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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Digitalização, demografia e desigualdade




“Digitalização, demografia e desigualdade

 Por Silvio Meira

Décadas de inovação redesenham sociedades e mudam tudo. Mas políticos– e políticas – demoram a responder a desafios, ignoram mudanças, tentam centralizar o poder e buscam novas formas de controle. Foi assim na Revolução Industrial e é agora. Mas revoluções provocam e dependem de ações de Estado; no Reino Unido, a revolução industrial levou à democracia, educação pública e sindicatos.

Ainda estamos no estágio em que a revolução digital está se estabelecendo, com suas tecnologias-chave começando a atingir os patamares que possibilitarão em larga escala as mudanças que já vemos aqui e ali. Mas a digitalização já é uma das três forças mais poderosas reconfigurando o mundo, juntamente com a demografia, onde há mudanças dramáticas na pirâmide populacional, e a desigualdade, que cresce há 40 anos, e é inaceitável.

Massa de desempregados no Brasil por vezes só encontra vaga em posições que serão substituídas por máquinas, como operadores de telemarketing

No mundo ideal, essa seria a hora da digitalização ser usada para atender as novas demandas da demografia e compensar as desigualdades que, em parte, são criadas pelo digital. O problema é urgente: estudo recente mostra que 60% do trabalho feito no Brasil tem probabilidade de 70% de ser computadorizado nas próximas décadas. Das 10 ocupações com mais empregos formais, cinco têm probabilidade de automação maior que 90% e respondem por 7,8 milhões de vagas: operadores de caixa, com 823 mil empregos, tem 97% de chance de serem substituídos por máquinas. Operadores de telemarketing, 99%. É uma digitalização que pode desempregar 8 milhões de pessoas no curto prazo, aumentando a desigualdade. Por outro lado, promete-se aumento radical da produtividade, que pode criar muitas outras oportunidades. Mas o problema é o curto prazo e, para as pessoas, o curtíssimo.

Aqui é onde o problema pode se transformar em oportunidade. Cada indivíduo vai se movimentar para resolver seu problema em particular, mas as dificuldades serão gigantescas. Se o Estado não intervir agora, terá que intervir mais tarde, para conter e tratar uma crise aguda de desemprego, desigualdade, até violência social.

Mas... como está o Brasil? Cuidando de uma agenda do passado, que deveria ter sido resolvida há décadas. É um esforço essencial, mas deveríamos estar cuidando do futuro. Sem nenhuma estratégia digital de país, os desempregados pelo digital não terão trabalho na economia digital. Quem ainda não está no mercado não está sendo preparado para o futuro, também digital. Seus destinos serão as periferias da economia e da sociedade. É onde mora o perigo de resolver os problemas do passado e ir para nenhum futuro – ou um onde a desigualdade será maior. Sabendo, agora, o que temos que fazer, por que não fazemos?”

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