Por Zezinho de Caetés
Como dizia o Odorico Paraguassu, de saudosa memória: “É com alma lavada e enxaguada” de
vergonha que vejo surgir mais delações a cada dia que passa, mostrando como se
faz política neste Brasil. Havia uma cantiga infantil em minha, hoje, longínqua
Caetés que começava: “Pai Francisco
entrou na roda, levando o seu violão...” (vejam lá embaixo a cantiga no
vídeo).
Parodiando, hoje se cantar-se-ia assim: “Michel Temer entrou na roda, levando a
corrupção...”. Mas, é bom se dizer que com o levantamento do sigilo da
delação do que chamam de Juruna Machado,
não seria só o Termer que serviria para fazer paródia. Hoje tem tanta gente
enrolada que daria para fazer várias rodas ao redor das fogueiras juninas. Até
Marina viria de vestidinho de chita.
Mas, enquanto eu comparo os fatos com cantigas de roda, o
Josias de Souza aproveita o próprio Sérgio Machado, usando uma coisa mais
adulta para fazer comparações, no texto abaixo transcrito, que usa como título uma
frase do maior delator do Brasil, até agora: “A madame mais honesta dos cabarés do Brasil”, referindo à Petrobrás
e tentando dizer que em relação a outras fontes de propinas, a Petrocabaré é
uma senhora recatada e do lar.
É muito difícil de saber até onde irão as delações, e eu
fico pensando se o Cunha for preso e resolver delatar, o que ele poderia dizer?
Ficaria algum congressista de fora ou todos entrariam na roda com o Pai
Francisco? E, se o Lula, ao contrário de Dirceu, quando for preso, resolver
delatar? Eu já digo que, se ele disser que roubava frutas comigo lá pelos
sítios de Caetés, é mentira, e que não me lembro de ter andado como ele na
época.
No entanto, se o Lula resolver delatar, o Sérgio Moro não
aceitará o acordo de delação se ele só incluir políticos do Brasil. Só fechará
o acordo se ele entrar logo falando de figuras internacionais, como por
exemplo, dizendo quanto o Obama levou para dizer que ele era o “cara”. Ou, dizer que o Papa Francisco
deve a eleição ao dinheiro da OAS e Odebrecht. Ou seja, se houver uma delação
do Lula, como diria o Galvão Bueno: “Acabou,
acabou...”. Não vai ter mais tornozeleira eletrônica para ninguém.
Eu penso, ser por isso que a ex-presidenta e Lula estão
disputando quem vai ser preso primeiro. Pois ambos sabem das mesmas coisas e
falcatruas ocorridas em seus governos, pois como é sabido a Dilma era o Lula de
saias, com mais neurônios, sem ofensa as mulheres. Já pensou ambos numa sala
fazendo delação premiada simultânea? A frase mais ouvida seria: “Foi você!!!!”. E deixaria o Moro na
maior indecisão. O que não seria bom para a operação lava jato.
No entanto, pela história, como conta o Tuma Jr., Lula nunca
foi delator, ele era apenas informante do Golbery, e Dilma pelo que se sabe,
não delator ninguém durante o período que ela diz ter sido torturada. Talvez, o
Sérgio Moro, esperto como quê, os convença de que eles não irão delator e sim
apenas informar, em troca de uma tornozeleira eletrônica, se o papel do “Bessias”
era verdadeiro ou falso.
Agora fiquem com o Josias de Souza, para os detalhes que
envolve a Petrocabaré. Depois, vejam o vídeo e concluam se o Aécio também
entrou na roda.
“O delator Sérgio Machado prestou 13 depoimentos à força-tarefa
brasiliense da Lava Jato. Transcritas, suas revelações encheram 400 páginas.
Cobrem de Temer a Aécio. Certos trechos só deveriam ser exibidos na tevê depois
da meia noite. E vendidos em jornais envoltos em sacos plásticos. A política,
como se sabe, é a segunda profissão mais antiga do mundo. Mas o ex-presidente
da Transpetro demonstrou que, no Brasil, ela se parece muito com a primeira.
A certa altura, Machado referiu-se à Petrobras como “a madame mais
honesta dos cabarés do Brasil''. Os inquiridores estranharam. E o depoente:
“Era um organismo estatal bastante regulamentado e disciplinado''. A perver$ão
é maior noutros órgãos, onde vigoram “práticas menos ortodoxas''. Machado
empilhou exemplos: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes,
Docas, Banco do Nordeste, Fundação Nacional de Saúde, Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas…
Lendo-se os depoimentos de Machado, percebe-se que a suruba estatal dos
dias atuais é muito parecida com a de antigamente. A diferença é que o PT, ao
deixar a história para cair na vida, esforçou-se demais para demonstrar que não
estava imune às tentações alheias. Entregou-se com tal volúpia aos prazeres do
poder despudorado, que expandiu demais a orgia e esqueceu de fechar a janela.
Adorou as alianças esdrúxulas. E percebeu que a volta às origens, além de indesejada,
era impossível. Castidade, como a virgindade, não dá segunda safra.
Noves fora a diferença de escala, o ex-tucano Sérgio Machado disse que
desde 1946 havia um padrão segundo o qual os empresários incorporavam em seus
orçamentos um certo “custo político” —eufemismo para o ‘por fora’, o ‘quanto eu
levo nisso?’. Variava conforme o ente da federação: 3% do valor dos contratos
firmados com o governo federal, 5% a 10% nos negócios fechados com governos
estaduais e 30% nas transações municipais.
Nos bordeis do Estado, pratica-se a suruba às avessas. A Viúva paga
para ser violada. Se a Petrobras é “a madame mais honesta”, imagine-se o que
sucede nos outros cabarés. Machado disse ter repassado propinas a 23 políticos
de seis partidos. Apenas para os pajés do PMDB, sua tribo, entregou mais de R$
100 milhões durante os 12 anos em que presidiu o balcão da Transpetro.
Sob Machado, “madame” era especialmente dadivosa com seus padrinhos do
PMDB do Senado: Renan (R$ 32 milhões), Lobão (R$ 24 milhões), Jucá (R$ 21 milhões),
Sarney (R$ 18 milhões), Jáder (R$ 4,2 milhões)… No cabaré gerido por Machado,
Renan tinha tratamento diferenciado. Chegou a morder uma mesada de R$ 300 mil.
Em anos eleitorais, a cifra engordava.
Dilma não respeita delatores. Lula adomina vazamentos. Mas o petismo
adorou a veiculação dos depoimentos de Sérgio Machado. Gostou especialmente do
trecho em que ele contou que Michel Temer lhe pediu R$ 1,5 milhão em verbas de
má origem, para a campanha paulistana de Gabriel Chalita, em 2012. “É a
reversão do impeachment”, celebrou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), como se
nada tivesse sido descoberto sobre o partido dele.
Se a Lava Jato ensinou alguma coisa foi o seguinte: quem tem telhado de
vidro não deve criticar a permissividade do cabaré do lado. Vem daí o silêncio
da banda muda do Congresso, que convive com Cunhas, Renans, Jucás, Jáderes e
dezenas de etcéteras que privaram do prazer grupal propiciado pela “madame mais
honesta dos cabarés do Brasil.” A política brasileira sobrevive porque não
presta atenção às suas impossibilidades. Nesse meio, a desonestidade deixou de
ser exceção. Tornou-se um estilo de vida.”
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