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sexta-feira, 21 de junho de 2013

PRACINHA DO DIARIO




José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Gosto muito de passear pelas ruas do Recife. O casario da Rua da Aurora visto de longe com as suas originalidades dos tempos passados, mesmo com uma falta de conservação pelo patrimônio público; o rio visto de cima da ponte Duarte Coelho com suas águas poluídas, mesmo assim escorre mansamente pelo seu leito; a Avenida Guararapes, onde outrora era o coração da cidade, pulsando forte, hoje acometida pelo desleixo do poder público se encontra doente prestes a morrer e, não tem doutor (governantes) que a salvem, pela invasão das pessoas carentes, que necessitam de trabalho mais que não conseguem. As ruas Sete de Setembro, Hospício, Palma, mostram a calamidades que se encontram, exalando mau cheiro pelo lixo que lá se encontram; as praças Maciel Pinheiro, Joaquim Nabuco está totalmente tomada por pessoas que não tem um teto e, com isto se deitam pelas calçadas mostrando a todos a sua miséria; as calçadas esburacadas e com saliências fazendo com que as pessoas drible o espaço do caminhar, principalmente os idosos que muitas das vezes vão ao chão. Mas, o que me faz escrever neste momento, é o abandono da Pracinha, ocupadas por pessoas desocupadas. Parando um pouco para respirar do passeio sentei no canteiro e  em menos de dez minutos já fui abordado por uma mulher de meia idade, toda pintada e com uma saia curta vermelha e uma blusa amarela; Um par de argolas douradas na orelha com um cordão cheio de miçangas verdes. Uma sandália lilás frouxa nos pés. Chegou-se perto de mim – Como vai meu gato? Olhei para lado e para o outro, não vi ninguém – Vamos fazer neném? Eu faço de tudo para o homem! Como é vai ou não vai aceitar o convite desta gatona? Somente dez mil reis. Estou esperando a resposta. Fiquei ali paralisado olhando aquela triste criatura que se vende para qualquer um. Que lastima se encontra a nossa sociedade, ali estava o escárnio de tudo que a sociedade dá. Olhou para mim novamente e, como não havia me manifestado disse – estou perdendo o meu tempo. Até logo broto e, saiu. Logo lá na frente encontra outro velho e começou a conversar e, parece que ele aceitou a oferta, pois ela saiu em frente seguida por este velho. Enquanto me recuperava desta abordagem, quando me viro esta sentada perto de mim uma moça dos seus vinte cinco anos, com a mesma proposta. Alta, cabelos cumpridos, metida numa calça azul colada no corpo e uma blusa mostrando praticamente os seios. Riso fácil e com gesto acendeu um cigarro. Vi como o Broto deu o fora naquela velha enxerida. É uma velha metida à moça. Aquela ali não é de nada. Eu não! Eu sou enxuta, bela e gostosa. Levantando-se e se exibindo, rindo. Faço de tudo para agradar o meu parceiro. Com os agrados com certeza ele vem me procurar em pouco tempo. E que tal eu dar este agrado? Topa? Por este “agrado” cobro vinte mil reis. O meu cantinho é logo ali na Rua Frei Caneca. Primeiro andar. Entramos em silencio e saímos da mesma forma.  Sabe onde fica a Basílica do Carmo, é naquela rua? Venha não me faça esta desfeita. Levantou-se rebolando em plena manhã de uma quinta feira, às 10 horas. Olhava para trás se certificando que  estava sendo seguida, desiludida desapareceu pela Rua Nova. Ali fiquei mais estupefato com estas abordagens. Quantos velhotes não caem nesta armadilha? Empolgam-se com as mentiras lhes dirigidas por “mulheres da vida” e seguem sem pensar no que lhe vai acontecer. E quantos não são dopados e roubados nestes encontros clandestinos?  E quem a reclamar?  Ninguém. Fiquei por pouco tempo meditando, observando as pessoas que passam pelo local sem saber o que ocorre naquele pedaço de chão. Quando estava me levantando para ir embora, um rapaz dos seus vinte anos cheio de maconha, argolas nas duas orelhas, um cordão de metal pendurado sobre a camisa listrada e desgastada, sandália japonesa, pois o seu semblante deixava ver, disse – meu velho estava ali observando a abordagem da “quenga” Bia e da outra Fia, são perigosas quando algum trouxa vai à sua lábia. Elas tomam tudo do cara! Não deixa nada, pois, no cubículo onde ela se esconde, grita alto para as demais companheiras que estão lá embaixo, dizendo que foi surrupiada pelo homem que está em sua companhia. O alarde é tão grande dizendo que vai chamar a policia para resolver o seu caso. Não tem pena de ninguém é mulher safada.  Já foi presa varias vezes e encaminhada para aquele posto policial por ter roubado alguns velhotes que vão à sua onda. Já de pé para ir embora - tudo bem, meu amigo pela advertência. Mas o senhor pode me ajudar, pois não tomei café esta manhã, estou com fome. Qualquer trocado serve juntando com outros, da para comer um pão doce com caldo de cana, ali na Rua da Palma, esquina com a Rua Tobias Barreto. Tinha uma nota de dois reais e dei a ele. Saiu em direção a Avenida Dantas Barreto. Sai dali temeroso e ao mesmo tempo participando de cenas que as pessoas pensam que não acontecem. Este é nosso Centro do Recife. Quem quiser comprovar vá até lá e sente que breve será abordado.

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