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segunda-feira, 24 de junho de 2013

A semana - O Brasil abriu os olhos. Sairá da cama?




Por Zé Carlos

Os acontecimentos no Brasil estão se passando tão rapidamente que sempre falta um assunto de importância no filme da UOL que tentamos mostrar e comentar aqui. Semana passada para aqueles que não lembram (aqui) faltou a vaia na presidenta Dilma no Maracanã. Nesta semana faltou seu discurso de reação à onda de manifestações que assolaram o país. E da mesma forma que a vaia foi importante para completar o filme passado, o discurso é extremamente importante para entender o que se passou durante o período abordado.

Alguns críticos poderão dizer que o discurso foi tão calmo que não teve nenhuma interferência nos acontecimentos. Eu discordo, apenas porque se ele não existisse penso que a presidência teria desaparecido junto com o dirigente da FIFA, o Joseph Blatter, que bateu em retirada, acossado tanto pelas vaias em Dilma quanto pelas manifestações. Mas voltemos ao filme.

O que mais me deixou constrangido foi o primeiro motivo alegado para houvesse tantas manifestações, que girava em torno do preço das passagens do transporte coletivo nas cidades. O constrangimento veio devido ao fato de tempos atrás, e põe atrás nisso, eu ter trabalhado com esta área e áreas adjacentes, e, quando isto acontece, nossa fraca memória começa a querer trabalhar demais, os poucos restantes neurônios ficam a saltitar, mesmo sem a vitalidade anterior.

Inicialmente, eu pensei ter voltado àquela vida, quando não tínhamos uma moeda, nem para dar como exemplo numa aula de Economia, e que os preços eram reajustados toda hora. Desta vez a questão girava em torno de R$ 0,20 (vinte centavos de real), e que um tal de Movimento Passe Livre dizia ser uma aberração, enquanto os gestores de nossas cidades diziam ser o aumento abaixo da inflação. Eu entendi então que o problema seria a inflação e não o aumento do transporte público.

Eu que vivi na época em que disparavam-se gatilhos e mais gatilhos monetários de um lado e do outro, nunca esperaria que este simples pedido pudesse mobilizar tanta gente por este país afora. Mas, mobilizou, e esta mobilização conseguiu baixar os preços dos transportes. Se para o bem ou para o mal, ainda não ficou claro.

Isto me deixou ainda mais preocupado, quando vi um prefeito e um governador também constrangidos pelo poder da manifestação voltar atrás no aumento, e tentarem explicar que o dinheiro que não receberiam mais dos passageiros, teria que vir de outro lugar. Disseram que o dinheiro sairiam dos investimentos. Mas, não disseram quais. Já pensou se forem investimentos do próprio sistema de transportes? Se forem, o que poderá ocorrer é que, cada passageiro, pagando 20 centavos a menos, terá este valor a menos na qualidade do seu transporte. Mais suor e mais lágrimas, como sempre. Para o mal ou para o bem ainda vivemos numa economia mista.

No entanto, eu vi um dos cartazes da manifestação que reflete com a  maior justeza e verdade o que se passou no país em termos de política de transporte. Demos no último meio século, mais ênfase ao transporte individual, do que ao transporte coletivo nas grandes cidades. Tornou-se sinal de pobreza andar de ônibus e de riqueza andar de carro. E, eu, morando um tempo fora do país descobri exatamente o que este cartaz dizia: “PAÍS DESENVOLVIDO NÃO É ONDE POBRE TEM CARRO, É ONDE RICO ANDA DE TRANSPORTE COLETIVO”.

E agora volto ao filme em si, que apesar das tentativas de fazer humor, o tempo todo, a situação está tão preta que os dentes se escondem automaticamente, depois de alguns risos chochos.

O que me fez mais rir foi a declaração do prefeito de São Paulo que disse que baixar o preço da passagem era uma medida populista, e que no outro a tomou, apenas referendando o caráter do seu governo. E não foi só ele que nos fez rir. Todo mundo oficial seguiu a onda com mais ou menos medo da multidão que naquelas alturas já queria outras coisas além dos 20 centavos. E o governador de São Paulo declarou, depois dos excessos de sua polícia, que estava proibida a utilização de balas de borracha. Eu ri quando pensei que fosse já para fazer economia para compensar a baixa de preço das passagens. Mas, usaram à vontade. Talvez ainda tivesse um grande estoque. E ri mais ainda com as bombas do Galvão Bueno.

E chega o ápice do humor nesta semana quando é apresentada a vaia que faltou no filme passado, no Maracanã, para a presidente Dilma. Eu ri mais quando o presidente da FIFA pediu respeito à presidenta, quando é a FIFA que não nos respeita, exigindo um padrão de equipamentos que vai nos  custar muito caro, talvez mais do que possamos pagar. Então veio o Pelé, mais uma vez, sem sorte, no campo político. Lembro que ele passou muito tempo queimado por dizer que o brasileiro não sabia votar, em plena ditadura. Agora ele pede para a população deixar esta confusão toda, numa época como esta. Neste caso o macaco e o Romário estão certos: Pelé calado é um Poeta.

E partiu a bomba! E goooooooooooooool. Veja abaixo o resumo do roteiro pelos produtores do filme e o vejam em seguida. Se quiserem se manifestem. Rindo ou chorando.

“A intensidade dos protestos que tomaram as ruas de diversas cidades brasileiras nesta semana deixou muito político de cabelo em pé e sem saber que atitudes tomar diante do pedido da população para que as tarifas de transporte público baixassem. São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as cidades onde mais houve protestos, alguns envolvendo atos de vandalismo, e onde os políticos demoraram a decidir o que fazer. A decisão de recuar em relação ao aumento veio acompanhada de avisos de que investimentos terão que ser suspensos para pagar a conta. Os protestos tumultuaram também a Copa das Confederações, cuja abertura teve direito a vaias à presidente Dilma Rousseff. Neste contexto, Pelé queimou o filme ao defender as disputas futebolísticas no país e pedir que o povo esquecesse as manifestações, às quais chamou de “confusão”.”


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