Por Carlos Sena (*)
O dia das mães e meio piegas.
Apenas meio. Isso por conta da exploração comercial, mas que termina tendo
outros efeitos que vão no "pacote" de presente que os filhos dão às
suas mães. O afeto não tem endereço certo e, certamente, não seria no dia das
mães que se perderia pelas avenidas despudoradas, violentas das nossas cidades.
Mãe só tem mesmo uma, embora pais
existam vários. Quando o filho é bonito, olhos claros, todos querem ser pai.
Para as mães, não. Todo filho é lindo. Mãe? Mãe é como expressão digital que
não existem duas. É como os mistérios da santíssima trindade que bem poderiam
ser quatro; mãe é um não sei que de certezas que em cada incerteza dos filhos
ela se define pelo acerto. Mãe consegue falar sem palavras e dizer pelo
exemplo. Consegue, por exemplo, ser singular na pluralidade dos filhos, embora
nem todos os filhos tenhas plural de almas para compor dentro deles esse
"kit" de sobrevivência chamado mãe. Mãe sente e consente, fala
verdade e até mente, se mentir for a sina de não trocar amor por capricho; não
trocar amor por ardor. Mãe verte, mas adverte e converte: grosseria de filho em
imaturidade juvenil; dias de chuva em atmosfera caseira com direito a colo e
pipoca no sofá da sala; converte solidão de final de semana em retiro
espiritual ou em oportunidades de orar mais intensamente pelo filho que se foi
ou por aquele que se perde nas baladas da noite. Quando verte lagrimas
dificilmente o faz para os filhos verem, pois o canto matinal, o acalanto das
cantigas de ninar não podem ser traídos por momentos de fragilidade. Fragilidade! As mães nem sempre vivem dias
de Nossa Senhora e se perdem nas suas vulnerabilidades humanas. Fraquejam, claudicam,
mas não demoram muito e logo, como que conversando com Deus se fortalecem.
Porque mãe "dobra mas não quebra", utilizando o jargão popular.
Mãe é arte divina. Filho é o
divino da arte. Mãe é sim, filho muitas vezes é não. Mãe põe e filho dispõe e
nalgumas vezes opõe. Mãe cala para consentir, filho consente para poder falar.
Mãe fala mesmo sabendo que nem todos os filhos escutam... Mãe talvez seja o ser
mais feliz da terra, já nos lembrava isso o poeta Cazuza : "só as mães são
felizes" ele dizia. Talvez porque mãe é LUZ e os demais seres humanos são
lâmpadas. Luz que vem do sopro que conduz a vida que Deus outorgou só às mães.
Por isso, a despeito de quaisquer
exploração do comercio pelo dia das mães, o lado do afeto fica estabelecido e,
quem sabe, não serve para alguns filhos ingratos refletirem mais sobre suas
mães por eles esquecidas?
Eu tenho a minha. Tá pouquinha
fisicamente, mas permanece grande e comovente. A foto de cima é dela, comigo.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 08/05/2013
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