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quinta-feira, 18 de junho de 2015

BASTIANA




Por  José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Sentada no terraço da sua grande casa, nos arredores do bairro Poço da Panela, à tardinha. Cercada por um muro alto cheio de heras verdinhas aparadas, uma cerca elétrica vigiada por uma câmara para maior segurança. Bastiana corria os olhos para o pequeno menino que corria pelo gramado ao redor da casa. Seu neto, Demazinho com o seu coleguinha de escola que fora passar a tarde brincando. Rolavam na grama aparada pelo Boca Mole. O sol já baixando no final da tarde e os passarinho voltando para os seus ninhos nas arvores que circundava a sua bela casa. Não gostava que chamasse mansão e sim casa mesmo. Mesma afortunada era pessoa simples. Bastião deitado em sua rede pensando não sabe o quê. De olhos fechados provavelmente sonhando com a vida que estava levando. Eufrásia, varrendo toda a casa. Zezé arrumando e passando óleo de Peroba nos moveis e Boca Mole cuidando do jardim. A piscina ao lado, com varias mesas com sombreiros azuis e cadeiras de descanso ao redor, era cuidada por uma firma que comparecia de quinze e quinze dias para higienizar. Era um sonho, mas ao mesmo tempo uma realidade ali a vista. Começo a recordar do tempo passado. Vivia morando em uma palafita na beira do Rio Capibaribe do bairro dos Coelhos. A miséria estava em todo recanto. Não tinha comida, roupa limpa e o que arranjava era batendo de porta em porta implorando a caridade das pessoas. Muitas das vezes ia até o Box do Seu Ezequiel pedir ou comprar fiado, quando ele confiava. Nem todas às vezes isto acontecia. Quando arranjava alguma coisa para fazer, ficava contente, principalmente, quando limpava alguma residência e ganhava algum dinheiro. Ia imediatamente para mercearia comprar alguns mantimentos para diminuir o sofrimento. Neste dia era dia de festa no pequeno espaço que residia, se isso podia dizer. Bastião recolhia papelão, garrafas, jornais velhos pelas ruas puxando uma carroça. Ouvia muita pilheria e desaforo dos motoristas, não ligava estava ali para ganhar algum dinheiro, ninguém sábia o seu sofrimento, era terrível. Mas dava a todo instante graças a Deus por ter saúde para batalhar naquele trabalho simples – Deus ajuda a quem madruga, dizia sempre enxugando o suor que escorria pelo rosto em pleno meio dia, ensolarado. Era um belo pensamento. Toda semana brigava comigo. Ô Bastiana não tem vergonha de jogar loteria? Nem todo dia temos dinheiro para comprar o pão? Como é que tu gasta este dinheirinho? Deixa estar, um dia vou ganhar na loteria e sair deste aperreio, dizia – Deus consente, mas não para sempre. Fazia um muxoxo e ia para a janela observar os pescadores nas suas jangadas, no rio já poluído com muito lixo jogado pela comunidade. Sentia falta de algo que pudesse melhorar a vida, mas não tinha estudo, o meu marido também iletrado e desta forma tinha que sofrer com a vida que escolheu. Sempre fora a Igreja do Santíssimo Sacramento, na Praça Maciel Pinheiro. Não pedia nada a Deus, porque Deus já lhe tinha dado saúde para a família. A pobreza é uma consequência e por isso devemos agradecer a Deus por todos os dias. Não vamos nos maldizer, também não vamos nos acomodar, vamos trabalhar, até quando? Não sei. Como eu fazia, na sexta feira o ultimo dinheiro para comprar o pão, disse – hoje não vai ter pão, vou jogar e vou ganhar. Com aquele pensamento positivo e sofredor e sabendo da bronca do Bastião, saiu e foi até a casa lotérica e marcou os números 13, 17, 35, 44, 50 e 60 o ano de sua idade. Pagou e foi para casa. Apreensiva e com a consciência pesada, mas não ligou. Bastião neste dia trouxe algum dinheiro para casa fruto do seu trabalho. Comprou pão, açúcar, café e margarina. Bastiana guardou escondido o bilhete, no seu pensamento, já