Por Ademir Ferraz (*)
Não sabia eu que hoje era
comemorado o tal dia dos namorados até uma amiga mandar-me parabéns. Não
entendi, mas alertou-me para uma questão. Dia dos namorados, dos ficantes, dos
amantes avulsos, da mulher, do marido, da filha, do filho... Não sei mais do
que se trata. Em dado momento somos namorados e em outro somos amantes. Num
instante namorado não faz sexo, noutro sem sexo não há namoro. Há um quê de
“esdruxilidade“ permeando as características seja dos sentimentos, seja da
normativa dos sentidos. Nesta linha, o garoto esfomeado, nas portas ébrias dos
bares sonolentos dizia: Professor “to aí no carro”. Depois de um tempo em que
todo mundo já professava, veio o patrão. Patrão “to aí no carro”. Quando não
mais existiam trabalhadores, pois todo mundo era patrão, veio o Doutor. O
pós-doctor não é título, então ou se fica aí ou recomeça o ciclo.
Analiticamente há um entrelace entre as duas coisas: Dia disso e título por
veículo, ou não. Se observarmos outras datas como dia da mãe (Abro parênteses
para dizer que um deputado propôs dia da avó, e eu não conheço avó que não
tenha sido mãe) e volto para o dia de sua mãe, da minha ou das duas. Não há a
menor importância de quem, de fato, é o dia. Dia das mães deveria ser, pelo
menos o é para mim, todos os dias. Mas as coisas esdrúxulas fenecem na paixão
pela mediocridade das idéias, de tal forma que no dia da mulher ai de quem não
parabenizar. Assim, ou o homem fica com 365 dias e a mulher com um, ou o ano
passa para 366 dias. A menoridade humana da qual fala Kant conjugada com idéias
buberianas e terrenas, vai bem nesta direção: Clonar um dia para esquecer os
outros em um paradoxo cansado, mas muito feliz! A clonagem não é de seu José
nem de dona Maria da esquina. Esta duplicidade de datas vem dos grandes
comerciantes, nasce no seio dos grandes economistas para produção de mais
riqueza dos 10% que sabem tirar vantagem dos demais 90%. É como se estes 90% de
mulheres e homens teimassem em não tomar nas mãos a feitura de seu
conhecimento, mas, ao contrario, permanecessem reféns impensantes dos que usam
sua pobreza mental para fazer dinheiro. Finalmente, se casamento é uma
instituição falida, pelo menos é uma coisa. Mas e o namoro, que tipo de
instituição é, se é que é!
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(*) Publicado originalmente no
Facebook
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