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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Dia dos Namorados e os Namoradinhos do Dunga




Por Jameson Pinheiro (*)

Digo, e acreditem, eu não estava lembrado do Dia dos Namorados. Gildo me lembrou através do seu belo artigo (aqui). Sempre me esqueço. Talvez me falte o romantismo comercial, do qual ele fala. Mas, as mulheres não esquecem e agradeço a ele por nos lembrar, evitando a bronca da esposa, igual ao ano passado.

Fora o trabalho e a bola de futebol, em minha juventude lá em Bom Conselho, não vou dizer a prioridade, mas, minha outra diversão era namorar. Naquela época, para quem não era chegado aos sabores e odores etílicos e seus efeitos, e eu não era, só comecei depois, já longe da terra, esta era a principal diversão, para o sexo masculino. Alguns meninos iam ser escoteiros no entanto, para chegar lá, tinha que ser “lobinho”, e eu desisti. Outros, tentavam aprender a ajudar missa, eu nunca tive instrução para isto. Namorei, muito.

Namoro sério, namorico, flerte, olhadela, pegar na mão, beijo no rosto, beijo na boca, calçada da Igreja, escurinho do cinema, Praça D. Pedro II, festas de Natal, Ano Novo, São Sebastião, N. S. do Bom Conselho, São João, São Pedro e pulando Santo Antônio, que diziam ser o santo casamenteiro. Tudo isto fazia parte do meu vocabulário, porém, quando ouvia falar em casamento corria mais do que o diabo da cruz.

E com a experiência se avolumando, descobri que quanto mais namorava mais namoros apareciam. Hoje diriam de mim: aquilo é um “galinha”, naquela época diziam: aquilo é um “enrolão”. Normalmente, a namorada “séria”, isto é, aquela com quem havia risco de um dia subirmos ao altar, era aquela que não sabia das outras. Esta, quando havia, eu a deixava em casa cedo, saía para a grande diversão com as outras. Moça namoradeira dorme tarde, mas, para evitar qualquer quizumba, nem sempre o inverso é verdadeiro.

Com a fama de namorador já feita, aquelas moças que também gostavam de namorar nem perguntavam de onde eu vinha. Pra que perder tempo? Era impressionante, entretanto, quando as outras sabiam disto, eu pensava que iriam me odiar. Ledo engano. Odiavam era a colega. Seria inveja? Sei lá. E assim ficava mais fácil namorar.

Para ser absolutamente justo, nem todas as moças eram assim. E no final das contas sempre pensávamos que nossa namorada séria seria incapaz de pelo menos pecar por pensamento, imaginando namorar com outro. Isto é o que penso ainda daquela que me fisgou até hoje.

Era uma vida “maneira”. Aí casei devido a um acidente de percurso. Nunca mais namorei, a não ser com minha esposa, e ela sabe que só tive uma namorada depois que casei: uma menina que morou na Rua da Cadeia, com quem nunca namorei. Minha esposa nem se importa com estas lembranças, e sabe que serei fiel até a morte, e lerá este texto, certamente.

Tanto namoro para dizer que, em Bom Conselho, antigamente, nunca ouvi falar em Dia dos Namorados. Ainda não éramos explorados comercialmente. Aliás, nunca vi o comércio de nossa terra explorar dia de nada, a não ser dia de santo. Nem mesmo Dia da Mães. Alguém se lembra de alguma promoção na loja de seu Zé Correntão? E da Princesa do Norte? E do Vuco-Vuco de seu Joaquim? Eu não me lembro. Nem tampouco, em seu Gabriel, Farmácia Crespo (onde passei muitas vezes para chamar Ives para ir jogar futebol), e muito menos em seu Gaudêncio e seu Expedito, com seu indefectível lenço sobre o rosto. Propaganda mesmo eu só via, indiretamente, quando João Prezideu, ligava seu alto falante, nas festas, e podíamos oferecer um Aldemar Dutra, ou Orlando Silva, para a amada de plantão ou dela para mim com grande amor e carinho e a voz estridente de Ângela Maria atacando de Garota Solitária:

Esta noite eu chorei tanto
Sozinha sem um bem!

Por amor todo mundo chora
Um amor todo mundo tem.

Eu, porém, vivo sozinha
Muito triste sem ninguém.

Será que eu sou feia?
Não é, não senhor!
Então eu sou linda?
Você é um amor!

Respondam, então, por que razão
Eu vivo só, sem ter um bem?

Você tem o destino da lua
Que a todos encanta
E não é de ninguém.

Ai, eu tenho o destino da lua,
A todos encanto
E não sou de ninguém.


No entanto, Dia dos Namorados não havia não.

Mas, se o Dia dos Namorados tem tão pouco significado para mim que sempre me esqueço, porque gastei tantas palavras num texto sobre ele? Ora, porque o Gildo me lembrou e minha esposa, minha eterna namorada, aprendeu com os filhos sobre sua existência. É a evolução social dentro do capitalismo. Quanto mais datas comemorarmos mais ele resistirá. Só um dia não aparecerá neste nosso país: o Dia do Pobre, pois, apesar deles serem muitos, seu poder de compra não se adéqua ao sistema. Eles comemoram seu dia pelo Natal, com alguns lembrando outro pobre que nasceu na Galileia e anda tão esquecido hoje pelo ricos, estes preferem o Papai Noel.

Para não perder o tão apreciado costume devo falar da nossa Pátria de Chuteiras, que joga hoje aqui em Recife. Ingresso na mão, relógio guardado para não ficar sem ele, camisa amarela, ainda com o número de Romário no último jogo que vi da seleção brasileira em 1993, rumarei hoje para o estádio do Arruda e esperando sair de lá tão alegre quanto saí naquela época. Eu só espero que os jogadores não inventem entrarem no campo de mãos dadas como fizeram então. Além do ridículo daquele bando de homens imitando os namorados de Bom Conselho, agora estamos ganhando, e em time que está ganhando não se mexe. Deus me livre mas, se fizerem isto e perderem, vão ser sempre os Namoradinhos do Dunga. Prá frente Brasil!!!

Em tempo. Minha esposa vai comigo, será que ela aceitará o ingresso como presente do Dia dos Namorados?

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(*) O texto acima foi escrito pelo Jameson Pinheiro, no saudoso Blog da CIT, em 10/06/2009. Já lá vão 6 anos. Nesta época de Copa América, com Dunga no comando da seleção e véspera do Dia dos Namorados, não poderia deixar de publicar esta homenagem aos que ainda namoram. O Jameson, hoje, diz que não escreve mais, e só lida com imagens. No entanto, os seus textos anteriores sempre me levam a convidá-lo a escrever aqui na AGD. Seria uma honra. (ZC).

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