José Antonio Taveira Belo /
Zetinho
Gosto muito de passear pelas ruas
do Recife. O casario da Rua da Aurora visto de longe com as suas originalidades
dos tempos passados, mesmo com uma falta de conservação pelo patrimônio
público; o rio visto de cima da ponte Duarte Coelho com suas águas poluídas,
mesmo assim escorre mansamente pelo seu leito; a Avenida Guararapes, onde
outrora era o coração da cidade, pulsando forte, hoje acometida pelo desleixo
do poder público se encontra doente prestes a morrer e, não tem doutor (governantes)
que a salvem, pela invasão das pessoas carentes, que necessitam de trabalho
mais que não conseguem. As ruas Sete de Setembro, Hospício, Palma, mostram a
calamidades que se encontram, exalando mau cheiro pelo lixo que lá se
encontram; as praças Maciel Pinheiro, Joaquim Nabuco está totalmente tomada por
pessoas que não tem um teto e, com isto se deitam pelas calçadas mostrando a
todos a sua miséria; as calçadas esburacadas e com saliências fazendo com que
as pessoas drible o espaço do caminhar, principalmente os idosos que muitas das
vezes vão ao chão. Mas, o que me faz escrever neste momento, é o abandono da
Pracinha, ocupadas por pessoas desocupadas. Parando um pouco para respirar do
passeio sentei no canteiro e em menos de
dez minutos já fui abordado por uma mulher de meia idade, toda pintada e com
uma saia curta vermelha e uma blusa amarela; Um par de argolas douradas na
orelha com um cordão cheio de miçangas verdes. Uma sandália lilás frouxa nos
pés. Chegou-se perto de mim – Como vai meu gato? Olhei para lado e para o
outro, não vi ninguém – Vamos fazer neném? Eu faço de tudo para o homem! Como é
vai ou não vai aceitar o convite desta gatona? Somente dez mil reis. Estou
esperando a resposta. Fiquei ali paralisado olhando aquela triste criatura que
se vende para qualquer um. Que lastima se encontra a nossa sociedade, ali
estava o escárnio de tudo que a sociedade dá. Olhou para mim novamente e, como
não havia me manifestado disse – estou perdendo o meu tempo. Até logo broto e, saiu.
Logo lá na frente encontra outro velho e começou a conversar e, parece que ele
aceitou a oferta, pois ela saiu em frente seguida por este velho. Enquanto me
recuperava desta abordagem, quando me viro esta sentada perto de mim uma moça
dos seus vinte cinco anos, com a mesma proposta. Alta, cabelos cumpridos,
metida numa calça azul colada no corpo e uma blusa mostrando praticamente os
seios. Riso fácil e com gesto acendeu um cigarro. Vi como o Broto deu o fora
naquela velha enxerida. É uma velha metida à moça. Aquela ali não é de nada. Eu
não! Eu sou enxuta, bela e gostosa. Levantando-se e se exibindo, rindo. Faço de
tudo para agradar o meu parceiro. Com os agrados com certeza ele vem me
procurar em pouco tempo. E que tal eu dar este agrado? Topa? Por este “agrado”
cobro vinte mil reis. O meu cantinho é logo ali na Rua Frei Caneca. Primeiro
andar. Entramos em silencio e saímos da mesma forma. Sabe onde fica a Basílica do Carmo, é naquela
rua? Venha não me faça esta desfeita. Levantou-se rebolando em plena manhã de
uma quinta feira, às 10 horas. Olhava para trás se certificando que estava sendo seguida, desiludida desapareceu
pela Rua Nova. Ali fiquei mais estupefato com estas abordagens. Quantos
velhotes não caem nesta armadilha? Empolgam-se com as mentiras lhes dirigidas por
“mulheres da vida” e seguem sem pensar no que lhe vai acontecer. E quantos não
são dopados e roubados nestes encontros clandestinos? E quem a reclamar? Ninguém. Fiquei por pouco tempo meditando,
observando as pessoas que passam pelo local sem saber o que ocorre naquele
pedaço de chão. Quando estava me levantando para ir embora, um rapaz dos seus
vinte anos cheio de maconha, argolas nas duas orelhas, um cordão de metal
pendurado sobre a camisa listrada e desgastada, sandália japonesa, pois o seu
semblante deixava ver, disse – meu velho estava ali observando a abordagem da “quenga”
Bia e da outra Fia, são perigosas quando algum trouxa vai à sua lábia. Elas
tomam tudo do cara! Não deixa nada, pois, no cubículo onde ela se esconde,
grita alto para as demais companheiras que estão lá embaixo, dizendo que foi
surrupiada pelo homem que está em sua companhia. O alarde é tão grande dizendo
que vai chamar a policia para resolver o seu caso. Não tem pena de ninguém é
mulher safada. Já foi presa varias vezes
e encaminhada para aquele posto policial por ter roubado alguns velhotes que vão
à sua onda. Já de pé para ir embora - tudo bem, meu amigo pela advertência. Mas
o senhor pode me ajudar, pois não tomei café esta manhã, estou com fome. Qualquer
trocado serve juntando com outros, da para comer um pão doce com caldo de cana,
ali na Rua da Palma, esquina com a Rua Tobias Barreto. Tinha uma nota de dois
reais e dei a ele. Saiu em direção a Avenida Dantas Barreto. Sai dali temeroso
e ao mesmo tempo participando de cenas que as pessoas pensam que não acontecem.
Este é nosso Centro do Recife. Quem quiser comprovar vá até lá e sente que
breve será abordado.
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