Por Zezinho de Caetés
Amanhã o mundo terá outro
governante. Pensam que é o Secretário Geral da ONU, que agora é português e não
deu certo? Não. É o presidente Donald Trump que assumirá a presidência dos
Estados Unidos da América.
Ontem vi a última entrevista do
presidente “deixante”, o Barack
Obama, que não tem minha admiração em vários sentidos, mas, teve a honra de
tirar a América da crise recente, quando aqui no Brasil, o Lula dizia que era
apenas uma “marolinha”, que hoje nos
afoga a todos.
O Obama estava triste, e se
perguntava, talvez, porque o Partido Democrata tinha perdido uma eleição que a
imprensa e até os institutos de pesquisa consideravam ganha. Se ele pudesse não
passaria a maleta nuclear amanhã. Por um motivo simples, e que é o de todo o
mundo: O Trump não é confiável. O cara não fala duas palavras sem dar uma “patada”.
Entretanto, e aí está o segredo
da Democracia, para o bem ou para o mal, o povo americano assim o quis, apesar
de tudo. E começaremos a conviver com um mundo menos seguro.
Se, como diz o texto que hoje
escolhi para vocês meditarem (“Obama e
Trump, passado e futuro”, do Hubert Alquéres, publicado ontem no Blog do
Noblat), o Trump quer voltar para a Segunda Revolução Industrial, por que não
voltar logo à Guerra Fria? Só que desta vez, não será com a União Soviética,
mas, com a China. E a guerra promete ser quente.
Enquanto isto, aqui no Brasil
vivemos as nossas mazelas da Primeira Revolução Industrial, tentando encontrar
meios de como conter bandidos dentro das prisões, e Lula, o “cara” do Obama, fugindo delas.
Fiquem com o Hubert, enquanto eu
vou curtir o restinho do meu recesso, pois o Congresso está voltando, e
esperando, otimisticamente, que o Temer não esteja saindo.
“A troca de guarda nos EUA põe o mundo diante duas utopias nesse
início do século vinte um. Ambas se apresentam como respostas às mazelas da
Terceira Revolução Industrial e aos desafios da era pós globalização.
A seu modo, o presidente que se
recolhe ao fundo do palco, Barack Obama, e o que vem para o primeiro plano,
Donald Trump, expressam essas duas visões. Uma é o passado e a outra é o
futuro.
O problema é saber quem é quem
para identificar quem está em sintonia com as tendências da Quarta Revolução
Industrial, fenômeno tão irreversível como o foram as revoluções anteriores.
Se os ex-presidentes americanos
Ronald Reagan e Bill Clinton foram os beneficiários diretos dos anos dourados
da globalização - a ponto de ao final de seus governos gozarem de popularidade
altíssima, 60% e 65% - Obama teve de governar em uma globalização em crise.
Mesmo assim, terminou seu governo com 56% de aprovação. Diga-se, de passagem,
Donald Trump chega à Casa Branca com o índice mais baixo de aprovação dos
últimos sete presidentes, na época de sua posse.
O deslocamento do emprego, as
ondas migratórias desordenadas, a concentração das riquezas e a concorrência
geraram um quadro adverso.
Para se ter ideia do tamanho do
problema, nos Estados Unidos a renda dos mais pobres está estagnada desde os
anos 80, enquanto os ganhos dos mais ricos aumentaram no mesmo período. Nos
anos 50, cerca de 30% dos americanos trabalhavam na indústria. Hoje são apenas
8%, segundo Náercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas
do Insper.
A desigualdade se manifesta na
qualidade do emprego. Os mais ricos e mais escolarizados encontram vagas nos
segmentos modernos da economia e nas grandes cidades, enquanto para os outros
extratos sociais há vagas de baixa qualificação, com remuneração bem menor que
o emprego industrial.
Isto explica porque, apesar de
Obama ter tirado o país da crise e de
existir uma situação hoje de pleno emprego (desemprego abaixo de 5%), os
americanos preferiram Trump.
Esses problemas podem se agravar
com o advento da chamada Revolução 4.0, marcada pela fusão de tecnologias
digitais, físicas e biológicas. Ela provocará mudança radical no mundo
industrial e no mundo do trabalho.
Esse processo tem potencial de
eliminar 47% dos postos de trabalho. Isso não é miragem, é o mundo daqui a
pouco. A Conferência Davos/2017 já se
debruça sobre a substituição dos trabalhadores por robôs em fábricas
inteiramente automatizadas.
O novo presidente dos Estados
Unidos pretende enfrentar essa realidade por meio de uma utopia regressiva, de
retorno à Segunda Revolução Industrial, pela reedição do espírito de Yalta, com a divisão de “esferas de
influência” dos EUA e da Rússia, e com a exclusão da Europa Ocidental.
A questão é saber se é possível
frear o desenvolvimento das forças produtivas, se é possível fazer os “Estados
Unidos voltar a ser grande” pela via de construção de muros e de tarifas
protecionistas, como quer Donald Trump.
Protecionismos e guerras
econômicas sempre geram ineficácia e atraso tecnológico. Se efetivados, levarão
à perda de um dos maiores ganho da globalização, o barateamento dos produtos
e sua democratização.
E não resolvem. Estima-se que 80%
dos empregos perdidos se deu em consequência da automação e apenas 20% como
decorrente por transferência de fábricas no mundo.
O cinturão da ferrugem dos EUA
não voltará a ser o mesmo da linha de produção. Não é possível voltar aos
tempos do carburador.
No mundo em que cada vez mais o
robô substituirá o homem, a utopia factível é a expressa no discurso de
despedida de Obama, uma peça histórica do mesmo patamar do discurso “Nós, o
povo”, de Ronald Reagan.
O presidente que sai de cena
reconhece o crescimento da desigualdade e propõe um novo pacto social “pois, se
não gerarmos oportunidades para todas as pessoas, os desafetos e divisões que
paralisaram nosso progresso vão apenas se intensificar nos próximos anos.”
Eis o dilema a ser resolvido:
como garantir a sobrevivência de uma maioria marginalizada do mercado do
trabalho? A bandeira da repartição da riqueza de uma forma mais equitativa
tende a ser o grande valor do século vinte e um a ser perseguido, assim como a
democracia o foi no século passado.
Está claríssimo, portanto, quem é
o passado e quem é o futuro.”
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