premiado, em uma sacola pendurada na parede. Esqueci-me de conferir no dia. Passado alguns dias eu tirei a sacola da parede e vi o bilhete, e deu-me vontade de conferir. Larguei tudo e fui à casa lotérica, sem nenhum apostador. Corri os olhos na tabuleta com o resultado e fui pouco a pouco pronunciando – treze, dezessete, trinta e cinco, quarenta e quatro, minhas mãos tremia e o suor frio descia pelo rosto, cinquenta eu já não me controlava dava-me uma dor tão grande no peito que quase desmaiei quando pronunciei sessenta. Ganhei. Segurei-me no balcão e voltei para casa sem saber o que fazer. Esperar por Bastião para lhe contar que tinha ganhado na loteria. Nesta noite não dormimos. Logo ao amanhecer estávamos acordados, ansiosa para irmos a loteria reconfirmar os números sorteados. Às oito horas, logo que a casa lotérica abriu, fomos direto para o mural e conferirmos repetindo os números que ali estavam. Saímos loucos de alegria. Não sabíamos o que fazer se caminhava ou corríamos. Vestimos o nosso melhor vestuário pobre e seguimos para a Caixa Econômica, na Avenida Guararapes. Muita gente. Logo na entrada fomos barrados pelo guarda, pela nossa aparência. Que é que vocês querem, pergunta o guarda. Quero falar com o gerente. De que se trata? Somente ele pode resolver o nosso assunto. Desconfiado o guarda mandou sentar em uma cadeira azul fofinha coisa que muito não fazia. Esperamos uma hora e meia. Ninguém atendia. Uma moça perguntou o que vocês desejam? Queremos falar com o gerente. Ele está ocupado e vai demorar lhe atender, espera? Espero sim senhora. Perto de meio dia, um senhor engravatado nos chamou. O que deseja? Doutor nós ganhamos na loteria. Veja! Estava acompanhado do filho mais velho que chegou para lhe ajudar. O gerente pegou o bilhete e conferiu na tela do computador. Olhou para eles e sorriu. Grande sorte. Vocês estão ricos. O premio milionário chegou suas mãos. Vou lhe aconselhar e vou abrir uma conta em seu nome para depositar este valor milionário. Oitenta e cinco milhões de reais. Ela ficou pálida, o Bastião acompanhou a palidez da esposa e tomaram um copo d’água. A partir daquele momento fomos tratados como rei e rainha. Vocês vão ter uma renda mensal mais ou menos de cinco a dez milhões por mês. O que vocês desejam agora, neste momento? Queremos comprar uma casa. A Caixa vai procurar uma boa casa para a senhora e seu marido. Trouxeram alguns papeis e foi difícil assinar, somente sabia o meu nome devagarinho. Adiantaram-me alguns dinheiros para comprar o necessário, compramos roupas e sapatos decentes no shopping onde nunca tínhamos entrado. Lojas bonitas com roupas e sapatos na vitrine. Almoçamos como nunca num restaurante com a família, meu filho, sua mulher e meu neto.  E agora vamos comprar uma casa e mobilha-la e viver o resto da nossa vida, sem muito aperreio. Muita gente soube do acontecido na comunidade quando me mudei, mas antes fomos realizar uma viagem ao Rio de Janeiro para abaixar a poeira. Hotel de luxo e muitas vezes os recepcionista olhavam com desdém para a nossa aparência, não sabiam eles que agora nós éramos ricos e podíamos nos dar ao luxo, de viver o que nunca vivemos, sem alarde.  Ajudei muitas pessoas quando voltei deste passeio, não somente no Rio mais em outras capitais do Brasil. Eu continuo a ajudar, pois Deus me deu a graça de estar bem de vida, milionária. As pessoas vizinhas ricas quando soubera,  começaram se aproximar principalmente com convites para isto ou para aquilo, nada me comoveu. A sociedade só dá valor a quem tem, agora que eu tenho todos se aproximam com mimos e risos falsos. Sofri muito, hoje tenho tudo que eu quero, mais principalmente, o que desejo é muita saúde. Saiu para tomar o café com a mesa farta junto com os seus auxiliares, pois todos comiam na mesma mesa. 

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