“Perspectivas da economia em 2020, 2021...
POR ROBERTO MACEDO
A economia brasileira melhorou em 2019, conforme revela a
tendência das variações trimestrais do produto interno bruto (PIB) entre o
primeiro e o terceiro trimestre do ano e pelo que se espera do quarto. Segundo
o IBGE, em 2019 as variações do PIB no primeiro, no segundo e no terceiro
trimestres foram zero, 0,5% e 0,6%, respectivamente, ou seja, crescentes. Em
2018, nos mesmos trimestres, foram 0,5%, zero e 0,5%, ou seja, uma oscilação
muito grande, causada em parte pela greve dos caminhoneiros no segundo
trimestre e pelas incertezas ligadas à eleição para a Presidência da República.
No quarto trimestre, a economia voltou a oscilar, com a taxa do PIB caindo para
0,1% e a de 2018 fechando em 1,3%.
No quarto trimestre de 2019, vários indicadores apontam que
seu PIB terá desempenho bem melhor que o do mesmo período de 2018. Conforme
notícia no Globo de 24/12, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) estimou
que as vendas do recente período natalino levaram o varejo a uma alta de 5,2%,
marcando o melhor Natal em sete anos. Para a CNC, o impulso veio da liberação
dos saques do FGTS, de um cenário de juros e inflação mais baixos e de mais
crédito. A CNC também previu uma alta entre 5,5% e 6% no comércio em 2020,
maior que os 4,6% deste ano.
Outra informação a destacar é a de que em novembro último,
de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), houve
criação líquida de 95.645 empregos formais na série com ajuste sazonal, o melhor
resultado desde 2010.
Dados como esses e outros provocaram otimismo na bolsa e no
mercado financeiro com relação ao almejado crescimento de 2,5% do PIB em 2020.
O relatório Focus, do Banco Central, que recolhe semanalmente as previsões de economistas
e outros analistas desse mercado, mostrou em sua edição de 20/12/2019 uma
previsão de 2,28% para essa taxa. Quatro semanas antes estava em 2,2%.
Estariam garantidos esses 2,5%, ou algo próximo disso, em
2020? Aí entra o imponderável quanto ao que pode acontecer no ano que se
inicia, neste país marcado há tempos pela forte imprevisibilidade, mesmo de seu
futuro mais imediato.
Contudo o alcance dessa taxa seria, paradoxalmente,
facilitado por uma dificuldade pela qual hoje passa a economia. Ela dispõe de capacidade
produtiva ociosa, o que é um desperdício de recursos, mas pode acomodar um
aumento da produção sem maiores investimentos na ampliação dessa capacidade.
Se o PIB conseguisse retomar uma trajetória de crescimento
de 2,5% ao ano, em 2021 ele voltaria ao seu maior nível anterior, o de 2014. É
possível que isso seja alcançado pela melhoria das expectativas de empresários
e consumidores quanto ao futuro da economia, bem como das condições de crédito.
A partir daí, porém, não só a manutenção dessa trajetória, como a busca de uma
ainda mais favorável dependeriam de um sensível aumento dos investimentos na
ampliação da capacidade produtiva. São esses investimentos que efetivamente
movem uma economia, pois, ao lado de ampliar essa capacidade, também geram renda
para o capital e o trabalho atuantes no processo produtivo. Com isso também
contribuem para impulsionar a demanda e absorver a produção decorrente da
ampliação da capacidade produtiva.
Quanto a esses investimentos, a situação hoje é calamitosa.
Conforme os últimos dados do PIB trimestral, relativos ao terceiro trimestre de
2019 e a trimestres anteriores que permitem comparações, os investimentos
oscilaram entre 20,2% e 21,5% do PIB entre 2008 e 2014, caindo fortemente em
seguida para apenas 14,9% em 2017 e 16,3% em 2018 e 2019. Os investimentos
públicos foram muito prejudicados pela ampliação de outros gastos
governamentais e os privados, pela desconfiança quanto aos rumos da economia, o
que também reduziu investimentos diretos estrangeiros.
Nesse contexto, também paira sobre uma melhoria adicional
das expectativas de empresários e consumidores a dificuldade de levar adiante
as demais reformas que o governo propôs ao Congresso. A aprovação da
previdenciária tomou muito tempo e não teve o alcance financeiro previsto pelo
projeto inicialmente enviado ao Congresso. As que lá se encontram devem sofrer
dificuldades semelhantes.
Assim, ganha relevo ainda maior a necessidade de ampliar
sensivelmente o investimento privado voltado para concessões de serviços públicos,
em particular os providos por obras de infraestrutura, e o financiamento
imobiliário. E também a privatização de empresas estatais, com o objetivo de
aumentar sua eficiência, gerar recursos para um governo muito carente deles e
ainda economizar no processo decisório, já que os quadradinhos correspondentes
às empresas privatizadas sumiriam do organograma governamental.
Concluo com breve nota sobre o cenário externo, no qual a
taxa de expansão do PIB global vem retrocedendo, entre outras razões, pelas
pendências comerciais entre países, em particular EUA e China, bem como pelo
esgotamento de políticas monetárias expansivas e dificuldades de recorrer a
políticas fiscais do mesmo tipo. Pesquisa internacional da consultoria McKinsey
revelou que agitações sociais, como no Chile e na França, subiram na lista de
preocupações quanto ao crescimento mundial. Recentemente, o presidente Trump,
dos EUA, indicou que pretende reduzir as tarifas impostas à China, mas
enfrentará uma eleição no próximo ano e poderá retomar medidas comerciais
protecionistas ao gosto de parcela importante de seu eleitorado.
Enfim, há muitas pedras no caminho da retomada de um
crescimento mais vigoroso e sustentável da economia brasileira. Enfatizo isso
com o propósito de vê-las retiradas por governantes responsáveis e empenhados
nessa tarefa. E também na esperança de que os cidadãos cobrem isso dos eleitos
para representá-los.”
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