Por Zezinho de Caetés
É, o mundo político está muito louco mesmo. Seria o final
dos tempos, pelo menos para a Democracia? Será que as ditaduras prevalecerão,
como a vontade das maiorias. Sei não!
Mas, quando vejo a Dilma ser eleita, depois de mentir
descaradamente aos eleitores, enganando-os com pirulitos chupados, e o Reino
Unido saindo da Europa, no chamado “Brexit”,
uma abreviatura para “Grã-Betanha sai da
Europa”, no maior retrocesso do mundo político que se tem notícia, eu fico
um pouco pessimista.
No entanto, internamente, parece que o nosso “Dilmexit”, ou saída da ex-presidenta
renitenta, vai de vento em popa, mesmo que tenha aparecido uma perícia que
politicamente não quer dizer coisa nenhuma, mas seguindo a renitência do PT ela
tenha declarado em Porto Alegre, de onde não deve voltar: “Hoje ficou caracterizado que os motivos pelos quais eles me acusam não
caracterizam crime. Nós viemos dizendo isso há muito tempo, mas agora a própria
perícia constatou isso”.
Para quem leu a tal perícia com outros olhos, o que ela
mostra é apenas que a sua defesa deu um tiro de canhão no pé, em pedi-la. Tudo
se passa como um acusado de ter matado o pai, o irmão e a mãe, além de ter
morto um cachorrinho, a perícia tenha dito que na morte do cachorrinho ela não
teve culpa. Ou seja, a ex-presidenta, dizem, é inocente no crime do
cachorrinho.
Então, enquanto os defensores da Dilma dizem que não se pode
impichar uma presidente de 54 milhões
de votos porque ela matou um simples cachorro, os que são favoráveis, dizem que
ela ainda matou pai, mãe e irmão. Quem teria razão?
E por aí vamos na nossa ensandecida saga política, quando
comparamos a vitória de Dilma com a vitória do “Brexit”, em termos da diferença de votos. Em ambos os casos,
deveria haver um mecanismo para, quando a diferença fosse tão pequena, se
voltar atrás, quando descoberto o desastre da decisão.
O que espero é que o Reino Unido e Europa encontrem uma
solução para evitar o desastre, dentro da lei e da ordem, como nós estamos
encontrando aqui, com o impeachment. E que Deus me ouça!
Ontem li um texto do Arnaldo Jabor, no O Globo, que
transcrevo abaixo (“O triunfo da
estupidez”), onde ele faz um paralelo não tão explícito, como o que fiz
acima, embora com muito mais detalhes sobre a estupidez política do nosso
tempo, nos dois casos. Vade retro!
“”Como podem 60 milhões de pessoas serem tão estúpidas?” Essa foi a
manchete de capa do jornal inglês “The Guardian”, quando Bush foi reeleito. E
hoje? 52 milhões de imbecis jogaram fora a Grã-Bretanha por ignorância e
velhice (a maioria era de velhos burros). Como sentenciou a “The Economist”,
“foi um gesto de automutilação”, impensado, preconceituoso.
Vocês viram aquele sósia do Trump, o Boris Johnson, ex-prefeito de
Londres? Pois é; na última hora ele traiu o babaca do Cameron, que convocou
aquele plebiscito desnecessário e imprudente, e liderou o “leave”. Esse Boris é
um rato igual ao Trump: o mesmo cabelinho louro, mesmas fuças boçais, mesmas
frases agressivas e populistas para o povo entender, ou melhor, “não entender”
a complexa situação econômica e política de hoje. O Reino Unido tem uma eterna
saudade do império que se estendeu ao mundo todo. Ainda se sentem donos de um
passado glorioso. Usando essa estupidez, Boris arrasou o Reino Unido.
O triunfo da barbárie, da estupidez está no mundo todo. A Síria agoniza
nas mãos daquele assassino Assad, que destrói o próprio país, envia milhões de
desgraçados para a Europa e não pode ser destruído porque o outro assassino
Putin não deixa. Esse outro canalha tem bomba atômica e se vale disso. Pode?
O Oriente Médio se estraçalhou, a “primavera” virou inferno e todo o
horror dessa zona geral migra para o Ocidente, aumentando a bagunça
institucional da crise agora acirrada por aquele Trump inglês.
