Por Zé Carlos
E, alvíssaras, conseguimos chegar a 2017. Confesso que tive
dúvidas se isto aconteceria. Não só por causa de minha idade, mas, pela
situação em que meteram o Brasil. Não adianta chorar pelo leite derramado. Agora
vamos apanhar o que ainda vale a pena.
Hoje, não tive tempo de acompanhar todos os episódios da
semana para escrever sobre ela. E talvez nem fosse adequado. Deveria, como todo
mundo, fazer uma retrospectiva anual. Nem isto faço, todavia. Apelo para outros
veículos de comunicação para não começar o ano em brancas nuvens, devido minha
ressaca (de comida) do réveillon .
Transcrevo abaixo o Editorial de ontem do jornal Estado de S. Paulo, que além
de uma retrospectiva, é uma prospectiva. E esta vai na direção de que se
continuasse como estava não teríamos nem ano novo.
E para manter a humor da coluna tenho que citar o deputado
mais assíduo do Brasil (dizem que foi a todas sessões da Câmara) e menos falador
dos deputados (dizem que só falou 5 segundos no dia do impeachment de nossa
musa, a Dilma), relembrando o slogan de sua campanha: “Vote em Tiririca, porque pior do que está não fica!”. E é realmente
difícil imaginar uma situação pior do que a nos encontramos sob vários pontos
de vista.
No entanto, sejamos otimistas e esperemos que o Tiririca
esteja certo, e só nos resta acreditar no Temer, para que a coisa não fique
pior, o que não é uma grande esperança. E agora fiquem com o editorial do
Estadão, que também otimista o intitula de “O ano da maturidade”. E que
seja um bom ano para os meus 15 e meio leitores, com muito dinheiro no bolso e
riso para dar e vender.
“Foi o ano em que, em
absoluto respeito à ordem constitucional, o Congresso interrompeu o mandato de
Dilma Rousseff, uma presidente que, entregando-se ao mais rasteiro populismo,
estava danificando seriamente a capacidade econômica do País. Para efeitos
legais, o impeachment baseou-se em um punhado de decisões irregulares de Dilma,
mas isso não foi obstáculo para que muitos a julgassem pelo chamado “conjunto
da obra”. E que obra.
O Brasil, sob Dilma,
retrocedeu uma década. A indústria parou, o comércio quebrou, os empregos
sumiram, o crescimento virou recessão. A inflação disparou, os juros subiram,
as agências de classificação de risco rebaixaram o País e a dívida pública
explodiu.
Restou a Dilma
dizer-se honesta, embora isso não fosse mais do que sua obrigação. A devastação
moral resumida pelos processos da Lava Jato contrastava fortemente com os
protestos de inocência e pureza da presidente. De qualquer maneira, o Congresso
não se comoveu com suas alegações e, antes que o País quebrasse definitivamente,
retirou a presidente do cargo. Em seu lugar, assumiu oficialmente, em 31 de
agosto, o vice-presidente Michel Temer, com a promessa de acabar com a
irresponsabilidade que havia tomado conta do Palácio do Planalto.
Desde então, Temer tem
conseguido fazer avançar uma agenda crucial para a recuperação econômica do
País, deixando claro que não é possível falar em crescimento sem realizar
profundas reformas. Poderia fazer mais do que fez nesses poucos meses?
Certamente. Mas o fato é que governa com os recursos humanos que estavam
disponíveis à época e estes – à exceção dos componentes da equipe econômica –
não eram os melhores. Hoje, caminha para se tornar consenso a conclusão óbvia
de que o Estado tem de caber no Orçamento, algo que já estava no espírito da Lei
de Responsabilidade Fiscal.
Lula da Silva, o
chefão petista que ameaça se candidatar de novo à Presidência, repisa a
ladainha de que é preciso “colocar o pobre de volta no Orçamento”, como se isso
dependesse apenas da vontade de um governante. A fragorosa derrota do PT nas
eleições municipais é um excelente indicador de que tal impostura começa a
perder terreno para a racionalidade econômica, o que só pode ser considerado um
avanço.
Do mesmo modo, 2016
mostrou que o País não tolera mais a corrupção na administração pública, outra
característica da trajetória petista no poder. Antes da Operação Lava Jato,
tinha-se a impressão de que a corrupção era, para os brasileiros, uma espécie
de destino. Nada neste país parecia funcionar sem que uma comissão fosse paga a
algum agente público, e os cidadãos, apáticos, sentiam-se de tal modo
impotentes diante de tal situação que a toleravam e a entendiam como
inevitável.
Mas a Lava Jato expôs
didaticamente aos pagadores de impostos como funcionavam as engrenagens da roubalheira
e, mais que isso, tornou públicos os nomes e sobrenomes dos corruptos,
colocando muitos deles na cadeia. A visão de um punhado de empresários e
políticos que estavam entre os mais poderosos do Brasil em uniforme de
penitenciária, pagando pesadas penas em razão de seus crimes, espantou uma
audiência até então cética a respeito da Justiça e deu à maioria da população a
certeza de que nada será como antes.
É evidente que esses
notáveis progressos não são garantia de que o País esteja inexoravelmente no
rumo da recuperação, muito menos de que esta, quando vier, será sólida. No
terreno da luta contra a corrupção, há os exageros dos que se comportam como
cruzados, atropelando os limites legais de sua atuação em nome da limpeza do
País, algo que pode deslegitimar seus atos, prejudicar inocentes e favorecer os
corruptos. Já no que diz respeito à restauração das contas públicas, seria
ingênuo supor que a tentação populista esteja definitivamente superada. Sempre
haverá os demagogos a propor soluções mágicas para os complexos problemas
nacionais. Mas 2016 deu sinais de que o País parece mais preparado para
enfrentá-los.”
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