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terça-feira, 30 de junho de 2015

VOU PARA SÃO PAULO!




Por  José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Um pequeno riacho corta os três alqueires do sitio Beira Rio. Terra boa para plantação onde é cultivado jerimum, milho, feijão, mandioca, banana, melancia entre outros. Alguns pés de mangas rosa e espada, goiabeiras, jacas, abacate que na safra é tantas que é dividido com as pessoas da redondeza. O curral com seis vacas leiteiras e alguns cabritos pastando no terreno. Uma casa cercada de alpendre com algumas redes penduradas para descanso, azuis. Seu Elesbão, carinhosamente chamados por todos com “Bão” era um homem dos seus cinquenta anos. Vive para aquele sitio, onde ama e nunca desejou sair para algum lugar. Cuida de toda plantação e dos animais logo cedo da manhã, antes do sol raiar. Tira leite das vacas e depois com enxada vai para o roçado. À tarde sempre trás algo para casa, uma melancia, um cacho de banana verdosa que amadurecia pendurada no alpendre. Dona Flor sua mulher, uma morena dos seus quarenta e cinco anos, esperta e trabalhadora no campo, nunca se acostumara com aquele serviço da roça. Às vezes ia ajudar mais logo saia, não aguentava a quentura do sol. Sentia-se só, naquele pedaço de chão. A noite era monótona, não tinha com quem conversar. Ela e seu Dão era o seu mundo. Não se arrependera da sua vida matuta, mas não era pecado desejar outras coisas na vida. Nada conhecia a não ser o pequeno povoado. Desejava conhecer novas terras, novas pessoas, novos modo de viver e o seu sonho era morar em São Paulo. Seu único passeio era ir à missa celebrada na Matriz do Santo Expedito, no sábado, dia de feira às 10 horas da manhã pelo Padre Afonso. Depois ia conversar com algumas comadres no terraço da casa de Dona Mariquinha, ali tomava conhecimento de tudo que acontecia no povoado. Mulher queres mesmo ir morar em São Paulo? Já pensastes nisso? Seu marido nunca apoiou esta ideia absurda, não foi? Ela ficava calada, rindo sempre. E se não der certo? Tu vais voltar com a cara no chão. E tua idade, já pensastes? Mulher pensa direitinho para não quebrar a cara. São Paulo não é aqui não. Tu vais vê. Lá é tudo diferente daqui. La não se tem amizade, cada um cuida de si e Deus por todos. Pensa bem, diziam. Um dia a mulher resolveu visitar o seu filho Abrão, que se fora há uns cinco anos e pelo jeito se dava bem. Casado e já com dois filhos. Nunca reclamou em suas cartas da vida que vivia. De tanto aperreio Bão resolveu viajar, nunca morar, pois não conseguia esquecer o seu sitio. A mulher por ela vendia tudo e comprava uma casinha lá e iam trabalhar. De jeito nenhum vendo o meu sitio, disse. Não tem ninguém que me faça morar em São Paulo, pois não sei ler e nem escrever bem. E tu vais ser empregada domestica. Ser mandada e por aqueles capitalistas. Nunca vou morar lá. Falou com o seu cumpradre Vitinho e disse para ele tomar conta do sitio até ele voltar. Mas tu não vais morar lá, de acordo com a comadre? Nunca, meu velho saio daqui. Nunca!  Compraram as passagens para um ônibus clandestino. Saiu por volta do meio dia de Sertãozinho, cidade as dois quilômetros do seu sitio.  