Por Zezinho de Caetés
Confesso que não aguentei ficar até o fim do julgamento,
pelo STF, do mandato de segurança impetrado pelo JECa, como é conhecido o nosso
ex-ministro da justiça, José Eduardo Cardoso, pedindo para cancelar a votação
do impeachment da presidenta no próximo domingo. Vali-me então da nossa
imprensa, hoje pela amanhã para ficar mais otimista ainda com os destinos do
país.
Porque, agora, tenho certeza que o próximo domingo será um
dia de festa, e a festa continuará até que o Senado, nos próximos dias, decida
mandar para alguns meses de descanso a Dilma, o que ela deve até agradecer pois
não aguenta mais de tanto estresse. Não fico tão alegre com a ascensão do
Temer, por motivos quase óbvios, mas, pensando bem, é o que temos, no momento.
É nisto que toca o texto do Reinaldo de Azevedo hoje, na
Folha de S. Paulo (“Entre o caos e
esperança, ao menos”), que transcrevo abaixo. A renúncia da Dilma ou o
Temer na presidência eram as opções únicas constitucionais, e, portanto, sem elas,
além de irmos descendo ladeira abaixo na economia, iríamos voltar à rabeira da
fila das nações em termos de civilização política e de Estado de Direito
Democrático. E como a Dilma disse que não resignaria....
Aliás, ficamos alegres pela ladainha do PT, que para não
sair do poder criou a figura do “golpe
democrático”, e que está indo de água abaixo porque “não haverá golpe”, mas impeachment. As frases que mais li nestes
últimos dias foram: “Impeachment sem
crime, é golpe!”, que é tão verdadeira quanto a outra que ouvi ontem: “Crime sem impeachment, é golpe!”.
Atualmente já se sabe que houve crime, haverá impeachment e
o golpe foi na cabeça oca do meu conterrâneo o Lula, que não mais desfrutará
das delícias de um hotel de luxo em Brasília, e, talvez, vá para outro que o
Sérgio Moro escolherá.
Fiquem com o Reinaldo, e quanto a Dilma, só resta dizer: “Tchau, querida!”
“Por definição, o governo Michel Temer é uma opção melhor do que a
eventual continuidade dessa coisa sob o comando formal de Dilma Rousseff. É uma
verdade aritmética e política. O vice não será titular com menos de 342 votos
na Câmara e 54 no Senado. A petista poderia permanecer no Palácio ainda que com
voto nenhum. Basta, para tanto, que o outro lado não atinja o mínimo necessário
em cada Casa.
Ou por outra: Temer só será presidente com uma esmagadora maioria
episódica, a partir da qual se estabeleceriam caminhos para uma maioria
duradoura. Dilma, no entanto, pode continuar agarrada ao osso tendo como
esbirro a Armata Brancaleone dos 171 ou se faltar um único voto a seus
adversários.
Há um velho adágio latino segundo o qual os deuses, quando querem
destruir alguém, começam por lhe tirar o juízo. E é a isso que estamos
assistindo. Duvido que mesmo os esquerdistas, por mais lassa que seja a sua moralidade,
sintam conforto ao ver Lula negociar a República num quarto de hotel.
A história brasileira não exibe nada semelhante. E se ignora que algo
parecido tenha se dado alhures. Especialmente quando o negociador é um homem
investigado pela polícia e não exerce cargo nenhum na República.
Por mais que a sem-vergonhice política tenha atingido limites
insuspeitados; por mais que nossos critérios para avaliar a ação dos homens
públicos tenham cedido ao relativismo; por mais que tenhamos aderido ao pragmatismo
como o último deus, um país não pode mimetizar a rotina de um prostíbulo.
E tudo isso pra quê? Como diria o poeta, “pra nada!” As negociações
desavergonhadas de Lula, se bem-sucedidas, manterão o país na desordem e ainda
implicarão, necessariamente, o rebaixamento do atual padrão de gestão.
Se os moralistas de última hora reclamam da qualidade dos que mudam de
lado e aderem ao impeachment, como vejo fazer alguns dos colegas colunistas,
peço especial atenção, então, aos relevos de caráter dos que permanecem do lado
de lá, aceitando a rotina das trocas.
Não bastasse, vem um recado do quarto de hotel: se o impeachment não
for aprovado, Lula, então, assumirá o governo, e haverá uma nova gestão. Ora
vejam: é uma gente capaz de chamar de “golpe” a ascensão do vice, que foi
eleito, segundo a norma constitucional, e de entregar a Presidência da
República a quem não obteve voto nenhum. Lula, aliás, acelerou a morte do
governo Dilma. E vai ser impichado junto com ela.
A única possibilidade de haver um golpe branco na República é o
impeachment não sair vitorioso - já que não tem como ser derrotado. Nesse caso,
Lula continuaria à frente da Presidência, como está hoje, tendo Dilma como um
fantoche. Para isso chegamos à democracia? Não creio.
As esquerdas inventam gestas que só existem na sua imaginação
perturbada, talhada para justificar crimes. A deposição de Dilma seria só um
rearranjo dos potentados econômicos, dispostos, mais uma vez, a espoliar o
povo. Nem parece que o PT foi flagrado ora em decúbito dorsal, ora em ventral,
com empreiteiros e outros membros das “zelites” menos impopulares no
jornalismo.
Senhoras deputadas e senhores deputados, vocês escolherão neste domingo
entre as possibilidades da esperança e o risco do caos.
E, no entanto, idiota da objetividade que sou - deixo os voos
subjetivos para os colunistas do outro -, eu estaria aqui a defender o voto
contra o impeachment se Dilma não tivesse cometido crime de responsabilidade.
Mas ela cometeu.
Chegou a hora.”
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