Por Carlos Sena (*)
Opção sexual virou moda. Falar
que fulano ou beltrano tem sua “opção sexual” é se expor à ignorância dos
fatos. Todos que se acham donos da verdade, não raro, se saem com essa
expressão para querer posar de sabido, como se esse termo fosse o correto para
dizer, principalmente se alguém é gay. O falso moralismo se esconde um pouco nisso, pois geralmente depois dessa
verbalização, vem o chavão: “nada contra”... Desde que não tenha ninguém na
família! Esse “nada contra” nunca representa nada a favor da pessoa e da sua
condição de sexualidade.
O principio do equivoco não está
no grosso, mas no varejo dessa compreensão. Porque é no dia-a-dia da vida das
pessoas que a sexualidade aflora e se abre feito flor de maracujá e igual ela
aflora, desabrocha. Esse “desabrochar”, no caso dos gays nem sempre ocorre na
relação direta das indumentárias, do falar manso, do andar leve... Por ser um
sentimento ele é interno e, nem sempre acontece a olhos vistos. Talvez esteja
aí a grande confusão que alguns sabidos fazem por não terem condições de
verbalizar corretamente uma realidade que se não vê.
Opção sexual supõe poderes para
optar, e isso não ocorre na questão comportamental da sexualidade. Alguém pode
ir pra cama com outrem e lá dentro optarem, por exemplo, por um prazer anal,
vaginal, ou até mesmo parafilias. Nesses casos, vale o prazer, vale as opções
combinadas entre os parceiros. Nas questões da homossexualidade também, mas não
no grosso, no varejo delas. Dois homens ou duas mulheres poderão optar em fazer
tudo que tem direito ou não. O que jamais vai ocorrer é duas pessoas do mesmo
sexo descobrirem na hora do “vamos ver” que não gosta de homem sendo homem, ou
não gosta de mulher sendo mulher. Isso seria, no nosso entendimento, uma opção.
Mesmo essa, seria uma absurda opção calcada na irracionalidade, mas que pode
nos ajudar compreender a questão da opção de que falamos.
Alguém gosta de jaca. Isso é
fato. Mas, há quem goste só de jaca mole – isso é uma opção. Mas, se come o que
não se gosta? Claro que sim. Quantos homens, pela ilusão de que “comendo” outro
homem não sejam gays, vivem por aí fazendo isso? Talvez eles gostem mesmo é de
mulher, mas fazem por opção do momento. Da mesma forma que muitos homens
casaram, tiveram filhos, mas nunca deixaram de ser gays por dentro...
Nesse quesito há mitos. Mito de
que os homens gays não fazem filhos e que até nem “levantam” par mulher. Mito
de que mulheres também casadas e com filhos só gostam de mulher porque nunca
encontraram o seu homem ideal.
Assim, os usuários (conscientes
ou não) da “opção sexual” como forma de rotular sua ignorância acerca do tema,
continuam na crista da onda como forma de jubilo. Algo como uma pessoa que “se
acha” o cão do terceiro livro, a bala que matou Getúlio, as polegadas de Marta
Rocha. Só porque imaginam que estão dentro do chamado “politicamente correto”
da sexualidade. Engano. A sexualidade é mais complexa do que imagina nossa vã
filosofia. Mas, requer de todos o compromisso de não andar por aí se fazendo de
sabido ajudando a aumentar o preconceito.
De tudo, resta a lição que nem
sempre sabemos de cor. O homem chegou à lua e já caminha para Marte e outros
planetas, mas não chegou ao seu sexo nem a sua sexualidade. O que nos serve de
consolo se é que assim possamos dizer é que, mais cedo ou mais tarde, as
famílias vão tendo que administrar os seus gays. Isso mesmo: um belo dia os
pais descobrem que tem um filho gay ou uma filha lésbica... Vão mata-los? Nunca
isso acontece e, com o tempo, depois do choque, todos partem para a compreensão
mais correta de que se nasce o que se é: homem, mulher, gays, tranas, etc...
Se você quiser fazer a prova dos
nove, dou uma sugestão: sendo homem, procure outro homem e faça a opção de,
naquela noite, curti-lo. Se é mulher, idem. Vocês poderão me dizer o resultado
via internet em meu e-mail particular.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 19/04/2013
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