Por Zezinho de Caetés
Eu tive alguns problemas e sumi um pouco daquilo que gosto
de fazer que é publicar alguma coisa na AGD. Pensava que ao voltar continuaria
tudo na mais perfeita ordem e paz, e continuaria minha saga pela defenestração
do PT do poder, falando sozinho. Quando voltei não entendi, se estava no Brasil
ou em algum país destes onde sempre há um “primavera”
que se define como o povo nas ruas. Senti que não estava só, como o Collor
tempos atrás.
Fiquei sem entender nada, mesmo que ouvisse rádio, visse TV,
lesse jornais e mídias eletrônicas. O povo estava na rua, em marchas
intermináveis, mas eu não sabia, ao certo, o que estava ocorrendo. Pensei logo,
será que os bolsistas familiares desceram ao asfalto porque a CEF não depositou
o dinheiro? Mas, quando olhei as pessoas que estavam no protesto, elas não
estavam vestidas com saias de R$ 300,00, então não seriam do programa Bolsa
Família.
Continuei com a mente indagativa quem seriam os participantes,
ou melhor, o que queriam eles, para ver se me integrava á turma. Confesso que até
hoje eu não sei. Li um texto do Elio Gaspari onde ele compara as manifestações
a um “monstro”, repetindo Ulisses
Guimarães, por não saber como explicar o fenômeno, e diante de tanta dúvida ele cita alguns fatos
relevantes que podem ter causada a explosão popular pelas ruas do país. Escreve
ele:
Aqui vão sete coisas
que aconteceram nos últimos dez dias:
1 — O prefeito
Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin subiram as tarifas e foram para
Paris, avisando que não conversariam nem com os manifestantes. Mudaram de
ideia.
2 — Geraldo Alckmin
defendeu a ação da polícia na manifestação de quinta-feira passada. Mudou de
ideia e pacificou sua PM.
3 — O comandante da PM
disse que sua tropa de choque só atirou quando foi apedrejada. Quem estava na
esquina da Rua da Consolação com Maria Antonia não viu isso.
4 — Dilma Rousseff foi
vaiada num estádio onde a meia-entrada custou R$ 28,50 (nove passagens de
ônibus a R$ 3,20.)
5 — O cartola Joseph
Blatter, presidente da Fifa, mandarim de uma instituição metida em ladroeiras,
achou que podia dar lição de moral aos nativos. (A Viúva gastará mais de R$ 7
bilhões nessa prioridade. Só no MaracanãX, torraram R$ 1,2 bilhão.)
6 — A repórter
Fernanda Odilla revelou que o Itamaraty achou pequena a suíte de 81m2 do hotel
Beverly Hills de Durban, na África do Sul, e hospedou a doutora Dilma no
Hilton. (Por determinação do Planalto, essas informações tornaram-se reservadas
e, a partir de agora, só serão divulgadas em 2015.)
7 — A cabala para diluir
as penas dadas aos mensaleiros que correm o risco de serem mandados para o
presídio do Tremembé vai bem, obrigado. O ministro Dias Toffoli, do STF, disse
que os recursos dos réus poderão demorar dois anos para ir a julgamento.
Para completar uma lista
de dez, cada um pode acrescentar mais três, ao seu gosto.
Eu não acrescentarei nada à lista, mas reputo como a grande
causa das manifestações o item 7, que mostra as declarações do Ministro Dias
Toffoli, de que o Zé Dirceu poderá ficar livre por mais 2 anos. Com esta, até
eu pensei em ir para as ruas, mas estava sozinho. Agora não mais e hoje irei
(embora com cautela) à passeata no Recife pedindo prisão para os mensaleiros.
Quem parece concordar comigo, generalizando a causa, é o
imortal Merval Pereira que aposta na corrupção como a causa, num texto
publicado no O Globo em 19/06/2013, intitulado “Corrupção é o foco”, e que transcrevo abaixo. E eu pergunto: Houve
na história deste país um fato que envolvesse mais corrupção do que o
mensalão? Fiquem com o imortal que eu
vou tentar não morrer na passeata.
“Mesmo que as reivindicações sejam várias e muitos cartazes exibam
anseios mal explicados ou utopias inalcançáveis, há um ponto comum nessas
manifestações dos últimos dias: a luta contra a corrupção.
A vontade de que o dinheiro público seja gasto com transparência e que
as prioridades dos governos sejam questões que afetam o dia a dia do cidadão,
como saúde, educação, transportes, está revelada em cada palavra de ordem, até
mesmo nas que parecem nada ter a ver com o fulcro das reivindicações, como no
protesto contra a PEC 37.
Nele está contido o receio da sociedade de que, com o Ministério
Público impedido de investigar, o combate à corrupção seja prejudicado. Todas
as questões giram em torno do dinheiro público gasto sem controle, como nos
estádios da Copa do Mundo, todos com acusações de superfaturamento.
O dinheiro que sobra para construção de “elefantes brancos” falta na
construção de hospitais ou sistemas de transportes que realmente facilitem a
vida do cidadão.
O mundo político está de cabeça para baixo tentando digerir as
mensagens que chegam da voz rouca das ruas, como dizia Ulysses Guimarães, que
dizia também que “a única coisa que mete medo em político é o povo na rua”.
Ninguém entende, por exemplo, por que houve esse verdadeiro estouro da
boiada agora, e não há um mês ou mesmo há um ano.
Tenho um palpite: assim como as manifestações na Tunísia, as primeiras
da Primavera Árabe, começaram com o suicídio de Mohamed Bouazizi, de 26 anos,
vendedor ambulante que ateou fogo ao corpo depois de proibido de trabalhar nas
ruas por não ter documentos nem dinheiro para pagar propinas aos fiscais, as
manifestações aqui foram grandemente impulsionadas pela reação violenta da
polícia em SP semana passada.
O movimento contra o aumento das passagens de ônibus poderia não ter a
amplitude que ganhou se não houvesse uma reação nas redes sociais à atitude da
polícia, como se todos sentissem a opressão do Estado na sua pele, e de repente
liberassem os diversos pleitos que estavam latentes na sociedade.
Creio que foi a partir do entendimento de que uma reivindicação justa
como a da redução das tarifas de ônibus estava sendo tratada simplesmente como
um pretexto para arruaças e vandalismos que a sociedade passou a se mobilizar
para ampliar suas reivindicações.
Isso nada tem a ver com comparações entre as mobilizações que ganham as
principais cidades do país e a Primavera Árabe, pois estamos em uma democracia
e não se trata de derrubar governos, mas de mudar a maneira de geri-los,
política e administrativamente.
E também não é possível considerar que os abusos de um dia impedem as
polícias de reprimir a parte radicalizada das manifestações, que vandaliza
cidades ou tenta invadir prédios públicos ou residências das autoridades.
Creio mesmo que no Rio e em São Paulo as autoridades ficaram
paralisadas diante da violência de parte dos manifestantes e não agiram com o
rigor devido nessas ocasiões. O que demonstra falta de bom senso.
Um detalhe que define bem a divisão desses movimentos foi o grupo de
jovens que foi ao Centro do Rio ontem tentar limpar e consertar em parte o que
os vândalos fizeram no dia anterior.
E em São Paulo, em frente ao Palácio dos Bandeirantes, enquanto um
grupo tentava derrubar o portão de entrada, outros o recolocavam no lugar.
O ambiente econômico também deve ter contribuído para quebrar aquela
falsa sensação de bem-estar. E é impressionante que o imenso aparato de
informações de que cada governo dispõe, especialmente a Presidência da
República, e as pesquisas de opinião não detectaram a indignação que explodiu
nas ruas.
O dono de um desses institutos de opinião que vende seus serviços para
o PT, e acrescenta a eles, como um bônus, comentários em revistas
chapas-brancas, chegou a ironizar as oposições e analistas que criticavam o
governo, afirmando que viviam em uma realidade paralela, que nada tinha a ver
com a vida do cidadão comum, que estava muito satisfeito. Segundo ele, não
havia sinal de mudança de ventos que suas pesquisas pudessem captar.
Também o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da
Presidência, que anunciou que “o bicho vai pegar”, parece estar atordoado com o
bicho novo que está pegando sem que ele ou o PT dominem a situação.”
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