Por Jameson Pinheiro (*)
Digo, e acreditem, eu não estava
lembrado do Dia dos Namorados. Gildo me lembrou através do seu belo artigo (aqui).
Sempre me esqueço. Talvez me falte o romantismo comercial, do qual ele fala.
Mas, as mulheres não esquecem e agradeço a ele por nos lembrar, evitando a
bronca da esposa, igual ao ano passado.
Fora o trabalho e a bola de
futebol, em minha juventude lá em Bom Conselho, não vou dizer a prioridade,
mas, minha outra diversão era namorar. Naquela época, para quem não era chegado
aos sabores e odores etílicos e seus efeitos, e eu não era, só comecei depois,
já longe da terra, esta era a principal diversão, para o sexo masculino. Alguns
meninos iam ser escoteiros no entanto, para chegar lá, tinha que ser “lobinho”, e eu desisti. Outros, tentavam
aprender a ajudar missa, eu nunca tive instrução para isto. Namorei, muito.
Namoro sério, namorico, flerte,
olhadela, pegar na mão, beijo no rosto, beijo na boca, calçada da Igreja,
escurinho do cinema, Praça D. Pedro II, festas de Natal, Ano Novo, São Sebastião,
N. S. do Bom Conselho, São João, São Pedro e pulando Santo Antônio, que diziam
ser o santo casamenteiro. Tudo isto fazia parte do meu vocabulário, porém,
quando ouvia falar em casamento corria mais do que o diabo da cruz.
E com a experiência se avolumando,
descobri que quanto mais namorava mais namoros apareciam. Hoje diriam de mim:
aquilo é um “galinha”, naquela época
diziam: aquilo é um “enrolão”.
Normalmente, a namorada “séria”, isto
é, aquela com quem havia risco de um dia subirmos ao altar, era aquela que não
sabia das outras. Esta, quando havia, eu a deixava em casa cedo, saía para a
grande diversão com as outras. Moça namoradeira dorme tarde, mas, para evitar
qualquer quizumba, nem sempre o inverso é verdadeiro.
Com a fama de namorador já feita, aquelas
moças que também gostavam de namorar nem perguntavam de onde eu vinha. Pra que
perder tempo? Era impressionante, entretanto, quando as outras sabiam disto, eu
pensava que iriam me odiar. Ledo engano. Odiavam era a colega. Seria inveja?
Sei lá. E assim ficava mais fácil namorar.
Para ser absolutamente justo, nem
todas as moças eram assim. E no final das contas sempre pensávamos que nossa
namorada séria seria incapaz de pelo
menos pecar por pensamento, imaginando namorar com outro. Isto é o que penso ainda
daquela que me fisgou até hoje.
Era uma vida “maneira”. Aí casei devido a um acidente de percurso. Nunca mais
namorei, a não ser com minha esposa, e ela sabe que só tive uma namorada depois
que casei: uma menina que morou na Rua da Cadeia, com quem nunca namorei. Minha
esposa nem se importa com estas lembranças, e sabe que serei fiel até a morte,
e lerá este texto, certamente.
Tanto namoro para dizer que, em
Bom Conselho, antigamente, nunca ouvi falar em Dia dos Namorados. Ainda não
éramos explorados comercialmente. Aliás, nunca vi o comércio de nossa terra
explorar dia de nada, a não ser dia de santo. Nem mesmo Dia da Mães. Alguém se
lembra de alguma promoção na loja de seu Zé Correntão? E da Princesa do Norte?
E do Vuco-Vuco de seu Joaquim? Eu não me lembro. Nem tampouco, em seu Gabriel,
Farmácia Crespo (onde passei muitas vezes para chamar Ives para ir jogar
futebol), e muito menos em seu Gaudêncio e seu Expedito, com seu indefectível
lenço sobre o rosto. Propaganda mesmo eu só via, indiretamente, quando João
Prezideu, ligava seu alto falante, nas festas, e podíamos oferecer um Aldemar
Dutra, ou Orlando Silva, para a amada de plantão ou dela para mim com grande
amor e carinho e a voz estridente de Ângela Maria atacando de Garota Solitária:
Esta noite eu chorei tanto
Sozinha sem um bem!
Por amor todo mundo chora
Um amor todo mundo tem.
Eu, porém, vivo sozinha
Muito triste sem ninguém.
Será que eu sou feia?
Não é, não senhor!
Então eu sou linda?
Você é um amor!
Respondam, então, por que razão
Eu vivo só, sem ter um bem?
Você tem o destino da lua
Que a todos encanta
E não é de ninguém.
Ai, eu tenho o destino da lua,
A todos encanto
E não sou de ninguém.
No entanto, Dia dos Namorados não
havia não.
Mas, se o Dia dos Namorados tem
tão pouco significado para mim que sempre me esqueço, porque gastei tantas
palavras num texto sobre ele? Ora, porque o Gildo me lembrou e minha esposa,
minha eterna namorada, aprendeu com os filhos sobre sua existência. É a
evolução social dentro do capitalismo. Quanto mais datas comemorarmos mais ele
resistirá. Só um dia não aparecerá neste nosso país: o Dia do Pobre, pois,
apesar deles serem muitos, seu poder de compra não se adéqua ao sistema. Eles
comemoram seu dia pelo Natal, com alguns lembrando outro pobre que nasceu na
Galileia e anda tão esquecido hoje pelo ricos, estes preferem o Papai Noel.
Para não perder o tão apreciado
costume devo falar da nossa Pátria de Chuteiras, que joga hoje aqui em Recife.
Ingresso na mão, relógio guardado para não ficar sem ele, camisa amarela, ainda
com o número de Romário no último jogo que vi da seleção brasileira em 1993,
rumarei hoje para o estádio do Arruda e esperando sair de lá tão alegre quanto
saí naquela época. Eu só espero que os jogadores não inventem entrarem no campo
de mãos dadas como fizeram então. Além do ridículo daquele bando de homens
imitando os namorados de Bom Conselho, agora estamos ganhando, e em time que
está ganhando não se mexe. Deus me livre mas, se fizerem isto e perderem, vão
ser sempre os Namoradinhos do Dunga. Prá frente Brasil!!!
Em tempo. Minha esposa vai comigo,
será que ela aceitará o ingresso como presente do Dia dos Namorados?
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(*) O texto acima foi escrito pelo
Jameson Pinheiro, no saudoso Blog da CIT, em 10/06/2009. Já lá vão 6 anos.
Nesta época de Copa América, com Dunga no comando da seleção e véspera do Dia
dos Namorados, não poderia deixar de publicar esta homenagem aos que ainda
namoram. O Jameson, hoje, diz que não escreve mais, e só lida com imagens. No
entanto, os seus textos anteriores sempre me levam a convidá-lo a escrever aqui
na AGD. Seria uma honra. (ZC).
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