“Momento Greta
Por William Waack
Não acreditem em profetas do apocalipse, disse Donald Trump
à fina flor do mundo político e empresarial reunido – como todo ano em janeiro
– para o World Economic Forum em Davos, Suíça. Não se sabe o quanto a
globalizada elite política, empresarial e financeira acredita em visões
catastrofistas sobre meio ambiente, mas esse é um de seus temas mais
discutidos, goste-se ou não.
E é praticamente o único assunto pelo qual é avaliada hoje a
imagem do Brasil no exterior. Bom conhecedor desse público, o ministro da
Economia, Paulo Guedes, foi à Suíça oferecer um argumento que, na sua essência,
afirma que não é a busca do lucro o maior inimigo da proteção do meio ambiente
em lugares como o Brasil (que precisa de seus recursos naturais para se
desenvolver), mas, sim, o desespero de quem passa fome e destrói para sobreviver.
Ou seja, pobreza.
A julgar pelos relatos de boa parte da imprensa internacional,
o argumento de Guedes não convenceu, não importa se tem méritos. Ao contrário:
alguns dos principais banqueiros internacionais sentiram-se obrigados a
responder nesse mesmo evento aos gestores de grandes fundos de investimento,
que anunciaram recentemente incluir um “fator de risco ambiental” (leia-se
compliance por parte de grandes companhias) ao direcionar alocações de
recursos.
A resposta foi uma cobrança a governos – banqueiros em
momento Greta, talvez? – exigindo mais coordenação de políticas de combate a
mudanças climáticas, para evitar que a “culpa” caia sobre o setor privado. Em
outras palavras, também o setor financeiro está sentindo a pressão, e foi o
chefe do Bank of America quem defendeu em Davos a adoção de um padrão
internacional de contabilidade para averiguar como companhias privadas estão
cumprindo metas fixadas em conferências sobre clima da ONU, por exemplo.
No que parece ter sido uma tática coordenada, o governo brasileiro
ofereceu a apocalípticos ou não reunidos em Davos duas boias para se abraçar.
Anunciou a criação de um Conselho da Amazônia chefiado por um general, o
vice-presidente Hamilton Mourão, que conhece bem o lugar e também sabe como
funciona um Estado-Maior. E a criação de uma Força Nacional Ambiental voltada
exclusivamente para a repressão ao desmatamento da Floresta Amazônica.
Além de ser uma resposta óbvia, ainda que tardia, ao tipo de
pressão internacional que o governo brasileiro de forma inepta conseguiu
acelerar contra si mesmo, o anúncio oferece dois outros reconhecimentos
implícitos. O primeiro é o da falta de uma instância de coordenação dos vários
ministérios e órgãos do governo vinculados à Amazônia. O tal Conselho parece
equivaler a uma “Casa Civil” da questão ambiental.
O segundo reconhecimento, implícito na Força Nacional, refaz
o argumento de Guedes. Para qualquer pessoa com um mínimo de vivência na
Amazônia, especialmente nas chamadas “zonas de fronteira” (aquelas nas quais se
expande rapidamente algum tipo de atividade econômica), a chegada de contingentes
populacionais cria realidades incontroláveis que duram já décadas (a degradação
de vastas áreas do sul do Pará é um dos grandes exemplos). A destruição
“formiguinha” torna-se formidável, e irreparável também, pela ausência do
Estado.
É o que está no fundo da questão: a notória incapacidade do
Estado brasileiro de dominar o próprio território e impor suas leis. O desastre
de comunicação internacional na questão ambiental é marca do governo Bolsonaro,
mas os avanços e recuos do desmatamento, a menor ou maior velocidade na
ocupação de territórios, a força maior ou menor de atividades predatórias
(especialmente extração de madeira e garimpo) parecem seguir ciclos que têm
fugido ao controle de qualquer governo central brasileiro.
Pobreza ou não, o problema ambiental sempre foi o de
autoridade.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário