Por Carlos Sena (*)
Pernambuco dá de tudo. Mesmo que
não se plante dá. O que mais gosto no “dá de tudo” de lá é quem nem tudo que lá
se dá é de tudo, ou de todos. Pernambuco dá desde sua história de lutas
libertárias; dá um banho de sentimento pátrio quando, em Olinda, Bernardo
Vieira dá o primeiro grito da República brasileira. É mesmo um estado dado: dá
um Vitalino que exportou sua arte figurativa para o mundo. Dá também um
Virgulino – o nosso lampião. Acerca dele sempre me pairou dúvidas do seu nome.
Teria sido ele uma vírgula sonora que ao invés de tocar sanfona tocava violino?
Ou esse nome se deu porque ele, como uma vírgula, era meio um sopro para se
esconder das volantes? Pernambuco dá
isso também: nomes esquisitos e nomes poéticos: Rua da Saudade, da Harmonia, da
União – algumas ruas inspiradoras dos famosos frevos de bloco. Dá nomes
esquisitos como Garanhuns – cidade de clima frio que serviu de abrigo para
aquela família antropófaga que matava gente e depois vendia a carne processada
como recheios de coxinhas lembram? Nessa trilha “dada”, o estado se dá ao luxo
de ter clima frio meio europeu como na cidade de Triunfo, Gravatá e a própria
Garanhuns, concomitante ao sol escaldante do sertão... Pernambuco dá outras
peculiaridades para o mundo: a Rádio Jornal do Comércio que, definitivamente e
agora mais que nunca FALA PARA O MUNDO. Pela vocação de dar, deu para o mundo
seu Lua, o nosso Gonzaga rei do baião. Deu Zé Bias – uma versão piorada de seu
Lunga – personagem abusado de respostas na ponta da língua ferina, cuja fama
tomou conta em todo Nordeste. Ô NOR, Deste? Deu sim. Tal qual Ta-Deu, ele deu:
deu um presidente da república – um retirante da seca chamado LULA... Deu
também calça e sutiã, deu Madame Satã e, sem revide, Pernambuco deu Nelson, não
o Gonçalves, mas o Rodrigues. Aqui dá Perna, mas dá Buco. A mulher abrindo a
perna e o homem buco, buco, buco... Pernambuco
dá até o que não tem: deu pro mundo Ariano Suassuna que da Paraíba saiu
e lá se fincou para ser conhecido no mundo. Arriando sua sunga, Pernambuco dá
praia e dá rio, dá calor e dá frio – calafrio com a violência inclemente que
nas ruas se oferta em grosso foi e varejo. No Brasil colônia Pernambuco logo
deu cana de açúcar por conta do solo massapê que aqui abunda. Abunda aqui,
enquanto há bundas no cais do porto morto de saudades do tempo em que no Recife
se dava no baixo meretrício do bairro, hoje chique, chamado Recife antigo.
Pernambuco dá pra quem quiser, mas dá independente da querência do povo: deu
Alceu e deu Valença. Deu Lia e não deu Itamaracá. Deu Reginaldo, mas não deu ao
Rossi que virou padre. Pernambuco é dado, mas não é Bozó. Mas dá jogo e dá
jogatina por aqui também. Joga-se no bicho, mas, na bicha se joga bosta como se Gení fosse.
Pernambuco deu bolo e deu rola. Bolo de rolo cuja fama saiu do país afora, mas
deu a rola que Gonzaga cantou: “tenho pena da rolinha que o menino matou”...
Pernambuco dá de tudo e não fica refém, dá inclusive pro mundo NOVA JERUSALÉM.
A ultima noticia que Pernambuco deu foi
a notícia de um Advogado que foi coveiro e que, depois de formado estuda no
cemitério para fazer a prova da OAB. Quem não acreditar vá lá pra ver. Mas se
quiser mais saber acerca do que mais se dão em Pernambuco, as mulheres de
Tejucopaco também dão: água quente nos ouvidos dos maridos traidores –
lembrança dos Holandeses que elas expulsaram com panela e água fervente... Pois é. Aqui se plantando
tudo dá, inclusive tapa na cara de gente safada que nos visita e quer desdenhar
do nosso povo.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 28/04/2013
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