Dona Flor levou uma galinha assada, farinha, pão doce e uma garrafa de guaraná para se alimentar nos primeiros momentos. Levava alguma economia guardada no bolso da calça para o restante da viagem. Por volta das dez e meia da noite, o ônibus teve seu pneu furado. Parou e o motorista disse que nada podia fazer, pois era noite e ficava difícil de trocar o pneu. Todos se acomodaram dentro do ônibus, um calor infernal, escuro, e gritos de criança chorando para aumentar a confusão. Seu Bão já estava arrependido da viagem. Pela manhã, consertaram o pneu e seguiram viagem sob um sol abrasador. Todos suados, já fedendo, pois ainda não tinham parado para as suas necessidades. A dor de barriga e a mijação já incomodava. Por volta das três da tarde parou o ônibus numa casinha sem agua e sem banheiro, pois, o ônibus clandestino não podia parar em posto de gasolina, pois seria aprendido. Tais vendo mulher, que sofrimento. Esta tua invenção não vai dar em nada. E assim durante três dias o sofrimento era terrível. Chegaram à Rodoviária de São Paulo todos estropiados. Fedendo e sem lugar certo para ficar e tomar banho. Dona Flor nada avisou ao filho, pois queria lhe fazer uma surpresa. Milhares de pessoas indo e vindo dentro da Rodoviária. Dezenas de ônibus saindo e chegando. Procurou saber de alguns funcionários mais ninguém ensinava bem. Tais vendo mulher às pessoas aqui não dão cabimento para ensinar nada. Que se virem. Sentou-se em uma cadeira suado, com roupa suja procurando saber como chegar à casa do filho. Dona Flor por coincidência tinha um envelope na mão com endereço. Bairro M’boi Mirim. Ninguém ali por perto sabia. Ninguém, mesmo um guarda que se encontrava ali por perto sabia. Procurou saber com uma moça onde era este bairro. A moça informou correndo e atendendo outras pessoas, mandando para o metrô. Ele não sabia que bicho era este. Nunca ouvira falar. Apanharam as maletas e começaram a descer uma escada rolante, quase caindo, desequilibrado. Os trens passavam em alta velocidade e quando parava era urgente pegar. Passaram o dia nesta agonia. A cada instante dizia, devíamos ter ficado em casa e nunca vir para esta terra de sofrimento. Finalmente, chegaram à estação Esperança e não sabia como comunicar. Perguntava as pessoas se sabiam o endereço que constava no envelope. Ninguém sabia. Outros balançavam a cabeça em negativa. Até que um homem ouvindo a sua pergunta ensinou - à senhora entra naquela esquina, vira a direita, lá tem um posto de Saúde, atravessa a ponte de madeira, sobe uma pequena ladeira e depois vira a esquerda é este o endereço certo. Bão coçou a cabeça já desiludido com aquela viagem. Dona Flor já descadeirada, apesar da pouca idade, mais era mulher e mulher cansa logo, dizia. Foram e quando chegaram ao lugar, não sabia a casa, numa rua cumprida e tortuosa. Os numero das casas divergiam às vezes o numero pequeno, outra vez o numero era alto. Como achar o Abrão? Saíram como penitentes perguntando ali e acola se conhecia, ninguém sabia informar. Até que o barraqueiro disse, é um nordestino? É sim de Pernambuco. Pois ali mora um rapaz que é daquelas bandas. Va lá e confira. Chegaram numa casa pobre no alto, com três cômodos. Duas redes estendidas na sala, uma mesa e um fogão com algumas panelas em cima. Dono Flor e seu Bão estavam admirados com aquela pobreza. Ele que tinha uma bonita casa, sitio e tudo mais ia morar num lugar daquele. Nunca. Bateram palma. Uma mulher bonita, mas mal vestida veio atender. O que é que vocês querem?  Aqui mora Abrão? Sim. Nós somos os seus pais e viemos para passar uma temporada. A mulher quase morre de susto. O que? Aqui não tem lugar nem para gente como é que vamos acolher vocês. Ficamos admirados e surpresos com a acolhida. Entramos e ficamos sentados em cadeiras, esperando pelo nosso filho que chegou por volta das dez horas da noite. Mas Abrão tu não moras aqui tu morre. Tais vendo mulher que a coisa aqui não é o que tu pensas? Dona Flor já desiludida disse tens razão, vamos voltar para nosso canto e Abrão se quiser ir volta conosco, não é? Fizeram as malas e todos voltaram para o sitio. São Paulo nunca mais, não quero nem ouvir este nome. Voltaram.

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