Por Zezinho de Caetés
Ontem escrevi aqui mesmo sobre a crise no futebol ocasionada
pelo roubo na FIFA. Penso não terem se passado 12 horas, já vi outra notícia: O
Joseph Blatter já anunciou que vai renunciar. Não era para menos. Depois da
lambança feita pelos seus comandados, se ele não sabia de nada, era ineficiente,
e se sabia, era cúmplice. Eu acredito mais nesta última hipótese.
Aliás, nunca vi algo tão igual em termos de desfecho do que
os dois maiores escândalos que nos atingem. O petrolão e o fifalão são escândalos
que se ficarem impunes, acabaremos vivendo na lei da selva, e seremos piores do
que o Burundi. Este um país africano que chegou ao caos quase total. Vejam que
nesta país africano (será que o BNDES colocou dinheiro lá?) o presidente
decidiu ignorar a lei e se lançou a candidato a um terceiro mandato
consecutivo, porque recebeu 94% dos votos nas eleições anteriores, enquanto
manda a polícia manifestantes e a população tenta fugir do país, com medo e sem
perspectiva.
Não chegamos ao ponto do Burundi, mas, ficaremos cada dia
mais perto se impunidade dos poderosos continuar. E vejam meu conterrâneo, o
Lula, seriamente, querendo voltar à presidência da república, quando sua
criatura a Dilma, não deverá nem terminar o mandato se ela for julgada e condenada
por crime de responsabilidade, como quer a oposição.
Já estamos vivendo as consequências da irresponsabilidade da
gerenta presidenta, desde sua atuação como ministra, passando pelo estelionato
eleitoral e continuando com as pedaladas fiscais. O desemprego cresce, o
produto cai, a indústria vai para o brejo e a confiança dos agentes econômicos
vai junto. O governo federal não paga mais nem promessa a santo, inclusive, até
o dinheiro para fiscalizar o Bolsa Família não existe mais. Nisto pelo menos não
fará falta, já que a única fiscalização que havia era se o beneficiário votava
no PT.
E é neste cenário que o PT, que anda caindo das pernas vai
realizar seu 5º Congresso, em Salvador, e do qual já falei aqui, comentando
algumas de suas propostas (aqui
e aqui).
E não me resta alternativa do que complementar meus simples comentário com o
texto que transcrevo abaixo, do Hubert Alquéres, que tem como título “O drama shakespeariano do PT” (Blog do
Noblat – 03/06/2015).
Ser ou não ser, eis questão, ou, como preferem os
anglo-saxões “To be or not to be, that is
the question” E, para mim, o PT já era, apesar das esperanças do Lula, em
se safar de tudo de ruim que fez e tentar chegar ao terceiro reinado. Se isto
acontecer, o Brasil merece Lula. Mas, eu não creio.
Fiquem com o Hubert, que eu vou doutrinar meus colegas de
dominó na praça, para que eles não votem mais no PT.
“O Partido dos Trabalhadores realizará seu 5º Congresso em meio a um
gravíssimo problema de identidade, como admite o manifesto de sua corrente
majoritária, Construindo um Novo Brasil.
O dilema não tem a ver com uma crise de consciência ou com a tentativa
de limpar a própria biografia dizimada por escândalos e malfeitos.
Na verdade, o que preocupa os petistas é como firmar posição, manter o
poder e se locupletar com o melhor dos mundos: usufruir do bônus de ser governo
sem arcar com o ônus.
Só isso explica o grande ponto em comum entre as sete teses
apresentadas pelas diversas correntes do PT: a crítica ao ajuste fiscal do
ministro Joaquim Levy.
O caleidoscópio petista é vasto.
Vai de quem simplesmente quer a cabeça do ministro da Fazenda e um giro
de 180 graus na política econômica da presidente Dilma Rousseff, até quem
considere o ajuste fiscal como um “recuo tático” que “recai mais sobre os
trabalhadores do que sobre outros setores das classes dominantes".
Essa é a posição mais moderada, defendida pela corrente majoritária e
cuja chapa ironicamente se chama “O Partido que muda o Brasil”. Sabemos muito
bem onde essa mudança desaguou.
Vamos deixar de lado algumas pérolas da tese da maioria, como suas
lamúrias contra o ”presidencialismo de coalizão” e seu mea-culpa por causa do
“cretinismo parlamentar” praticado por alguns petistas ao longo das últimas
legislaturas.
Mais importante do que tudo isso é a aposta numa luta intestina entre
Joaquim Levy e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, com Dilma
desempatando o jogo em favor dos “desenvolvimentistas”, como fica claro na
seguinte passagem:
“Face à disposição manifesta pela Presidenta Dilma de preservar as
conquistas dos trabalhadores nos últimos 12 anos, é necessário que as medidas
fiscais sejam complementadas por propostas governamentais que apontem – como já
declarou o Ministro do Planejamento – para uma retomada do crescimento ainda
este ano”.
O delírio é livre.
O dilema hamletiano dos petistas não se resume apenas a ser ou não ser
governo. A crise do PT é tão profunda (talvez seja a maior crise já vivida por
um partido político na história brasileira) que o desencanto vem batendo firme
em couraças até recentemente impenetráveis. A catatonia e a perplexidade
tomaram conta das bases.
Mais: petistas de alto coturno avaliam até que ponto é negócio disputar
as próximas eleições pela legenda, ou se não é o caso de criar um biombo para
se proteger da severa punição que o eleitorado anuncia.
Esse parece ser o jogo de Lula. Está com Dilma, pero non mucho.
Ora prestigia a presidente, ora avaliza a pregação do ex-governador
Tarso Genro em torno de uma frente de esquerda.
Se houver o milagre da recuperação de Dilma, o caudilho será candidato
em 2018 pela legenda e sua campanha terá como símbolo uma enorme estrela. Mas
se for confirmada a tendência atual, pode se descolar da criatura e se
candidatar por algo semelhante à Frente Ampla do Uruguai, atrás da qual venham
a se esconder petistas de todos os cantos.
Enquanto o horizonte não se esclarece, Lula fará o que Juan Perón
sempre fez na Argentina: arbitrar a disputa interna entre a direita e a
esquerda do seu partido para impor o princípio da “verticalidad”.
É um princípio cristalino. O debate interno é livre, mas a última
palavra é a do caudilho.”
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