Por Carlos Sena (*)
Tem dias que a gente fica
pensando sobre o óbvio como a salvação da alma, ou não. Todos temos medo do
desconhecido e a morte, a despeito de ser a coisa mais certa da vida, permanece
em nós em forma de acontecimento que a gente se engana pra poder viver mais
feliz ou menos angustiado. Esse é um terreno fértil para o mercado da fé:
pastores e padres mal intencionados entram feito a faca no queijo nesse filão
financeiro à custa da insegurança das pessoas incautas; pessoas geralmente
fragilizadas pela vida em suas estruturas comportamentais maiores. Esse é o
terreno fértil para as igrejas, religiões e seitas, deitarem e rolarem
prometendo o céu. Quem mais se utilizou da fragilidade humana de forma
dominadora foi a igreja católica. Ela sempre fez questão de dizer aos fiéis em
suas homilias, que o céu é o prêmio, ou seja, induzia muitos fiéis a sofrer com
resignação, muitas vezes um sofrimento que não era obra divina, mas das
políticas humanas de exploração do homem pelo homem, mesmo dentro das igrejas.
Hoje o céu continua como prêmio.
Os evangélicos de há muito pregam que estão salvos, mas não querem morrer. Os
pentecostais decretam guerra contra a felicidade no varejo, condenando no
grosso os processos sociais que eles julgam em desacordo com “deus”... Atacam
os gays, são contra o aborto, a camisinha, etc., mas são incapazes de socorrer
a fome dos mais pobres. As ações da maioria dos que se dizem religiosos
acontece dentro das igrejas – verdadeiras “igrejinha” em prol da “legião da boa
vantagem”... Prometer o céu é fazer terror com o inferno. Prometer o céu é
vender Deus com o marketing do diabo, do capiroto, do demo, do cadeirudo. Em
nome do céu como prêmio, todo tipo de chantagem emocional se reproduz em nome
de “manto sagrado”, “água benta”, “felpa da cruz de Cristo”, “manto sagrado
vendido em forma de chaveiro”, “cuspe de cristo dentro de frasco vendido como
se fosse”, afora dízimos, trízimos e taxas de casamento, batizado, crisma,
encomenda de defuntos, toque de sino, e o diabo a quatro para atormentar o
resto da vida.
Vende-se o céu como prêmio. Em
nome do prêmio conduzem pessoas a não fazer o que tem vontade, o que o corpo
pede em forma de prazer, por conta do pecado. Simples: se Deus fosse se
incomodar com nossos pecados ele, certamente, não teria o que fazer em outros
mundos mais evoluídos. Resta-nos indagar: e se não houver céu? Se não houver
céu, particularmente eu terei tido meu céu na própria terra. Eu fiz tudo que
quis e o que não quis mantendo o respeito aos meus semelhantes, mas acreditando
que a vida por ser curta, não que de nós visão mesquinha, maniqueísta, dominada
por fanáticos que, por serem incompetentes para ser um profissional liberal de
sucessos, vão ser pastores, ou padrecos de quinta. Nesse viés de vender o céu
como prêmio, a Igreja católica só perde mesmo para os pentecostais, os
fundamentalistas que vivem do fanatismo e da exploração da miséria alheia.
Portanto, quem quiser ser feliz
seja. Só que a felicidade não se atrela às religiões que vivem metendo medo no
povo para que o povo não pratique o sexo que lhe dê prazer e coisas do gênero.
Porque é muito bom que se compreenda que a maioria dos pastores leva vida
diferente daquela que pregam aos seus seguidores. Algo como “faça o que em
mando mas não faça o que eu faço”... Isso se chama falso moralismo deslavado.
Pastores e padres que vivem em saunas gays, mas condenam nas suas homilias o
que eles durante o dia praticam. Portanto, quando você bater a caçoleta e, se
por acaso, não houver céu, o que você irá fazer? Certamente nada, porque você
também nem saberá a diferença. Então, melhor fazer o céu aqui mesmo e deixar
que os demônios sejam o marketing das igrejas, porque nem eles mesmas viveriam
sem satanás que é o seu mascote – aquele que mais os ajuda a pregar o céu como
prêmio e o inferno como meta dos fracos aqui na terra.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 25/04/2013
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