Por Carlos Sena (*)
Passeando por Casa Amarela – importante bairro
do Recife, deparei-me com uma banqueta cheinha de lindas macaxeiras. O visual era
o melhor possível: elas, as macaxeiras também conhecidas como aipim, estavam
dispostas "elegantemente" na banqueta lembrando as garotas de
programas que ficam nas avenidas pedindo para serem “comidas”. Como as putas,
as lindas “maca” cheiravam; pareciam exalar “cheiro” bom como que nos remetendo
ao momento em que tiramos as bichinhas do fogo e, com manteiga ou carne
guisada, a gente se lambe os beiços e “lou” – se empanturra todo.
Diante daquele marketing feito
pelo visual das macaxeiras dispostas na banca, ente ramos verdes da própria
leguminosa, havia a simpatia do senhor, do velho vendedor. Bonachão,
conversador, escondia no seu semblante algo de contraditoriamente tímido.
– Quanto é a macaxeira?
– Três reais o quilo!
– Bote um quilo.
– Leve dois que faço cinco.
– Ok.
Nesse meio tempo chega uma
senhora toda chique. Coberta de maquilagem, relógio grande no braço e
bijuterias que não acabavam mais. Algo como típica perua à Hebe Camargo, com
todo respeito à defunta. Logo a “perua” foi se roubando minha conversa e eu
fiquei quieto esperando que o velho a atendesse, pois ela tinha toda pinta de
ser freguesa antiga. – Nunca mais foi lá em casa, perguntou ela. – Não dona,
porque da ultima vez não me deixaram entrar. Disseram que a senhora não queria macaxeira.
– Mas eu não sabia que era o senhor! Da próxima vez, disse a perua, diga que é
o “homem da macaxeira”. – Tá certo, respondeu o velho. A perua foi embora toda
faceira. Quando ele, finalmente, me atendeu, eu comecei a galhofar um pouco:
“quer dizer que o senhor vai mostrar a “macaxeira” à madame?” – Não, “afe”
Maria, respondeu. Pois, é, continuei num lero. Ele, coitado, ficou pensando que
tinha culpa no cartório, embora não tivesse, pois era mesmo coisa que eu tinha
dito para mexer com ele. De fato, o pobre velho ficou preocupado com a história
da “macaxeira dele” – certamente tinha mesmo que ficar preocupado, pois parecia
iminente que seu “prazo de validade” estava vencido já fazia algum tempo. Mudei
o rumo da prosa, mas ele ficou pensativo e, certamente, não iria mais oferecer
sua “macaxeira” àquela senhora na casa dela.
Quanto a mim comprei as benditas
macaxeiras. Ele fez cinco reais e colocou um monte delas numa sacola. Eu me
assustei, mas ele disse que aquele monte era apenas os cinco reais que eu já
tinha lhe dado. Saí feliz com as minhas (então dele) macaxeiras que eu adoro
comer de manhã com manteiga. Em casa descasquei as danadas e, para minha
surpresa, todas estavam brocadas por dentro a despeito do aspecto bonito que
apresentavam na banca de feira. Cozinhei as danadas por quase duas horas, mas
elas continuavam resistentes ao cozimento. Resultado: duras e cheias de
brocados só prestavam mesmo, as macaxeiras do velho, para fazer bolo de
liquidificador...
Ironia: as putas e putos de rua
têm muito a ver com essa história –
ambas ficam se oferecendo. A gente compra, mas nem sempre ficamos
sabendo o que vamos, literalmente, “comer”...
Mas valeu, inclusive porque me serviu de mote para essa prosa.
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(*) Publicado no Recanto de Letras
em 11/05/2013
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