Por Zé Carlos
Os acontecimentos no Brasil estão se passando tão
rapidamente que sempre falta um assunto de importância no filme da UOL que
tentamos mostrar e comentar aqui. Semana passada para aqueles que não lembram (aqui)
faltou a vaia na presidenta Dilma no Maracanã. Nesta semana faltou seu discurso
de reação à onda de manifestações que assolaram o país. E da mesma forma que a
vaia foi importante para completar o filme passado, o discurso é extremamente
importante para entender o que se passou durante o período abordado.
Alguns críticos poderão dizer que o discurso foi tão calmo
que não teve nenhuma interferência nos acontecimentos. Eu discordo, apenas
porque se ele não existisse penso que a presidência teria desaparecido junto
com o dirigente da FIFA, o Joseph Blatter, que bateu em retirada, acossado
tanto pelas vaias em Dilma quanto pelas manifestações. Mas voltemos ao filme.
O que mais me deixou constrangido foi o primeiro motivo
alegado para houvesse tantas manifestações, que girava em torno do preço das
passagens do transporte coletivo nas cidades. O constrangimento veio devido ao
fato de tempos atrás, e põe atrás nisso, eu ter trabalhado com esta área e
áreas adjacentes, e, quando isto acontece, nossa fraca memória começa a querer
trabalhar demais, os poucos restantes neurônios ficam a saltitar, mesmo sem a
vitalidade anterior.
Inicialmente, eu pensei ter voltado àquela vida, quando não
tínhamos uma moeda, nem para dar como exemplo numa aula de Economia, e que os
preços eram reajustados toda hora. Desta vez a questão girava em torno de R$
0,20 (vinte centavos de real), e que um tal de Movimento Passe Livre dizia ser
uma aberração, enquanto os gestores de nossas cidades diziam ser o aumento
abaixo da inflação. Eu entendi então que o problema seria a inflação e não o
aumento do transporte público.
Eu que vivi na época em que disparavam-se gatilhos e mais
gatilhos monetários de um lado e do outro, nunca esperaria que este simples
pedido pudesse mobilizar tanta gente por este país afora. Mas, mobilizou, e
esta mobilização conseguiu baixar os preços dos transportes. Se para o bem ou
para o mal, ainda não ficou claro.
Isto me deixou ainda mais preocupado, quando vi um prefeito
e um governador também constrangidos pelo poder da manifestação voltar atrás no
aumento, e tentarem explicar que o dinheiro que não receberiam mais dos
passageiros, teria que vir de outro lugar. Disseram que o dinheiro sairiam dos
investimentos. Mas, não disseram quais. Já pensou se forem investimentos do
próprio sistema de transportes? Se forem, o que poderá ocorrer é que, cada
passageiro, pagando 20 centavos a menos, terá este valor a menos na qualidade
do seu transporte. Mais suor e mais lágrimas, como sempre. Para o mal ou para o
bem ainda vivemos numa economia mista.
No entanto, eu vi um dos cartazes da manifestação que
reflete com a maior justeza e verdade o
que se passou no país em termos de política de transporte. Demos no último meio
século, mais ênfase ao transporte individual, do que ao transporte coletivo nas
grandes cidades. Tornou-se sinal de pobreza andar de ônibus e de riqueza andar
de carro. E, eu, morando um tempo fora do país descobri exatamente o que este
cartaz dizia: “PAÍS DESENVOLVIDO NÃO É ONDE POBRE TEM CARRO, É ONDE RICO ANDA
DE TRANSPORTE COLETIVO”.
E agora volto ao filme em si, que apesar das tentativas de
fazer humor, o tempo todo, a situação está tão preta que os dentes se escondem
automaticamente, depois de alguns risos chochos.
O que me fez mais rir foi a declaração do prefeito de São
Paulo que disse que baixar o preço da passagem era uma medida populista, e que
no outro a tomou, apenas referendando o caráter do seu governo. E não foi só
ele que nos fez rir. Todo mundo oficial seguiu a onda com mais ou menos medo da
multidão que naquelas alturas já queria outras coisas além dos 20 centavos. E o
governador de São Paulo declarou, depois dos excessos de sua polícia, que
estava proibida a utilização de balas de borracha. Eu ri quando pensei que
fosse já para fazer economia para compensar a baixa de preço das passagens.
Mas, usaram à vontade. Talvez ainda tivesse um grande estoque. E ri mais ainda
com as bombas do Galvão Bueno.
E chega o ápice do humor nesta semana quando é apresentada a
vaia que faltou no filme passado, no Maracanã, para a presidente Dilma. Eu ri
mais quando o presidente da FIFA pediu respeito à presidenta, quando é a FIFA
que não nos respeita, exigindo um padrão de equipamentos que vai nos custar muito caro, talvez mais do que
possamos pagar. Então veio o Pelé, mais uma vez, sem sorte, no campo político.
Lembro que ele passou muito tempo queimado por dizer que o brasileiro não sabia
votar, em plena ditadura. Agora ele pede para a população deixar esta confusão
toda, numa época como esta. Neste caso o macaco e o Romário estão certos: Pelé
calado é um Poeta.
E partiu a bomba! E goooooooooooooool. Veja abaixo o resumo
do roteiro pelos produtores do filme e o vejam em seguida. Se quiserem se
manifestem. Rindo ou chorando.
“A intensidade dos
protestos que tomaram as ruas de diversas cidades brasileiras nesta semana
deixou muito político de cabelo em pé e sem saber que atitudes tomar diante do
pedido da população para que as tarifas de transporte público baixassem. São
Paulo e Rio de Janeiro estão entre as cidades onde mais houve protestos, alguns
envolvendo atos de vandalismo, e onde os políticos demoraram a decidir o que fazer.
A decisão de recuar em relação ao aumento veio acompanhada de avisos de que
investimentos terão que ser suspensos para pagar a conta. Os protestos
tumultuaram também a Copa das Confederações, cuja abertura teve direito a vaias
à presidente Dilma Rousseff. Neste contexto, Pelé queimou o filme ao defender
as disputas futebolísticas no país e pedir que o povo esquecesse as
manifestações, às quais chamou de “confusão”.”
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