Por Zezinho de Caetés
Hoje, já estou meio saudoso da Comissão Especial de
Impeachment (CEI). Era diversão garantida, como ainda foi ontem, quando vi a
Gleisi Hoffmann ainda dar seu show de mau humor e irritação, que lhe são
peculiares. Isto até receber a notícia de que seu marido, o Paulo Bernardo
havia sido solto, e sem devolver-me o meu dinheirinho do Crédito Consignado.
Aliás, o Toffoli, depois de um longo tempo, voltou a ser
aquele do mensalão, quando tentou salvar o Zé Dirceu até o último momento.
Mandou soltar o maridão da Gleisi dizendo que a prisão preventiva só se
aplicaria a crimes violentos. Como a violência dos ricos no Brasil, vem sempre
com o colarinho branco ou guardanapos na cabeça, sobra apenas para os pobres.
Coitados dos pobres, que ganharam um aumento do Bolsa Família, dado pelo Temer
e criticado, pasmem, pela ex-presidenta.
É como dizia a cantiga: “Tá
tudo errado, cumpadre! Tá tudo errado! O sujo não se acanha de criticar o mal
lavado!”. Como disse alguém, vivemos num país surreal, digno de pintura do
Salvador Dali. Com a decisão do Toffoli, temos meio caminho andado para que
todos os presos da Lava Jato sejam soltos. Parece até brincadeira, e é para se
esperar se o STF vai manter esta decisão dele, para dizermos: “Até tu, STF?!”. Quando até o Joaquim
Barbosa critica a decisão do ex-colega, é para se esperar tudo, e foi o que ele
fez ao ser citado em sua decisão.
No entanto, eu talvez seja, o que a Helena Chagas chama do “otimista dos otimistas” no texto abaixo
transcrito, que ela chama de “Ao
vencendor, as batatas. A Temer, o Brasil da intolerância”, onde mostra
algums dos cenários que poderão se apresentar no futuro próximo deste país que
parece não ser mais o “país do futuro”.
Continuo otimista, talvez por índole e tendo me apegar a alguns poucos fatos
que me dão uma pequena esperança.
Por exemplo, depois de serem ouvidas 40 testemunhas da
defesa de Dilma na CEI, que disseram a mesma coisa todo o tempo, não houve um
só senador que tivesse mudado de opinião, a não ser para ser a favor do
impeachment, na esperança de que o “Quinteto
Abilolado”, não cante mais e porque sabem agora que o grande crime da Dilma
foi não ter renunciado quando eu previ que faria. Por este ela não escapa.
Agora fiquem com a Helena, que eu vou tentar começar este
novo semestre, tentando sustentar meu otimismo. Vai ser duro!
“A proposta de convocação de um plebiscito sobre novas eleições caiu no
vazio. Por alguns dias, chegou a representar chance de virar votos no Senado na
reta final do impeachment e trazer Dilma Rousseff de volta. Mas foi recebida
com frieza pelo PT, má-vontade pelos movimentos sociais e enigmático silêncio
por parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não colou. E, se não
colou até agora, dificilmente haverá condições, até por falta de tempo, para
que se viabilize junto àqueles que, em última instância, podem mudar o rumo das
coisas: as ruas.
Se Dilma não recebeu o apoio nem dos seus a essa articulação, como
ficou claro no encontro que teve nesta terça com a executiva do PT, o que dirá
da negociação com os senadores, que passaram a ser paparicados dia e noite pelo
novo Planalto? Chega a ser melancólico o saldo divulgado dessa conversa: um
anúncio de que a presidente afastada deve viajar mais pelo país - grande novidade!
- e sua foto ao lado de petistas que pareciam um bando de alegres turistas em
visita ao Alvorada. E mais nada.
No ritmo em que as coisas vão, e sem a tal bala-de-prata da Lava Jato
que poderia hipoteticamente fulminar Michel Temer, caminha-se para o desfecho
previsível: lá pelo final de agosto, ou nos primeiros dias de setembro, ele
passa de interino a efetivo. E aí? Isso é tudo com o que sonham hoje o Planalto
e seus aliados, que trabalham 24 horas por dia com esse propósito. Mas não há
indicações de que o laço vai afrouxar, ou seja, de que as coisas vão ficar
menos difíceis.
Afinal, o Temer interino não desperta paixões, como bem mostram as
pesquisas de popularidade que o colocam em patamares semelhantes aos de Dilma,
mas conta com a boa vontade da maioria do Congresso, do grosso do PIB e de
amplas fatias da mídia - todos apavorados com a ideia da volta da presidente
afastada. É uma forte aliança, mas tende a se enfraquecer no embate do
dia-a-dia e no rastro das divergências e contradições inevitáveis entre essas
forças, que vão estourar nas mãos do Temer efetivo. Aliás, a aliança política
já tem data marcada para derreter: as eleições de outubro, poucas semanas
depois do provável afastamento definitivo.
Sem a ameaça da volta de Dilma ao cenário, também vai ficar mais
difícil responsabilizar a herança maldita por todos os infortúnios, como hoje.
É provável que, antes mesmo do Natal, o brasileiro já esteja cobrando do
governo Temer sinais de melhora na economia, sobretudo em relação ao emprego -
o que, na visão de economistas, será quase impossível apresentar. Ainda que a
economia tenha parado de piorar, a retomada ainda não ocorreu, muito menos sua
percepção concreta por parte da maioria das pessoas, que é o mais demorado. Na
visão do mais otimista dos otimistas, ainda que tudo dê certo, com as reformas
estruturais aprovadas e o retorno da confiança e do investimento, o eventual
clima de alto astral só se fará sentir depois de 2018 - quando haverá eleições
e ninguém tem a menor ideia do que acontecerá.
Ainda como interino, e com pressa para se efetivar, Michel começa a
perceber que não será fácil aprovar
reformas como a da Previdência, por exemplo, já adiada para o fim do ano. Até a
aparentemente incontestável lei das Estatais, aprovada no Congresso, passou de
panacéia a abacaxi na hora da sanção, contestada pela base inconformada em reduzir
suas indicações políticas. Sem falar na Lava Jato, na bala-de-prata que sempre
pode aparecer e nas surpresas que qualquer investigação pode trazer para um
governo do PMDB.
Ao vencedor, as batatas. Ao vencedor do processo de impeachment, que,
ao que tudo indica, será Michel Temer, restará governar esse Brasil do início
do século XXI em que o velho e o novo, o preto e o vermelho, o Fla e o Flu
travam, com as armas da intolerância e do atraso, suas lutas de vida e morte em
torno de tudo e de nadas.”
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