Por Zezinho de Caetés
Ontem vi uma charge, num blog, que mostrava um encontro de
Ariano Suassuna com Eduardo Campos, no céu. Quer dizer, penso que é no céu
porque ambos fizeram em vida muitas coisas que os levam a merecê-lo. Não há
como não lembrar de Ariano sem pensar no seu Auto da Compadecida. Como não dar
para pensar no Eduardo sem lembrar de sua grande amizade com o seu amigo Ariano.
E no sono de ontem à noite me apareceu o João Ubaldo Ribeiro com história que parece uma homenagem. A seguir, eu conto para
vocês o que ele me contou de como foi o encontro lá no céu, entre o estes importantes brasileiros. Se me perguntarem se isto é verdade ou não, eu repito a fala do
Chicó mais conhecida: “Eu não sei, só sei
que foi assim!”
No diálogo a seguir, que me foi passado em sonho, pelo João
Ubaldo Ribeiro, o “S” se refere a Ariano e o “E” se refere a Eduardo. E tudo
começa na porta do céu.
S: Eduardo, meu
querido, o que você está fazendo aqui?
E: Eu vim ao seu
encontro, grande mestre!
S: De vez, para
sempre?
E: Acho que sim
Mestre. Peguei o avião errado e aqui estou eu.
S: Que nada Eduardo,
você é muito jovem para ficar aqui comigo. Ah! Já sei, você deixou lá embaixo
alguém para tocar a gaita do João Grillo para você voltar à terra, não foi?
E: Bem queria eu,
Mestre. Não desconsiderando a sua companhia, que sempre adorei, mas, tinha
muito ainda para fazer lá embaixo.
S: Isto não pode ser.
Você foi vítima de algum cangaceiro ou cangaceira daqueles que você começou a
criticar na política e eles mexeram no seu avião?
E: Claro que não
Mestre. Critiquei muito uma cangaceira lá embaixo, mas, o cangaceiro que vive
com ela, eu sempre poupei.
S: Não me diga!
E: Pois é, nos últimos
tempos eu estava até animado com aquele nosso projeto para ser presidente da
república, e de que você ainda foi testemunha. Para isto, não quis fazer o
diabo como a determinadas pessoas, mas, engoli muitos sapos.
S: Meu filho, não fale
em diabo aqui, que ele aparece!
E: Desculpe, Mestre. O
senhor sabe que eu me juntei com a Marina Silva, e só Deus sabe o esforço que
fiz para isto. Juntar sustentabilidade com agronegócio não foi fácil. Imagine
lá em Uberaba eu vendo aqueles bois todos sujando a atmosfera de gás, piorando
o efeito estufa, tendo que aprovar pum de boi para ser eleito, e a Marina
querendo colocar escapamento em seus fiofós para aproveitar os gases e gerar
energia. Não foi fácil, Mestre. Mas, eu estava conseguindo.
S: Ora, meu filho, se
você juntou socialismo com capitalismo lá em Pernambuco e estava dando certo,
por que você não juntaria Marina com o Ronaldo Caiado?
E: O pior foi
conciliar defender o Lula e criticar a Dilma. Este foi o meu maior
problema até agora na campanha, antes de eu vir aqui encontrá-lo. Como criticar
o PT sem criticar o Lula? Como criticar a Dilma sem criticá-lo, se foi ele
mesmo que criou o que lá chamam de poste. Sim, eu sei que também criei meus
postes, mas, eram postes regionais e municipais. Mas, poste federal, não dar
para aguentar duas vezes. Quando eu fui ao Jornal Nacional da Globo, a melhor
frase que eu disse foi que “A Dilma conseguiu a façanha, de pela primeira vez
na democracia fazer um governo pior do que o anterior!”
S: Meu Deus, e a Rede
Globo agora é de esquerda?
E: Não, Mestre. Eles
apenas viram que se não divulgassem os nomes dos outros candidatos, no dia da
eleição a Dilma seria candidata única. Imagine que ela tem uma coligação tão
grande que o que sobrou para mim e para os outros foram uns minutinhos no
horário eleitoral. E eu saí satisfeito de minha performance lá, apesar da
insistência do William Bonner de botar minha mãe no meio. Mas, infelizmente,
não deu nem para comentar, pois fui forçado a vir aqui lhe visitar antes do que eu previa.