E, por outro lado, já imaginaram aquele Trump americano, um doente
mental sem escrúpulos, com os dedos nos botões de guerra nuclear? Espero que
não seja eleito, mas sua presença já mostra que a democracia pode ser um perigo
quando cai nas mãos da ditadura da chamada “maioria silenciosa” (Tocqueville).
A única coisa boa dessa repulsiva figura é mostrar a verdadeira cara do partido
Republicano, aquele antro de fundamentalistas, o EI da América.
Esse plebiscito inglês foi o primeiro sinal. Com o mundo tão
incompreensível, a tendência das pessoas mais burras é se isolar, ter a
nostalgia de um passado que pensam que era bom, com ódio e rancor contra a
“lenta” democracia. A imediata atitude é o nacionalismo como o envoltório de um
narcisismo boçal, a recusa à convivência com contrários. Os estúpidos amam o
autoritarismo. Por isso, hoje pululam ditadores, desde o ratinho atômico da
Coreia do Norte até os Maduros e aquela fascista Le Pen.
Como é o “design” da estupidez? A estupidez, antes de tudo, é uma
couraça. A estupidez é um mecanismo de defesa. É o bloqueio de qualquer dúvida
de fora para dentro, é o ódio a qualquer luz que possa clarear as deliciosas
trevas onde vivem. Bush se orgulhava de sua burrice. Uma vez ele disse em Yale:
“Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos USA”. E aí,
invadiu o Iraque e escangalhou o Ocidente.
Mesmo inconscientemente, aqui e lá fora, sociedades estão famintas por
tiranias rápidas. A democracia decepciona as massas porque é muito complexa
para ser entendida. O homem comum de hoje não entende mais nada. Assim, adotam
apelos populistas, invenção de “inimigos” do povo, divisão entre “bons” e
“maus”
E aqui, como se comporta a estupidez?
Bem, estamos saindo, se Deus quiser, da maior onda de estupidez
justificada teoricamente, desde Cabral. A pretensa “esquerda” que se apossou do
país há doze anos fez tudo ao contrário do que deveria. Por quê? Porque são
incompetentes? Sim, claro que são; mas a razão é mais estúpida ainda. Fizeram
tudo ao contrário, pois acham que o certo está no oposto. Já disse e repito
(gostei da frase) que, para o comuna típico, o óbvio é “de direita”.
Os estúpidos são militantes, têm fé em si mesmos e têm a ousadia que os
inteligentes não têm. Mas, o sujeito também pode ser culto e burro. Quantos
filósofos sabem tudo de Hegel ou Espinoza e são bestas quadradas? Seu mundo tem
três ou quatro verdades que eles chupam como picolés. Nosso futuro era
determinado pelos burros da elite intelectual numa fervorosa aliança com os
analfabetos.
Esses gênios, em seus latifúndios teóricos, trouxeram-nos a suprema
estupidez regressista, um desejo de voltar para a taba, para o casebre com
farinha, paçoca e violinha. Assim, teríamos um país solidário, simplesinho — um
doce rebanho político que deteria a marcha das coisas do mundo, do mercado
voraz, das pestes e, claro, dos “canalhas” neoliberais.
Aqui, também assistimos à vitória da testa curta, o triunfo das
toupeiras. Inteligência é chata; traz angústia, com seus labirintos.
Inteligência nos desorganiza; burrice consola. A burrice é a ignorância com
fome de sentido, é a utopia de cabeça para baixo, o culto populista da marcha a
ré.
Em nossa cultura, achamos que há algo de sagrado na ignorância dos
pobres, uma “sabedoria” que pode desmascarar a mentira “inteligente” do mundo.
Só os pobres de espírito verão a Deus, reza nossa tradição. Existe na base do
populismo brasileiro uma crença lusitana, contrarreformista, de que a pobreza é
a moradia da verdade.
Aqui e no planeta, o que está rolando hoje é um irracionalismo
automutilador, uma estupidez desorientada, a ilógica como lógica. Crescem em
toda parte ideologias nacionalistas, sempre pautadas pela exclusão do outro,
sejam imigrantes famintos, sejam muçulmanos pacíficos, sejam os inimigos do PT.
A burrice tem a “vantagem” de “explicar” o mundo. Não querem frescuras
complexas, sutis, situações políticas democráticas. Preferem a estupidez como
solução. O diabo é que a estupidez no poder chama-se “fascismo”.”
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