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sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Macaxeira do Velho.




Por Carlos Sena (*)

 Passeando por Casa Amarela – importante bairro do Recife, deparei-me com uma banqueta cheinha de lindas macaxeiras. O visual era o melhor possível: elas, as macaxeiras também conhecidas como aipim, estavam dispostas "elegantemente" na banqueta lembrando as garotas de programas que ficam nas avenidas pedindo para serem “comidas”. Como as putas, as lindas “maca” cheiravam; pareciam exalar “cheiro” bom como que nos remetendo ao momento em que tiramos as bichinhas do fogo e, com manteiga ou carne guisada, a gente se lambe os beiços e “lou” – se empanturra todo.
Diante daquele marketing feito pelo visual das macaxeiras dispostas na banca, ente ramos verdes da própria leguminosa, havia a simpatia do senhor, do velho vendedor. Bonachão, conversador, escondia no seu semblante algo de contraditoriamente tímido.

– Quanto é a macaxeira?
– Três reais o quilo!
– Bote um quilo.
– Leve dois que faço cinco.
– Ok.

Nesse meio tempo chega uma senhora toda chique. Coberta de maquilagem, relógio grande no braço e bijuterias que não acabavam mais. Algo como típica perua à Hebe Camargo, com todo respeito à defunta. Logo a “perua” foi se roubando minha conversa e eu fiquei quieto esperando que o velho a atendesse, pois ela tinha toda pinta de ser freguesa antiga. – Nunca mais foi lá em casa, perguntou ela. – Não dona, porque da ultima vez não me deixaram entrar. Disseram que a senhora não queria macaxeira. – Mas eu não sabia que era o senhor! Da próxima vez, disse a perua, diga que é o “homem da macaxeira”. – Tá certo, respondeu o velho. A perua foi embora toda faceira. Quando ele, finalmente, me atendeu, eu comecei a galhofar um pouco: “quer dizer que o senhor vai mostrar a “macaxeira” à madame?” – Não, “afe” Maria, respondeu. Pois, é, continuei num lero. Ele, coitado, ficou pensando que tinha culpa no cartório, embora não tivesse, pois era mesmo coisa que eu tinha dito para mexer com ele. De fato, o pobre velho ficou preocupado com a história da “macaxeira dele” – certamente tinha mesmo que ficar preocupado, pois parecia iminente que seu “prazo de validade” estava vencido já fazia algum tempo. Mudei o rumo da prosa, mas ele ficou pensativo e, certamente, não iria mais oferecer sua “macaxeira” àquela senhora na casa dela.

Quanto a mim comprei as benditas macaxeiras. Ele fez cinco reais e colocou um monte delas numa sacola. Eu me assustei, mas ele disse que aquele monte era apenas os cinco reais que eu já tinha lhe dado. Saí feliz com as minhas (então dele) macaxeiras que eu adoro comer de manhã com manteiga. Em casa descasquei as danadas e, para minha surpresa, todas estavam brocadas por dentro a despeito do aspecto bonito que apresentavam na banca de feira. Cozinhei as danadas por quase duas horas, mas elas continuavam resistentes ao cozimento. Resultado: duras e cheias de brocados só prestavam mesmo, as macaxeiras do velho, para fazer bolo de liquidificador...

Ironia: as putas e putos de rua têm muito a ver com essa história –  ambas ficam se oferecendo. A gente compra, mas nem sempre ficamos sabendo o que vamos, literalmente, “comer”...  Mas valeu, inclusive porque me serviu de mote para essa prosa.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 11/05/2013

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