S: É meu filho, são os
desígnios de Jesus e de Nossa Senhora. Venha comigo que eu vou lhe apresentar a
eles e até ver se posso interceder junto à Compadecida para que você volte e cumpra
sua missão lá na terra.
E: Claro, Mestre! Já
estou até emocionado com um encontro destes!
E ambos se dirigiram para uma dependência do céu, onde
estavam Jesus e sua mãe, Nossa Senhora. Lá ao fundo aparecia uma fornalha, onde
se podia ler uma faixa: “Bem-vindo,
Sarney!” e outra: “Fora Maluf, nosso
chefe não quer concorrência!”. E algumas outras tantas que o João Ubaldo
não me contou no sonho. Apenas me disse que lá era o inferno e que tanto
Eduardo como o Ariano passaram ao largo, e se acercaram de Jesus. E o diálogo
continuou:
E: Caro Mestre, então
o João Grillo tinha razão. Jesus realmente é meio tostadinho, não é?
Isto foi dito com um ar de riso, seguido de um ar de
seriedade, ao se ajoelhar aos pés de Nossa Senhora (NS), que quem como tudo
sabe já estava lhe esperando. E disse:
NS: Oh, Eduardo, você
por aqui?! Ariano, como vai você?
S: Eu vou muito bem,
mas tenho uma queixa e um pedido a lhe fazer.
NS: Diga, meu filho!
S: A queixa é em relação à morte de Eduardo. Ele não merecia
vir para aqui tão jovem, e gostaria de lhe pedir que lhe devolvesse a vida tão
brilhante que ele teve.
NS: Caro Ariano, você
sabe que eu não posso decidir isto sozinha, e mesmo meu filho Jesus, agora está
sendo mais democrático e chama o Diabo também para dar sua opinião. Meu filho! [disse
se dirigindo a Jesus]. Você gostaria que
o Eduardo voltasse á terra?
Jesus: Claro minha
mãe, ele é tão jovem, mas, como a senhora sabe tenho que consultar o Capeta
sobre isto, pois aqui tudo está se democratizando, e no próximo ano haverá até
eleições.
E dizendo isto chamou o Diabo para a conferência. O cheiro
de enxofre e de Caninha 51 encheu o ambiente e o Diabo (D) falou:
D: Já quer que eu
mande este de volta também? De forma alguma. Só voto a favor disto com uma
condição: Que ele, ao voltar, apoie a candidatura de minha amiga Dilma para
presidente!
E todos se voltaram para Eduardo para saber sua opinião
sobre a proposta do Capiroto, e ele disse laconicamente:
E: Assim, prefiro ficar aqui!!!!
Neste tempo eu acordei e o João Ubaldo sumiu. Agora eu
fiquei sabendo porque a Dilma disse que “faria
o diabo” para ganhar as eleições. E está fazendo mesmo.
Em tempo: O João Ubaldo ainda me disse que depois desta
frase os dois saíram da sala e desceram uma ladeira que há no céu, e felizes,
cantarolavam:
“Madeira do rosarinho
Vem a cidade sua fama
mostrar
E traz com seu pessoal
Seu estandarte tão
original
Não vem pra fazer
barulho
Vem só dizer... e com
satisfação
Queiram ou não queiram
os juízes
O nosso bloco é de
fato campeão
E se aqui estamos,
cantando esta canção
Viemos defender a
nossa tradição
E dizer bem alto que a
injustiça dói
Nós somos madeira de
lei que cupim não rói”
Acordei com os olhos cheios de lágrimas. “Eu não sei se foi verdade. Só sei que foi assim!”
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Nota da Administração da A Gazeta Digital: Abaixo colocamos letra e música de Madeira do Rosarinho, mas, isto não faz parte do texto do nosso colaborador Zezinho de Caetés. Apenas achamos que o Eduardo Campos, que Deus o tenha, gostaria que continuássemos cantando este frevo genial do Capiba, que tanto foi cantado por ele em vida, e junto com o Ariano Suassuna.
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