apenas
sucede Campos, mas lança, em tom sempre suave, tropas de ocupação sobre o PSB
para colocá-lo à margem do comando da campanha.
A tragédia de Eduardo Campos colocou o partido numa encruzilhada: ou
abdicava da campanha, como queria seu presidente Roberto Amaral, ou
entregava-se a uma interventora, com votos, mas sem compromissos com a legenda.
Optou pela segunda e tornou-se órfão de si mesmo.
A “nova política” vem revestida dos traços da velha: quebra de
compromissos (os compromissos de Eduardo Campos), imposição da vontade
monocrática da candidata, ausência de diálogo, oportunismo em seu sentido mais
amplo.
Para acalmar o setor financeiro, há uma banqueira, Maria Alice Setúbal,
do Banco Itaú; para agradar os ambientalistas, o ex-tucano Walter Feldman; para
atrair as esquerdas, há a sigla PSB; e para confundir a todos, a candidata,
Marina Silva, com seus novos (e desconhecidos) “paradigmas civilizatórios”.
Já se sabe que Marina defenderá a independência do Banco Central,
embora tenha incumbido uma banqueira de dizê-lo, sem levar em conta o conflito
de interesses em tê-la como porta-voz numa questão em que é parte interessada.
Coisas da nova política.
Sabe-se também que é favorável ao decreto 8.243, que coloca os
“movimentos sociais” como co-gestores do Estado, transformando o Congresso numa
instância meramente homologatória. O que o mercado financeiro acha disso? E o
que os movimentos sociais acham da independência do Banco Central?
Marina anda com os dois a tiracolo, mas não explica como os conciliará.
É possível que na nova política isso não seja necessário. Todos serão
compreensivos e abdicarão de seus interesses.
Quer o desenvolvimento sustentável, em que o progresso não agrida o
meio ambiente, mas até aqui não incluiu um único representante do setor
produtivo rural em seu staff.
Ao contrário, ao chegar ao PSB, fez questão de desfazer as alianças
rurais que Eduardo Campos vinha construindo, expulsando da campanha o deputado
Ronaldo Caiado (DEM-GO). Se chegar à Presidência, fará o mesmo com o agronegócio,
que é hoje o sustentáculo da combalida economia nacional?
E as alianças eleitorais que Campos articulou, em São Paulo, Paraná e
Rio de Janeiro? O que fará com elas, já que as condenou desde o nascedouro,
absorvendo-as por imposição do PSB? Agora, sem Campos, quem manda é ela, não o
partido.
Não são poucas as indagações que a candidata terá que responder – e
ainda não deu sinais de que irá fazê-lo. O ativismo, dentro do qual se projetou
para a política, admite e requer o uso intensivo de adjetivos e slogans. Mas a
política, sobretudo quando se postula a Presidência da República, requer
substantivos.
É necessária uma visão universalista dos problemas. Elege-se por um
partido (ou por uma Rede), mas governa-se para todos. O ativismo elege vilões
para ressaltar os heróis, mas a política é feita por heróis e vilões, sendo que
não se sabe exatamente quem é quem: os vilões de uns são os heróis de outros.
Marina cunhou a expressão “sonháticos”, aqueles que querem romper
velhos padrões e introduzir o novo não apenas no país, mas na própria
humanidade. Nem isso é novo: Hitler, Stalin, Mao Tsé-Tung e outros “sonháticos”
também queriam forjar um “novo Adão”. Deu no que deu.
Política é pé no chão e cabeça nas nuvens, como já disse alguém de que
não me lembro. Falta a Marina os pés no chão. Restam ainda dois meses de
campanha, tempo mais que suficiente para que aterrisse os seus e explique o que
há de novo e factível em sua política.”
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