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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O futuro pertence a Deus ou ao Trump?




Por Zezinho de Caetés

Amanhã o mundo terá outro governante. Pensam que é o Secretário Geral da ONU, que agora é português e não deu certo? Não. É o presidente Donald Trump que assumirá a presidência dos Estados Unidos da América.

Ontem vi a última entrevista do presidente “deixante”, o Barack Obama, que não tem minha admiração em vários sentidos, mas, teve a honra de tirar a América da crise recente, quando aqui no Brasil, o Lula dizia que era apenas uma “marolinha”, que hoje nos afoga a todos.

O Obama estava triste, e se perguntava, talvez, porque o Partido Democrata tinha perdido uma eleição que a imprensa e até os institutos de pesquisa consideravam ganha. Se ele pudesse não passaria a maleta nuclear amanhã. Por um motivo simples, e que é o de todo o mundo: O Trump não é confiável. O cara não fala duas palavras sem dar uma “patada”.

Entretanto, e aí está o segredo da Democracia, para o bem ou para o mal, o povo americano assim o quis, apesar de tudo. E começaremos a conviver com um mundo menos seguro.

Se, como diz o texto que hoje escolhi para vocês meditarem (“Obama e Trump, passado e futuro”, do Hubert Alquéres, publicado ontem no Blog do Noblat), o Trump quer voltar para a Segunda Revolução Industrial, por que não voltar logo à Guerra Fria? Só que desta vez, não será com a União Soviética, mas, com a China. E a guerra promete ser quente.

Enquanto isto, aqui no Brasil vivemos as nossas mazelas da Primeira Revolução Industrial, tentando encontrar meios de como conter bandidos dentro das prisões, e Lula, o “cara” do Obama, fugindo delas.

Fiquem com o Hubert, enquanto eu vou curtir o restinho do meu recesso, pois o Congresso está voltando, e esperando, otimisticamente, que o Temer não esteja saindo.

“A troca de guarda  nos EUA põe o mundo diante duas utopias nesse início do século vinte um. Ambas se apresentam como respostas às mazelas da Terceira Revolução Industrial e aos desafios da era pós globalização.

A seu modo, o presidente que se recolhe ao fundo do palco, Barack Obama, e o que vem para o primeiro plano, Donald Trump, expressam essas duas visões. Uma é o passado e a outra é o futuro.

O problema é saber quem é quem para identificar quem está em sintonia com as tendências da Quarta Revolução Industrial, fenômeno tão irreversível como o foram as revoluções anteriores.

Se os ex-presidentes americanos Ronald Reagan e Bill Clinton foram os beneficiários diretos dos anos dourados da globalização - a ponto de ao final de seus governos gozarem de popularidade altíssima, 60% e 65% - Obama teve de governar em uma globalização em crise. Mesmo assim, terminou seu governo com 56% de aprovação. Diga-se, de passagem, Donald Trump chega à Casa Branca com o índice mais baixo de aprovação dos últimos sete presidentes, na época de sua posse.

O deslocamento do emprego, as ondas migratórias desordenadas, a concentração das riquezas e a concorrência geraram um quadro adverso.

Para se ter ideia do tamanho do problema, nos Estados Unidos a renda dos mais pobres está estagnada desde os anos 80, enquanto os ganhos dos mais ricos aumentaram no mesmo período. Nos anos 50, cerca de 30% dos americanos trabalhavam na indústria. Hoje são apenas 8%, segundo Náercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper.

A desigualdade se manifesta na qualidade do emprego. Os mais ricos e mais escolarizados encontram vagas nos segmentos modernos da economia e nas grandes cidades, enquanto para os outros extratos sociais há vagas de baixa qualificação, com remuneração bem menor que o emprego industrial.

Isto explica porque, apesar de Obama ter tirado  o país da crise e de existir uma situação hoje de pleno emprego (desemprego abaixo de 5%), os americanos preferiram Trump.

Esses problemas podem se agravar com o advento da chamada Revolução 4.0, marcada pela fusão de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Ela provocará mudança radical no mundo industrial e no mundo do trabalho.

Esse processo tem potencial de eliminar 47% dos postos de trabalho. Isso não é miragem, é o mundo daqui a pouco.  A Conferência Davos/2017 já se debruça sobre a substituição dos trabalhadores por robôs em fábricas inteiramente automatizadas.

O novo presidente dos Estados Unidos pretende enfrentar essa realidade por meio de uma utopia regressiva, de retorno à Segunda Revolução Industrial, pela reedição do espírito  de Yalta, com a divisão de “esferas de influência” dos EUA e da Rússia, e com a exclusão da Europa Ocidental.

A questão é saber se é possível frear o desenvolvimento das forças produtivas, se é possível fazer os “Estados Unidos voltar a ser grande” pela via de construção de muros e de tarifas protecionistas, como quer Donald Trump.

Protecionismos e guerras econômicas sempre geram ineficácia e atraso tecnológico. Se efetivados, levarão à perda de um dos maiores ganho da globalização, o barateamento dos produtos e  sua democratização.

E não resolvem. Estima-se que 80% dos empregos perdidos se deu em consequência da automação e apenas 20% como decorrente por transferência de fábricas no mundo.

O cinturão da ferrugem dos EUA não voltará a ser o mesmo da linha de produção. Não é possível voltar aos tempos do carburador.

No mundo em que cada vez mais o robô substituirá o homem, a utopia factível é a expressa no discurso de despedida de Obama, uma peça histórica do mesmo patamar do discurso “Nós, o povo”, de Ronald Reagan.

O presidente que sai de cena reconhece o crescimento da desigualdade e propõe um novo pacto social “pois, se não gerarmos oportunidades para todas as pessoas, os desafetos e divisões que paralisaram nosso progresso vão apenas se intensificar nos próximos anos.”

Eis o dilema a ser resolvido: como garantir a sobrevivência de uma maioria marginalizada do mercado do trabalho? A bandeira da repartição da riqueza de uma forma mais equitativa tende a ser o grande valor do século vinte e um a ser perseguido, assim como a democracia o foi no século passado.


Está claríssimo, portanto, quem é o passado e quem é o futuro.”

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