Por Altamir Pinheiro
Etimologicamente falando, a palavra TABU é algo sagrado, especial, perigoso ou
pouco limpo. Quanto à HECATOMBE DE GARANHUNS, em tempos remotos, também
poderíamos tratá-la, como ALGO sagrado, misterioso, especial, perigoso ou pouco
limpo... Afinal, durante dezenas de anos
a chacina política de 1917 foi considerada assunto tabu nas rodas de conversas
familiares em nossa arcaica e antiquada
sociedade. Tema inviolável; conversa sagrada; A hecatombe era ou foi
constituída no imaginário daquela conservadora sociedade, um MALFEITO pouco limpo
porque supostamente trazia ou fazia
mal a uma pessoa, a um grupo ou até mesmo e, principalmente, a
determinadas castas genealógicas que
compunham a sociedade garanhuense da época!!!
POIS BEM!!! Costumeiramente se diz que a vingança é o
alimento da dor. Não é à toa que, a vingança fez de uma crise familiar uma
"guerra civil". Foi justamente o que aconteceu com a propalada
Hecatombe de Garanhuns!!! Só para se ter uma ideia, vamos pegar uma carona e
bebericar somente um aperitivo de um trecho do livro OS SITIADOS(Hecatombe de
Garanhuns), do escritor Garanhuense Cláudio Gonçalves de Lima que na trama era
um jornalista de páginas policiais.
EI-LA: "Na cadeia, as cenas eram de desespero. As esposas, em
histerismo, cabelos em desalinho, choravam com os órfãos a perda irreparável do
marido; abraçados, as lágrimas caiam as bagas em meio a todo sofrimento, o
desespero rolava na face de cada um. Eram imagens terríveis para o repórter,
que embora acostumado desde muito as graves comoções e perversidades, jamais
presenciara tamanha tragédia. Naquele dia o destino lhe reservou ser marcado
por tão tristes acontecimentos".
Muito se falou, através de cochichos, das vinganças malignas e de pura selvageria ocorridas durante muito
tempo logo após o acontecido. Por isto, o assunto era motivo de tabu!!! Até
porque, depois de mais de 20 anos, a última vingança, o último protagonista que
fez parte daquela matança na cadeia, tombou sem vida, já bastante idoso, na
cidade de Propriá, Estado de Sergipe, conforme nos conta o excelente livro,
"ANATOMIA DE UMA TRAGÉDIA: A Hecatombe de Garanhuns", do ótimo
escritor Mário Márcio de Almeida Santos que morreu recentemente, há pouco mais
de um ano quando residia no Bairro de Casa Forte no Recife. Também tivemos
vários escritores que trataram do citado episódio, como: Alfredo Leite Cavalcanti, Luiz Souto
Dourado, Alberto da Silva Rego e até um
cordel do nosso querido Gonzaga de Garanhuns sobre a chacina, como
também as memórias de Luiz Jardim, que
teve o seu pai morto na vingança da morte de Júlio Brasileiro, Luiz Inácio
Jardim(considerado um dos maiores romancistas do Brasil), que depois da carnificina
partiu para Recife, aos 16 anos de idade, de lá foi embora para o Rio de Janeiro e nunca mais, em
vida, voltou à sua terra natal!!!
Nos idos de 2004, O então jornal CORREIO SETE COLINAS(que lamentavelmente
deixou de circular há poucos anos), fez
uma precisa referência ao episódio, quando o jornalista Roberto Almeida assim o
descreveu em um pequeno trecho: "A hecatombe é um capítulo negro na
história de Garanhuns, um fato que vitimou muitos inocentes, como o heroico
cabo Cobrinha, que morreu tentando proteger as famílias guardadas na cadeia
pública. Depois dos assassinatos cometidos pelos partidários do coronel Vila
Nova, muitas pessoas envolvidas nesses crimes também foram mortas e durante
muito tempo o município teve de conviver com a guerra provocada pelo gesto
solitário de Sales Vila Nova".
Partindo-se do princípio que a luta do poder político em
Garanhuns descambou para uma afamada hecatombe, ocorrida através de uma tomada
de poder à bala, que por tabela
transformou-se num sentimento de
vingança, conclui-se que: como afirmam os mais antigos, donde, para uma satisfação momentânea, busca-se a
vingança; porém, para uma felicidade duradoura, empenha-se através do perdão... Mas, afinal de contas, quais das
famílias envolvidas naquela tragédia sangrenta saíram vencedoras?!?!?! NENHUMA!!! Pois, já dizia
Confúcio que, antes de embarcar em uma
vingança, cave duas covas...
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