Por Zezinho de Caetés
Ontem, o Lula estava em Brasília, dizem, para se acertar com
o Eduardo Cunha tentando que a presidenta se livre do fantasma do impeachment.
Se me dissessem que ele foi com a atenção de “rachar” o dinheiro das contas que o presidente da Câmara tem na
Suíça, eu também acreditaria. Não há mais compostura na política, lá em
Brasília, se é que um dia houve. Maquiavel estava mais do que certo.
No entanto, por que não deixar de lado a política e partir
para um governo de sábios? Simplesmente, porque não saberíamos escolher os
sábios e temos que continuar, no dia a dia, em nossas trincheiras para tirar
este grupo que está no poder, que envolve hoje o PT e uma grande parte do PMDB.
Digo uma grande parte, porque eu tiraria o Pedro Simon, se
não tivesse deixado a política e o Jarbas Vasconcelos que ainda atua, e dizia
dias atrás:
“Cunha é doente,
psicopata, um cínico. Como confiar numa pessoa que mente sobre contas bancárias
na Suíça, já confirmadas pela Procuradoria? A oposição acaba de fazer mais uma
reunião com esse personagem para discutir o impeachment. As pessoas continuam
acreditando nele. Se for bom para ele, Cunha atropela Dilma. Se não for
conveniente, ele posterga. E a oposição está nesse jogo, que tira a
legitimidade do impeachment”.
Diante do comportamento deste Senhor dos Anéis de barro, o
Cunha, o pernambucano está certo. Negociar com ele é voltar tanto ao passado
político brasileiro, que talvez cheguemos às negociações pelas Capitanias
Hereditárias. Dilma e Cunha merecem um ao outro, abraçados por Lula. Que caiam
os três.
E, sobre o arcaísmo da política brasileira, li um texto do
Hubert Alquéres (“A peleja entre o
moderno e o arcaico” – Blog do Noblat – 14/10/2015) que abaixo transcrevo
para meditação dos meus leitores, nesta quinta-feira, Dia do Professor, desta
grande “Pátria Pedaladora”, como diz
o Zé Carlos, a quem estendo os parabéns, além de mim mesmo. Agora fiquem com o
Hubert, que eu vou meditar sobre o que mais pode acontecer a este país.
“Não é de hoje o conflito entre o arcaico e o moderno, no Brasil. Essa
peleja vem de longe, atravessou séculos, marcou todos os campos da sociedade
brasileira. O país só avançou quando o
novo conseguiu vencer o antigo, deslocando seus interesses incrustrados nos
aparelhos do Estado. Por aí a oligarquia cafeeira foi deslocada e a República
Velha soterrada. Por esse caminho o
Brasil deu passos largos na direção de um país industrial e moderno, nos
governos Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek.
A história tem suas ironias. O golpe de 1964, um movimento de reação às
reformas de base com o qual também se identificaram forças retrógadas do ponto
de vista econômico e social, findou por promover uma “modernização
conservadora”, dotando o Estado de um mínimo de racionalidade e capacidade de
planejamento. Mas sem mudar a sua essência, de ser, ao mesmo tempo, o
depositário de interesses patrimonialistas e corporativistas.
A Constituição Cidadã, foi, sem dúvidas, outro grande marco no rumo da
contemporaneidade. Consagrou direitos sociais, fixou um ordenamento democrático
e criou as condições para o pleno exercício de instituições permanentes
republicanas como o Ministério Público, a Polícia Federal, entre outras. Aquilo
que foi plantado lá atrás, em 1988, hoje dá provas de sua eficácia e é embrião
de um Estado Moderno que tende a se afirmar, em contraposição ao Estado
patrimonialista.
A peleja entre o arcaico e o moderno não parou por aí.
Nos meados dos anos 90 deslocou-se para a economia. Naquele momento,
era preciso deixar para trás o vetusto da espiral inflacionária, modernizar e
sanear o sistema financeiro, controlar o gasto público, implodir os cartórios,
criar regras estáveis com vistas ao fortalecimento de uma economia aberta e de
mercado.
Esse foi um dos grandes méritos do governo Fernando Henrique Cardoso,
muito embora, para promover o aggiornamento da economia, tenha sido obrigado a
fazer aliança com o atraso, como ele mesmo afirmou sucessivas vezes. Mas o fez
blindando determinadas áreas estratégicas, protegendo-as da prática
predatórias, da voracidade dos aliados. Fez mais: deu enorme passo no rumo da
modernidade, com a criação das agências reguladoras.
A grande tarefa de seus sucessores seria dar prosseguimento a essa
modernização. Isso não aconteceu.
Nos governos Lula-Dilma houve o revigoramento do arcaísmo.
Mecanismos permanentes de Estado, como as agências, perderam
relevância, enquanto o governo de plantão se hipertrofiou. Centros de
excelências como o Itamaraty viraram peças ornamentais, para não falar da
instrumentalização de outros, como o que aconteceu no BNDES ou em empresas
públicas como a Petrobrás. E a
responsabilidade fiscal foi mandada às favas.
A crise que vivemos é a crise de um acasalamento entre um projeto de
poder com o velho patrimonialismo político e com o capitalismo parasitário
acostumado a mamar nas tetas do Estado, altamente refratário ao risco e à livre
concorrência.
Registre-se: tão acostumados com a impunidade, os predadores do erário
público agiram como se tivessem na era analógica, deixando impressões digitais
por todos os lados. E as instituições de investigação estavam numa etapa bem
superior, no topo da era digital, capacitada e qualificada para cumprirem, com
galhardia, seu papel em um Estado de Direito. Vive-se, portanto, mais uma
quadra importante no embate entre o arcaico e o moderno.
O primeiro, ainda hegemônico, tem hoje dois grandes bunkers: o
Executivo e o Legislativo. Esses não se renovaram, estão na contramão dos
sentimentos da sociedade, que não aceita mais o modelo do toma-lá-dá-cá e a
institucionalização do balcão de negócios.
A rejeição é muito mais profunda. Há uma crise de representatividade
cuja intensidade os partidos políticos ainda não dimensionaram.
Pensar que o governo representa o arcaico e a oposição o moderno, é
doce ilusão. Ou então puro maniqueísmo.
Afinal, nada mais arcaico do que o discurso da incoerência, do que
alianças casuísticas contraditórias aos valores éticos.
O velho ainda não morreu e o novo ainda não surgiu. Mas, felizmente, a
forma ossificada de se fazer política, ou de se fazer negócios por parte de
segmentos empresariais, esbarra na ação de instituições republicanas que
apontam para um horizonte mais alentador.”
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