Por Zezinho de Caetés
Ontem, como uma boa parte dos brasileiros, tentei assistir
ao “clássico” Brasil x Haiti. E
talvez como muitos, não aguentei ver o jogo todo. Não aguento mais olhar os
cabelos do Dunga. Assim, terminei perdendo a grande vingança do Brasil, com o
placar de 7 x 1. Até que enfim tiramos de cima de nós o estigma daquele outro
jogo com o mesmo resultado, embora do lado contrário, que marcou a Copa do
Mundo no Brasil.
E o Brasil está numa situação tão calamitosa que o fato de
ter sido contra o Haiti, e não contra a Alemanha, é detalhe de pouca importância.
Diante da ameaça de prisão do Sarney, tudo pode acontecer. Como pergunta o
Hubert Alquéres (no texto abaixo transcrito do Blog do Noblat ontem): “Apocalypse Now?”. Eu diria como o
Caetano: “O Haiti é aqui....”.
E digo isto ao ler a declaração do Sarney sobre os fatos
destes recentes dias e sobre a iminência de sua prisão domiciliar com “tornozeleira eletrônica”: “O Brasil conhece a minha trajetória, o meu
cuidado no trato da coisa pública, a minha verdadeira devoção à Justiça.”
Ora, para quem acompanha a trajetória política dele, só pode dizer: “Por isso mesmo...”.
Agora até que enfim, com nossa vingança contra o Haiti, na
melhor forma de descontar no irmão menor a surra que levou do irmão maior, já
podemos dizer que o Brasil está mudando até no futebol, com a mesma certeza que
estamos mudando na política. Será?
Penso que não! Mesmo tendo 4 ex-presidentes ameaçados de
cadeia (Lula, Collor, Sarney e Dilma), ainda não poderemos ter certeza que
estamos mudando. Precisamos de mais gente nas ruas para pedir o impeachment da
Dilma. Eu mesmo já estou preparando as bandeiras e os cartazes para sair no dia
31 de julho, na, que eu sei, será a maior manifestação da história deste país,
se o país realmente está mudando.
Sei que uma reforma política no Congresso poderá ser uma boa
solução indireta, mas, a verdadeira solução é o povo se manifestando nas ruas,
pacificamente, e através do voto nas eleições próximas, não elegendo ninguém do
PT e apaniguados. Embora esta ideia é como “chover
no molhado” pois já se sabe hoje que com um Lula com uma rejeição de quase
70%, o PT, provavelmente, terá rejeição beirando os 100%.
Por enquanto, fiquem com Hubert, que é mais contundente do
que eu em descrever a situação política do nosso Brasil. E viva o Dunga, o
vingador do Brasil.
“O mundo da política vive o seu Apocalypse Now sem que se vislumbre
como será o Day After, ou quem sobreviverá dos seus escombros. O pedido de
prisão do ex-presidente José Sarney, do presidente do Senado, Renan Calheiros,
do presidente em exercício do PMDB, Romero Jucá, e do presidente da Câmara com
mandato suspenso, Eduardo Cunha, pode não ser ainda o fim do sistema
político-partidário do país, mas muito provavelmente é o princípio do seu fim.
Um clima de fim de mundo tomou conta de Brasília. Entende-se a razão de
tanto pavor. Em um país secularmente pautado pela impunidade, o pedido de
prisão por si só abala os alicerces da velha ordem política, mesmo que ainda
não tenha sido apreciado pelo ministro-relator, Teori Zavaski, e pelo pleno do
STF.
Natural que a Suprema Corte seja extremamente cautelosa na análise do
pedido do procurador-geral e não se deixe pautar pelo clamor da opinião
pública. Mas desde já a espada de Dâmocles paira sobre a cabeça do núcleo
central do PMDB e o governo do presidente interino Michel Temer pode ser
atingido pelo exocet disparado pelo Rodrigo Janot.
Não apenas o PMDB, mas também todo um sistema que foi colocado em xeque
pela operação Lava-Jato. A cada momento novos elementos de imprevisibilidade
são adicionados a um quadro já bastante instável. Quando se pensa que já se viu
de tudo, novos fatos vêm à luz do dia. Agora foi o pedido de prisão de figuras
luminares do PMDB e da República. E nos
próximos dias, o que virá?
Não sabemos. Pode ser o dilúvio: as delações premiadas de Marcelo
Odebrecht e de Leo Pinheiro, com todos os seus desdobramentos. Se isto
acontecer, e se suas revelações forem comprovadas, o sistema político
brasileiro tal qual é hoje não sobreviverá. A depender da extensão e profundidade
de tais delações, a razia afetará a quase todos os partidos, ainda que de forma
diferenciada. Claro que o PT e o PMDB
serão os mais afetados, pois estiveram no poder nos últimos 13 anos. Mas o PSDB
que se cuide.
É como se o mundo da política vivesse no purgatório. A velha forma de
se fazer política está moribunda, mas ainda não deu lugar a uma nova prática e
procedimentos republicanos. Há um gigantesco passivo para se prestar conta
perante a sociedade e também perante a Justiça.
Mas o que é apocalipse para uns, é renascimento para outros. Aos
poucos, e a duras penas, vai surgindo um novo Brasil e a Lava-Jato tem muito a
ver com isso. A ação do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça vem
desconstruindo a cultura da impunidade, que levava empresários, políticos e
poderosos a se apossar do dinheiro público porque se consideram inatingíveis
pela lei. Quem imaginaria um dia que um presidente do Senado e um ex-presidente
da República se veriam diante da possibilidade de serem presos?
Mas a mudança não será completa se não for adotado também outro padrão
de governança pelas grandes empresas, particularmente na sua relação com o
Estado, historicamente marcada pela intermediação de interesses, pelo tráfico
de influência, pela confusão entre o público e o privado. A Lava-jato está aí
para provar o quanto é nociva a prática de grupos econômicos refratários à livre
concorrência, que se infiltram no aparato estatal para dele se apropriar e
manter seus privilégios.
A desprivatização do Estado só será plena se dele forem desalojados
tanto o clientelismo e o fisiologismo, tão próprios da forma arcaica de se
fazer política. E também o capitalismo parasitário, aquele que só sobrevive a
custa da reserva de mercado, da prática de cartéis, de incentivos e subsídios.
O país não está condenado ao fim apocalíptico. É
possível livrar-se dessa herança perversa e construir novas relações
republicanas. A Lava-Jato está aí para isso.”
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