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quinta-feira, 9 de junho de 2016

7 x 1: Dunga, o vingador do Brasil




Por Zezinho de Caetés

Ontem, como uma boa parte dos brasileiros, tentei assistir ao “clássico” Brasil x Haiti. E talvez como muitos, não aguentei ver o jogo todo. Não aguento mais olhar os cabelos do Dunga. Assim, terminei perdendo a grande vingança do Brasil, com o placar de 7 x 1. Até que enfim tiramos de cima de nós o estigma daquele outro jogo com o mesmo resultado, embora do lado contrário, que marcou a Copa do Mundo no Brasil.

E o Brasil está numa situação tão calamitosa que o fato de ter sido contra o Haiti, e não contra a Alemanha, é detalhe de pouca importância. Diante da ameaça de prisão do Sarney, tudo pode acontecer. Como pergunta o Hubert Alquéres (no texto abaixo transcrito do Blog do Noblat ontem): “Apocalypse Now?”. Eu diria como o Caetano: “O Haiti é aqui....”.

E digo isto ao ler a declaração do Sarney sobre os fatos destes recentes dias e sobre a iminência de sua prisão domiciliar com “tornozeleira eletrônica”: “O Brasil conhece a minha trajetória, o meu cuidado no trato da coisa pública, a minha verdadeira devoção à Justiça.” Ora, para quem acompanha a trajetória política dele, só pode dizer: “Por isso mesmo...”.

Agora até que enfim, com nossa vingança contra o Haiti, na melhor forma de descontar no irmão menor a surra que levou do irmão maior, já podemos dizer que o Brasil está mudando até no futebol, com a mesma certeza que estamos mudando na política. Será?

Penso que não! Mesmo tendo 4 ex-presidentes ameaçados de cadeia (Lula, Collor, Sarney e Dilma), ainda não poderemos ter certeza que estamos mudando. Precisamos de mais gente nas ruas para pedir o impeachment da Dilma. Eu mesmo já estou preparando as bandeiras e os cartazes para sair no dia 31 de julho, na, que eu sei, será a maior manifestação da história deste país, se o país realmente está mudando.

Sei que uma reforma política no Congresso poderá ser uma boa solução indireta, mas, a verdadeira solução é o povo se manifestando nas ruas, pacificamente, e através do voto nas eleições próximas, não elegendo ninguém do PT e apaniguados. Embora esta ideia é como “chover no molhado” pois já se sabe hoje que com um Lula com uma rejeição de quase 70%, o PT, provavelmente, terá rejeição beirando os 100%.

Por enquanto, fiquem com Hubert, que é mais contundente do que eu em descrever a situação política do nosso Brasil. E viva o Dunga, o vingador do Brasil.

“O mundo da política vive o seu Apocalypse Now sem que se vislumbre como será o Day After, ou quem sobreviverá dos seus escombros. O pedido de prisão do ex-presidente José Sarney, do presidente do Senado, Renan Calheiros, do presidente em exercício do PMDB, Romero Jucá, e do presidente da Câmara com mandato suspenso, Eduardo Cunha, pode não ser ainda o fim do sistema político-partidário do país, mas muito provavelmente é o princípio do seu fim.

Um clima de fim de mundo tomou conta de Brasília. Entende-se a razão de tanto pavor. Em um país secularmente pautado pela impunidade, o pedido de prisão por si só abala os alicerces da velha ordem política, mesmo que ainda não tenha sido apreciado pelo ministro-relator, Teori Zavaski, e pelo pleno do STF.

Natural que a Suprema Corte seja extremamente cautelosa na análise do pedido do procurador-geral e não se deixe pautar pelo clamor da opinião pública. Mas desde já a espada de Dâmocles paira sobre a cabeça do núcleo central do PMDB e o governo do presidente interino Michel Temer pode ser atingido pelo exocet disparado pelo Rodrigo Janot.

Não apenas o PMDB, mas também todo um sistema que foi colocado em xeque pela operação Lava-Jato. A cada momento novos elementos de imprevisibilidade são adicionados a um quadro já bastante instável. Quando se pensa que já se viu de tudo, novos fatos vêm à luz do dia. Agora foi o pedido de prisão de figuras luminares do PMDB e da República.  E nos próximos dias, o que virá?

Não sabemos. Pode ser o dilúvio: as delações premiadas de Marcelo Odebrecht e de Leo Pinheiro, com todos os seus desdobramentos. Se isto acontecer, e se suas revelações forem comprovadas, o sistema político brasileiro tal qual é hoje não sobreviverá. A depender da extensão e profundidade de tais delações, a razia afetará a quase todos os partidos, ainda que de forma diferenciada.  Claro que o PT e o PMDB serão os mais afetados, pois estiveram no poder nos últimos 13 anos. Mas o PSDB que se cuide.

É como se o mundo da política vivesse no purgatório. A velha forma de se fazer política está moribunda, mas ainda não deu lugar a uma nova prática e procedimentos republicanos. Há um gigantesco passivo para se prestar conta perante a sociedade e também perante a Justiça.

Mas o que é apocalipse para uns, é renascimento para outros. Aos poucos, e a duras penas, vai surgindo um novo Brasil e a Lava-Jato tem muito a ver com isso. A ação do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça vem desconstruindo a cultura da impunidade, que levava empresários, políticos e poderosos a se apossar do dinheiro público porque se consideram inatingíveis pela lei. Quem imaginaria um dia que um presidente do Senado e um ex-presidente da República se veriam diante da possibilidade de serem presos?

Mas a mudança não será completa se não for adotado também outro padrão de governança pelas grandes empresas, particularmente na sua relação com o Estado, historicamente marcada pela intermediação de interesses, pelo tráfico de influência, pela confusão entre o público e o privado. A Lava-jato está aí para provar o quanto é nociva a prática de grupos econômicos refratários à livre concorrência, que se infiltram no aparato estatal para dele se apropriar e manter seus privilégios.

A desprivatização do Estado só será plena se dele forem desalojados tanto o clientelismo e o fisiologismo, tão próprios da forma arcaica de se fazer política. E também o capitalismo parasitário, aquele que só sobrevive a custa da reserva de mercado, da prática de cartéis, de incentivos e subsídios.

O país não está condenado ao fim apocalíptico. É possível livrar-se dessa herança perversa e construir novas relações republicanas. A Lava-Jato está aí para isso.”

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